247 – A trajetória de Tereza Cruvinel atravessa ditadura militar, luta estudantil, periferias da Baixada Fluminense, fundação do PT, grandes redações da mídia corporativa e a construção – e destruição – da TV pública brasileira. Em uma longa conversa com Hildegard Angel, no programa “Conversa com Hildegard Angel: Bastidores, política e coragem de dizer tudo, com Tereza Cruvinel”, disponível na TV 247, ela costura memórias pessoais e análises contundentes sobre a imprensa, a esquerda e o Brasil de hoje.
A entrevista, conduzida por Hildegard Angel, leva Tereza a revisitar desde os tempos de militância clandestina até a “frigideira” nas Organizações Globo, passando pela criação da EBC, pela ofensiva midiática contra o presidente Lula e pelo golpe de Estado contra Dilma Rousseff, além dos dilemas atuais da mídia progressista e da comunicação pública.
<h2>Memórias de militância: juventude, ditadura e clandestinidade</h2>
Tereza lembra que começou a organizar suas memórias “aos pingos”, em capítulos, a partir de diferentes fases da vida: o movimento estudantil dos anos 1970, a luta contra a ditadura, a vida na clandestinidade, o trabalho na Baixada Fluminense e a formação do PT.
Ela conta que, ainda muito jovem, foi lançada à clandestinidade quando militantes da Convergência Socialista — “os últimos torturados da ditadura”, como ela diz — foram presos em Brasília. A direção da organização determina que ela não volte à capital:
<blockquote>&nbsp;“Você não volta para Brasília porque eles devem ter falado de você. Você vai ser presa também, torturada também… Fica aqui.”</blockquote>
Tereza então perde o emprego no IPEA, “demitida a bem do serviço público como subversiva”, e entra em fase de vida clandestina no Rio de Janeiro:
<blockquote>&nbsp;“Eu fiquei aqui um período de clandestinidade num apartamento, no Jardim Botânico, aos pés do Cristo Redentor. Eu achava aquela coisa mais linda, mas eu não podia sair na rua, né? Tava lá de molho num apartamento.”</blockquote>
Desse período nasce também uma história pessoal: um companheiro que levava jornais, notícias e fazia a ponte com o mundo “de fora” acaba se tornando seu companheiro de vida.
<h2>Baixada Fluminense: “exílio de classe” e semente do PT</h2>
Após passagens por abrigos de militantes em Teresópolis e em um sítio em Macaé, Tereza é enviada com outros companheiros para a Baixada Fluminense, em Nova Iguaçu, para “abrir frente operária”:
<blockquote>&nbsp;“Nós vamos para a Baixada Fluminense, abrir uma frente operária lá e tal. Aí vamos para Nova Iguaçu.”</blockquote>
Ali, ela descobre que a realidade era bem diferente do ABC paulista: poucas fábricas, muita pobreza e quase nenhuma estrutura cultural ou estudantil. Ao falar dessa experiência, Tereza cunha uma expressão forte:
<blockquote>&nbsp;“Eu chamava isso assim, exílio de classe, que é você sair de sua classe social, no caso a classe média mais urbana, e ir viver na periferia com pessoas bem mais pobres… É muito difícil esse tal de exílio de classe.”</blockquote>
Na Baixada, em vez de um forte “proletariado industrial”, ela encontra uma juventude sem espaços de cultura. A solução foi inventar esses espaços:
<blockquote>&nbsp;“Eu criei uma história chamada Movimento Cultural de Nova Iguaçu. (…) A gente criou, por exemplo, um cineclube ambulante… Cada sábado vai passar um filme num bairro pobre.”</blockquote>
Com rolos de filme emprestados da Embrafilme e projetores cedidos, eles exibiam clássicos como Deus e o Diabo na Terra do Sol e O Bandido da Luz Vermelha em praças, igrejas e salões comunitários, além de organizar festivais de poesia.
Ao mesmo tempo, sob a proteção do bispo Dom Adriano Hipólito, ajudavam a organizar movimentos contra a carestia e associações de moradores:
<blockquote>&nbsp;“Dom Adriano era o grande protetor da gente. (…) Ele acolhia perseguidos de várias organizações de esquerda.”</blockquote>
Foi também na Baixada que Tereza ajudou a construir os primeiros núcleos do PT:
<blockquote>&nbsp;“Nós fundamos os núcleos do PT, os primeiros diretórios do PT… em Nova Iguaçu, Mesquita, Nilópolis, Caxias da Baixada Fluminense.”</blockquote>
<h2>As quatro correntes que fundaram o PT</h2>
Na entrevista, Tereza oferece uma síntese histórica da fundação do Partido dos Trabalhadores, apontando quatro “troncos” principais:
<ol>
 <li>&nbsp;Lula e os sindicalistas, emergindo das grandes greves do ABC;</li>
 <li>&nbsp;As comunidades eclesiais de base da Igreja Católica, articuladas por figuras como Gilberto Carvalho;</li>
 <li>&nbsp;Os intelectuais, incluindo nomes como Florestan Fernandes, Marilena Chauí e Maria da Conceição Tavares;</li>
 <li>&nbsp;Organizações clandestinas de esquerda, entre elas o MEP, a Convergência Socialista (da qual Tereza fazia parte), a tendência O Trabalho e grupos da luta armada.</li>
</ol>
<blockquote>&nbsp;“Nossa organização foi uma das mais importantes aqui nesse grupo.”</blockquote>
Ela lembra que parte dos intelectuais, como Fernando Henrique Cardoso, preferiu permanecer no PMDB ao não vingar a ideia de um partido socialista “à moda europeia”, enquanto outros seguiram com Lula para o PT.
<h2>Do sonho revolucionário ao reformismo possível</h2>
Tereza é direta ao dizer que, naquele período, o objetivo da militância não era apenas derrubar a ditadura:
<blockquote>&nbsp;“Nós queríamos a revolução. (…) Derrubar a ditadura era um passo importante para depois investir na luta de classes… que isso nos levasse a uma revolução socialista.”</blockquote>
Hoje, ela contrasta aquele horizonte com o programa atual do presidente Lula, que ela define como um programa mínimo, reformista, voltado a direitos básicos:
<blockquote>&nbsp;“O Lula faz a justiça social. (…) Ele quer que as pessoas tenham direito à comida, um salário mais digno, que os filhos possam ir para a universidade. (…) Não tem nada de comunista, de revolucionário, nem de socialista nisso. É um programa mínimo.”</blockquote>
Apesar disso, Temer, o Congresso e as elites tratam até esse programa mínimo como ameaça, barrando reformas tributárias, taxação dos mais ricos e avanços distributivos. Ela sublinha que mesmo medidas moderadas, como a isenção do Imposto de Renda até 5 mil reais, enfrentam guerra feroz.
<h2>Evangélicos, crime e o vácuo deixado pela esquerda nas periferias</h2>
Um ponto central da reflexão de Tereza é a retirada da esquerda das periferias e o avanço das igrejas neopentecostais e do crime organizado como “provedores” onde o Estado não chega:
<blockquote>&nbsp;“A esquerda tinha esse assentamento nas periferias, que foi deixando de ter. (…) Quem ocupou o espaço? Os evangélicos. (…) Eles passaram a representar o Estado, a fazer aquilo que o Estado deveria fazer.”</blockquote>
Ela descreve um cotidiano em que igrejas conseguem médico, emprego, óculos, ajuda material, repetindo uma lógica que antes também era preenchida pelo crime em algumas favelas. E aponta inclusive a associação entre igrejas e grupos criminosos em certos territórios, num fenômeno ainda pouco conhecido em profundidade pela sociedade.
<h2>Da página nobre do Globo à frigideira</h2>
Tereza entrou no jornal O Globo em 1983, no contexto da abertura política, e se tornou uma das principais colunistas políticas do país, ocupando a página 2 do jornal e comentando na GloboNews. Ela lembra que aquele período pós-ditadura foi mais plural na imprensa:
<blockquote>&nbsp;“Foi um período bom para a imprensa. Os jornais eram mais abertos, não tinha perseguições internas, tinha pluralismo.”</blockquote>
Ela cita o exemplo de Franklin Martins — ex-militante da luta armada e participante do sequestro do embaixador dos EUA — que se tornou comentarista do Jornal Nacional, e outros jornalistas com passado de esquerda que foram acolhidos nas redações.
Tudo muda, porém, com a chegada de Lula à Presidência em 2003 e, sobretudo, com o chamado “mensalão” em 2005:
<blockquote>&nbsp;“A imprensa começa a fazer jornalismo de guerra quando o Lula chega à Presidência. (…) 2005 é um marco: agora é a oportunidade. Vamos mostrar que esse PT é corrupto, que esse Lula não vai se reeleger.”</blockquote>
As divergências de Tereza com a linha dominante dentro do Globo se agravam. Ela conta que sua coluna muitas vezes destoava da “matéria política do dia” e que seus comentários na GloboNews eram contestados por Merval Pereira e às vezes por Mônica Waldvogel.
Além da pressão interna, vinha o bombardeio externo: ataques de colunistas como Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi, colunas hostis na Folha de S.Paulo e patrulha constante:
<blockquote>&nbsp;“Eu caí na frigideira. (…) Minha situação era muito insustentável. Sofria ataques internos e externos.”</blockquote>
<h2>O jantar com Lula que virou escândalo midiático</h2>
Um episódio simbólico dessa “frigideira” foi o famoso jantar com o presidente Lula em sua casa, em Brasília. A ideia, conta Tereza, surgiu de um bilhete em que ela sugeria que Lula melhorasse a relação com a imprensa, promovendo encontros informais, como fazia Fernando Henrique.
O recado chega ao presidente, que liga pessoalmente para ela e propõe um jantar com jornalistas — na casa de Tereza:
<blockquote>&nbsp;“Ele falou: ‘Assim que eu chegar da Índia nós vamos marcar. Eu quero que seja na sua casa, não quero ir lá no Alvorada’.”</blockquote>
Veículos hesitam. O Globo se recusa a pagar o jantar, a Folha inicialmente proíbe seus jornalistas de irem porque o evento seria “na casa da colunista do Globo”, e Tereza conta com ajuda do restaurateur Marco Aurélio, que doa vinhos e ajuda no menu.
O encontro é longo, informal, sem cobertura imediata porque termina de madrugada. Mas, dois dias depois, o foco da mídia não é o conteúdo político da conversa:
<blockquote>&nbsp;“Foi um festival. (…) Criticaram o fato de o jantar não ser no Alvorada, mas na casa de uma colunista ‘amistosa’ do Globo. (…) Diziam que eu tinha reservado para mim o lugar à direita do presidente.”</blockquote>
Como se não bastasse, logo depois explode o caso Valdomiro, primeiro grande escândalo do governo Lula, e o contexto político se torna ainda mais hostil. O jantar passa a ser usado como munição para acusar proximidade excessiva da colunista com o governo. Tereza resume:
<blockquote>&nbsp;“O investimento do jantar foi para o ralo.”</blockquote>
<h2>Mensalão, Lava Jato, golpe de Estado contra Dilma e prisão de Lula</h2>
Na leitura de Tereza, o “mensalão” foi o ponto de virada em que a mídia tradicional assumiu abertamente um objetivo político: destruir o PT e impedir a reeleição de Lula. Ela lembra o uso abusivo da “teoria do domínio do fato” na Ação Penal 470 e critica a distorção de um caso que, na sua visão, era de caixa dois eleitoral, tal como praticado por outros partidos.
Ela relembra a frase de Lula — “o PT fez o que todos os partidos fazem” — e como ela foi utilizada contra o presidente, justamente por dizer uma verdade inconveniente.
Tereza enxerga nessa sequência — mensalão, Lava Jato, demonização de Lula e do PT — a preparação do terreno para o golpe de Estado contra Dilma Rousseff em 2016 e para a prisão de Lula em 2018, exemplos clássicos de lawfare:
<blockquote>&nbsp;“A direita sempre ganha na violência política. (…) 2016, a derrubada da Dilma com pseudo impeachment, aquilo é violência política.”</blockquote>
Ela observa que o próprio Judiciário, que foi “cruel” em 2012, acabou revertendo parte do estrago anos depois, ao reconhecer a parcialidade de Sérgio Moro e anular condenações, em grande medida porque havia percebido o monstro que ajudara a criar com Jair Bolsonaro.
<h2>Mídia independente, “blogs sujos” e o papel do Brasil 247</h2>
Hildegard provoca Tereza sobre o preconceito da mídia corporativa em relação aos veículos progressistas, tratados como “refugo” da grande imprensa. Tereza responde defendendo o papel histórico da mídia independente:
<blockquote>&nbsp;“A mídia independente cumpriu um papel muito importante, a mídia digital independente. (…) As mídias independentes digitais foram fundamentais na resistência ao bolsonarismo.”</blockquote>
Ela lembra que, no início, jornalistas espurgados das grandes redações criaram blogs progressistas, logo carimbados pela direita como “blogs sujos”. Alguns se consolidaram como portais robustos, como o Brasil 247, o GGN, a Revista Fórum, o DCM e outros.
Mesmo assim, o preconceito e o problema do financiamento persistem. Tereza destaca que a publicidade oficial reserva apenas “migalhas” para a mídia independente, enquanto despeja grandes volumes nas corporações tradicionais. E critica fake news sobre supostos privilégios, como a lenda de que o 247 “ganharia dinheiro do Google”, hoje objeto, lembra ela, de ação judicial de Leonardo Attuch contra um jornalista que disseminou essa mentira.
<h2>TV pública, EBC e a destruição promovida por Temer</h2>
Uma parte importante da entrevista trata do livro de Tereza sobre a EBC e a TV pública. Ela lembra que foi convidada por Franklin Martins e pelo próprio presidente Lula para ser a primeira presidente da EBC, após anos na frigideira no Globo.
No cargo, liderou a criação da TV Brasil Internacional, canal público brasileiro distribuído em dezenas de países:
<blockquote>&nbsp;“Eu criei o canal TV Brasil Internacional, que eu coloquei em 40 países.”</blockquote>
Esse projeto foi brutalmente interrompido após o golpe de Estado contra Dilma e a chegada de Michel Temer ao poder, com intervenção e fechamento do canal internacional:
<blockquote>&nbsp;“Esse canal depois foi fechado pelo Temer. Agora estão tentando recriar.”</blockquote>
Tereza insiste que o futuro da comunicação pública depende de decisão política e de investimento, especialmente num eventual segundo mandato do presidente Lula. Ela fala em cobertura nacional efetiva, rede estruturada e uma presença internacional consistente, que vá além de versões tímidas do que já foi feito.
<h2>Eleições de 2026, Donald Trump e a interrogação sobre a mídia</h2>
Já olhando para a frente, Tereza manifesta preocupação com o cenário eleitoral de 2026. Ela lembra como em 2006 a mídia corporativa fez “de tudo” para impedir a reeleição de Lula, explorando até o caso dos “aloprados” com uso massivo de imagens de dinheiro nas TVs na véspera da votação.
<blockquote>&nbsp;“A cruzada da mídia corporativa era o quê? Não deixar esse cara se reeleger.”</blockquote>
Agora, ela vê um contexto ainda mais complexo, com redes sociais, algoritmos e máquinas profissionais de fake news, além da mídia tradicional. Tereza observa que o presidente Lula, hoje, precisa equilibrar também a relação com Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos, e questiona se as elites locais e o imperialismo americano aceitarão pacificamente uma nova reeleição do líder brasileiro:
<blockquote>&nbsp;“Ano que vem, as elites locais e o próprio imperialismo americano vão deixar o Lula se reeleger?”</blockquote>
Para ela, o comportamento da mídia em 2026 é uma grande incógnita:
<blockquote>&nbsp;“Ano que vem vai ser, eu acho, pior, mais difícil do que 2006. A mídia vai se comportar como em 2006 ou vai tentar ser profissional de verdade?”</blockquote>
<h2>Entre passado e futuro: a voz de duas “velhas jornalistas jovens”</h2>
Hildegard encerra a conversa definindo Tereza como “um ativo importante da mídia brasileira”, enquanto as duas brincam com a ideia de um “canal das inabilitadas” para empreender na internet. Tereza, por sua vez, valoriza a existência de veículos progressistas como o Brasil 247 e a persistência do público que os apoia com assinaturas e pequenas contribuições:
<blockquote>&nbsp;“Acho que esse é um fenômeno muito importante. (…) Não sei qual é o futuro das mídias digitais independentes, mas elas cumpriram e cumprem um papel relevante.”</blockquote>
Entre memórias da Baixada Fluminense, a lembrança dos companheiros que tombaram na luta armada, os embates com a Globo, a destruição da EBC por Temer e a disputa de narrativas em torno de Lula e do golpe de Estado contra Dilma, Tereza Cruvinel mostra que sua história pessoal é, também, um capítulo denso da história recente do Brasil — e um alerta sobre o que pode estar em jogo nas próximas eleições.
No livro que acaba de lançar sobre a guerra em torno da TV pública e na entrevista a Hildegard Angel, Tereza continua fazendo o que sempre fez: contando a história, chamando as coisas pelo nome e lembrando que, sem memória e sem crítica, o campo democrático corre o risco de ser atropelado, de novo, pela violência política e pela máquina de mentiras que se constrói, todos os dias, a partir da mídia e do poder.
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Redação Brasil 247

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Entrevistas

Da luta contra a ditadura à guerra de narrativas: Tereza Cruvinel expõe bastidores da mídia e da política

247 - No programa 20 Minutos, exibido no canal Opera Mundi, a jornalista Tereza Cruvinel relembrou os bastidores da criação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e da TV Brasil, em 2007, durante o segundo governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Cruvinel, primeira presidente da estatal, lançou recentemente o livro Memória de um desafio: a guerra da TV pública e a criação do sistema EBC, no qual reconstitui os embates políticos, econômicos e midiáticos que marcaram a fundação da emissora.
A entrevista conduzida por Breno Altman destacou como o projeto, idealizado para ser autônomo em relação ao governo e independente do mercado, enfrentou resistência de partidos de oposição e dos grandes conglomerados privados de mídia. Segundo Cruvinel, seu objetivo ao publicar a obra é registrar a história da radiodifusão pública no país e oferecer subsídios para gestores e pesquisadores.
<h3>A batalha política pela criação da TV pública</h3>
Cruvinel relembrou que a primeira grande vitória da EBC foi a aprovação no Congresso Nacional da medida provisória que criou a empresa, em meio a forte resistência da oposição. “Eles diziam que iriam enterrar a TV pública, que era inconstitucional. Vencemos porque havia um grande momento político, com Lula reeleito e popularidade em alta”, afirmou.
Além da disputa parlamentar, a jornalista destacou o que chama de “bullying midiático” contra a proposta. Grandes grupos privados de comunicação reagiram duramente à criação de um sistema público, acusando o governo de tentar controlar a informação. Para Cruvinel, essa resistência se explica pelo atraso histórico do Brasil na implantação de uma televisão pública, ao contrário de países europeus, onde emissoras como BBC (Reino Unido) e RAI (Itália) foram pioneiras.
<h3>Orçamento e dificuldades estruturais</h3>
Outro ponto central abordado foi a dificuldade de financiamento. A EBC chegou a contar com a Contribuição para o Fomento da Radiodifusão Pública (CFRP), criada pelo Congresso a partir de recursos do setor de telecomunicações. No entanto, segundo Cruvinel, boa parte desses valores foi retida pelo Tesouro. “Eu esperava que quando o dinheiro fosse liberado seria para montar a rede nacional da TV Brasil. Mas nunca chegou”, lamentou.
A jornalista lembrou ainda que a falta de uma rede nacional de transmissão continua sendo um dos principais entraves da TV pública. “Podemos fazer uma programação de qualidade, mas se não chega à população, não cumpre sua função”, disse, citando alerta feito por José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, durante os primeiros anos da EBC.
<h3>Intervenções políticas e desmontes</h3>
Cruvinel relatou também os efeitos das intervenções posteriores, especialmente durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro. No caso de Temer, criticou a alteração da lei que garantia mandatos à diretoria e a extinção do Conselho Curador. Já no governo Bolsonaro, denunciou a fusão da TV Brasil com o canal governamental NBR, além de episódios de censura e aparelhamento. “Ele transformou a emissora em instrumento político, militarizou a gestão e desmontou o caráter público do sistema”, afirmou.
<h3>A decisão pessoal e o legado</h3>
Questionada sobre sua saída da mídia privada para assumir a presidência da EBC, Cruvinel contou que foi a escolha mais difícil de sua vida profissional. Após 23 anos no jornal O Globo e uma década como comentarista da GloboNews, ela trocou uma carreira consolidada por um projeto considerado arriscado. “Muitos disseram que eu era louca. Mas eu não me arrependo, porque era um passo necessário para enfrentar o oligopólio da comunicação no Brasil”, declarou.Para ela, o legado da EBC permanece vivo, especialmente pelo acervo e pelas produções jornalísticas e culturais criadas nos primeiros anos. Entre os momentos mais marcantes, destacou a estreia do Repórter Brasil e a inauguração do canal internacional da TV Brasil, transmitido para 40 países.
<h3>O futuro da TV pública</h3>
Cruvinel defende que o sistema EBC ocupe papel central em uma estratégia nacional de democratização da comunicação, sobretudo diante dos desafios das fake news e da concentração midiática. “Precisamos de cidadãos críticos, vacinados contra a manipulação. Essa é a missão de uma TV pública”, afirmou.
Ela também aposta nas oportunidades trazidas pela tecnologia da TV 3.0, recentemente lançada no Brasil, que integra televisão aberta e internet. Para a jornalista, esse é um momento crucial para que o governo volte a investir na rede pública e garanta estabilidade institucional e legal à EBC.
O livro Memória de um desafio já está disponível em plataformas digitais e terá lançamentos presenciais em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. Assista:
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Dafne Ashton

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“Sem TV pública não há comunicação livre”, diz Tereza Cruvinel

247 – O livro <a href="https://www.amazon.com.br/Mem%C3%B3ria-Desafio-P%C3%BAblica-Cria%C3%A7%C3%A3o-Sistema/dp/655281027X/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&amp;crid=1KGSDXJFBOFAW&amp;dib=eyJ2IjoiMSJ9.-UuZ5qZtDCQQLdQZbiBThQ.BHELpdcTOea-WbPdq2TArC9eqNab7aqs0s7EnF-OEJA&amp;dib_tag=se&amp;keywords=memoria+desafio+tereza+cruvinel&amp;qid=1759656796&amp;sprefix=memoria+desafio+tereza+cruvinel%2Caps%2C200&amp;sr=8-1&amp;ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6d798eae-cadf-45de-946a-f477d47705b9">“Memória de um Desafio – A guerra da TV pública e a criação do sistema EBC” (compre aqui)</a>, de Tereza Cruvinel, é uma obra essencial para compreender um dos capítulos mais relevantes e pouco documentados da história da radiodifusão pública no Brasil. Publicado pela Tagore Editora, o livro será lançado no dia 7 de outubro, às 18h, na sede da ABI, no Rio de Janeiro, e combina memória, depoimento e reflexão sobre mídia, democracia e o papel da comunicação públicaTereza Cruvinel, uma das jornalistas políticas mais respeitadas do país, narra o período entre 2007 e 2011, quando foi a primeira presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e conduziu a criação da TV Brasil.&nbsp; O projeto nasceu de uma proposta apresentada pelo então ministro da Cultura Gilberto Gil e ganhou força com o compromisso do presidente Lula, que o confiou a Franklin Martins, ministro-chefe da Secom. A convite de ambos, Tereza assumiu o desafio de criar uma TV pública nacional, enfrentando obstruções no Congresso, resistência política e uma hostilidade midiática intensa, que ela denomina de “bullying midiático” <h2>A guerra da TV pública</h2> O livro mostra como a criação da EBC e da TV Brasil se tornou um campo de batalha entre o projeto de democratização da comunicação e as forças conservadoras que tentavam impedir seu avanço. A autora relembra o contexto político do segundo governo Lula, quando a imprensa comercial intensificou um “jornalismo de guerra”, buscando minar políticas públicas voltadas à pluralidade e à soberania informativa. Cruvinel e Franklin Martins, ambos vindos de carreiras bem-sucedidas na grande mídia, romperam com o modelo concentrado e parcial que dominava o cenário da comunicação brasileira <h2>Reflexões sobre democracia e desinformação</h2> Com a maestria de colunista política e o olhar de gestora pública, Tereza reconstrói a trajetória da EBC desde sua criação até os períodos de desmonte sob Michel Temer e aparelhamento sob Jair Bolsonaro, culminando na recente reconstrução sob o presidente Lula, que nomeou o jornalista André Basbaum para o comando da empresa. Mais do que uma memória institucional, o livro convida à reflexão sobre o papel da comunicação pública em tempos de desinformação digital, dominação algorítmica e colonização mental – desafios que ameaçam a democracia e tornam urgente a retomada desse debate. <h2>Um testemunho necessário</h2> Escrito em primeira pessoa, <a href="https://www.amazon.com.br/Mem%C3%B3ria-Desafio-P%C3%BAblica-Cria%C3%A7%C3%A3o-Sistema/dp/655281027X/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&amp;crid=1KGSDXJFBOFAW&amp;dib=eyJ2IjoiMSJ9.-UuZ5qZtDCQQLdQZbiBThQ.BHELpdcTOea-WbPdq2TArC9eqNab7aqs0s7EnF-OEJA&amp;dib_tag=se&amp;keywords=memoria+desafio+tereza+cruvinel&amp;qid=1759656796&amp;sprefix=memoria+desafio+tereza+cruvinel%2Caps%2C200&amp;sr=8-1&amp;ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6d798eae-cadf-45de-946a-f477d47705b9">“Memória de um Desafio”</a> mescla relato pessoal e análise política. Tereza compartilha bastidores, conflitos internos, disputas com o Conselho Curador e a resistência que enfrentou dentro e fora da mídia. Ao mesmo tempo, reconhece o caráter coletivo da construção da EBC, destacando a atuação de Franklin Martins, Helena Chagas, cineastas, acadêmicos e comunicadores que acreditaram na importância de um sistema público forte, plural e independente. Por tudo isso, o livro é leitura indispensável para jornalistas, estudantes, pesquisadores e todos os que se interessam pela comunicação pública como instrumento de cidadania e democracia. Em um momento de alta complexidade informacional, em que a disputa pelo sentido da verdade se torna central, Tereza Cruvinel oferece um testemunho lúcido e corajoso sobre o valor da comunicação como bem público e direito social. “Memória de um Desafio” – 207 páginas, R$ 67,00 – Tagore Editora. Lançamento: 7 de outubro, às 18h, na sede da ABI, Rua Araújo Porto Alegre, 71 – Centro do Rio  <figure><img src="https://cdn.brasil247.com/pb-b247gcp/swp/jtjeq9/media/20251005061032_3e0ec79ffafe1ce8bff5bf9d87d508cd7c1131b2c3af40f8f409a6716551118f.png" data-media-id="editor_2" data-image-id="20251005061032_3e0ec79ffafe1ce8bff5bf9d87d508cd7c1131b2c3af40f8f409a6716551118f" data-rendition-name="original" width="1364" height="2040" loading="lazy" alt="Memória de um Desafio, livro de Tereza Cruvinel"><figcaption>Memória de um Desafio, livro de Tereza Cruvinel(Photo: Reprodução)Reprodução</figcaption></figure>

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Mídia

Tereza Cruvinel lança livro fundamental sobre a batalha da EBC e a importância da comunicação pública

247 – Os jornalistas Leonardo Attuch, editor-chefe e fundador do portal Brasil247 e da TV247, e Tereza Cruvinel, colunista e comentarista política dos dois veículos, &nbsp;foram eleitos na votação promovida pelo portal <a href="https://www.portaldosjornalistas.com.br/" target="_blank">&nbsp;Jornalistas &amp; Cia</a>, especializado em assuntos da imprensa, &nbsp;para a escolha dos 100 profissionais da imprensa mais admirados do Brasil.
O prêmio reuniu inicialmente indicações de profissionais de comunicação de todo o Brasil, que apontaram 2.300 nomes para a competição popular. Dentre estes, por voto eletrônico direto, foram selecionados 236 nomes para disputar o segundo em que foram escolhidos os finalistas. Mais de 30 mil pessoas votaram para a escolha dos 100 jornalistas mais admirados do país. O evento de premiação acontecerá em São Paulo no dia 29 de setembro.
A lista completa pode ser conferida em <a href="https://www.jornalistasecia.com.br/Jornalistasecia2025/1522A/20/" target="_blank">https://www.jornalistasecia.com.br/Jornalistasecia2025/1522A/20/</a>.
Para Leonardo Attuch, a presença dele e de Tereza entre os 100 jornalistas mais admirados do país “confirma o profissionalismo e a credibilidade dos veículos 247 e da mídia digital independente”.
Tereza destaca o fato de profissionais de veículos independentes, como é o caso dela, de Attuch e outros mais, terem concorrido com colegas de veículos das grandes corporações de mídia do país, num sinal de que a Internet, apesar de seus efeitos colaterais, está proporcionando mais diversidade à paisagem midiática nacional.
<h3>A trajetória de Leonardo Attuch</h3>
Com uma carreira consolidada na imprensa brasileira, Leonardo Attuch iniciou sua trajetória em Brasília. Graduado em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB) em 1993, logo foi selecionado para o programa de jovens talentos do Estado de S. Paulo. Passou por veículos como Correio Braziliense, Veja, Exame, Estado de Minas e IstoÉ Dinheiro. Em 1997, tornou-se editor de Economia do Estado de Minas com apenas 25 anos. Em 2011, fundou o Brasil 247, consolidado como um dos principais veículos de imprensa com viés progressista do país. Em 2017, criou a TV 247, canal de vídeos no YouTube que reúne entrevistas, análises e debates sobre a política brasileira.
Com estas duas iniciativas, Attuch tornou-se um dos principais artífices da nova mídia digital independente e progressista, que atuou na resistência ao autoritarismo bolsonarista e apoiou a reconstrução nacional com Lula.
Nos últimos anos, Attuch ampliou sua atuação internacional. Em 2024, tornou-se colunista do portal chinês Guancha, onde escreve sobre política latino-americana e as relações Brasil–China. Em 2025, passou a publicar artigos também no portal argentino PIA Global, abordando geopolítica e os desafios do continente.
<h3>O legado de Tereza Cruvinel</h3>
Tereza Cruvinel, por sua vez, é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do Brasil. Nascida em 1956, no interior de Minas Gerais, formou-se em Jornalismo pela UnB, onde também concluiu mestrado em Comunicação Social. Sua trajetória começou nos anos 1980 e logo se destacou pelo olhar atento à política institucional e aos bastidores do poder.
Durante a ditadura Tereza militou no movimento estudantil e no grupo de resistência Convergência Socialista, viveu na clandestinidade e despertou para o jornalismo com o jornal alternativo Versus.
Após a democratização, trabalhou no Jornal de Brasília, Correio Braziliense e Jornal do Brasil. No O Globo, permaneceu por 24 anos, período em que se consolidou como uma das colunistas mais influentes do país. Em televisão atuou na Globonews, RedeTV e TV Brasil. Em 2007 deixou o grupo Globo para fundar a EBC a convite do presidente Lula, sedo sua primeira diretora-presidente. No Brasil 247, &nbsp;Cruvinel segue oferecendo seu olhar arguto, análises aprofundadas, críticas e sempre comprometidas com a democracia e a liberdade de expressão. Sua trajetória é marcada pelo engajamento, pela coerência ética e pela inteligência analítica, que continuam a inspirar leitores e profissionais da imprensa

Leonardo Attuch e Tereza Cruvinel estão entre os 100 jornalistas + admirados do Brasil

247 – Dois nomes centrais do jornalismo progressista brasileiro estão entre os indicados ao prêmio 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros, promovido pelo portal especializado Jornalistas &amp; Cia. O fundador e editor-responsável do Brasil 247, Leonardo Attuch, e a colunista política Tereza Cruvinel figuram entre os 246 profissionais selecionados para o segundo turno da votação, que elegerá os cem jornalistas mais admirados do país.&nbsp;
A escolha dos finalistas decorre de mais de 2,3 mil indicações feitas por jornalistas e assessores de imprensa de todo o Brasil. Agora, o <a href="https://pesquisa.portaldosjornalistas.com.br/pesquisa/100-admirados-jornalistas-brasileiros-2025-2o">público pode votar até o dia 11 de agosto</a>, escolhendo até cinco nomes entre os indicados. A votação definirá não apenas os 100 mais admirados, como também os 10 jornalistas mais reverenciados de 2025 e os cinco campeões regionais.
Para <a href="https://pesquisa.portaldosjornalistas.com.br/pesquisa/100-admirados-jornalistas-brasileiros-2025-2o">votar em Leonardo Attuch e Tereza Cruvinel</a>, acesse o site do prêmio no link abaixo:
<a href="https://pesquisa.portaldosjornalistas.com.br/pesquisa/100-admirados-jornalistas-brasileiros-2025-2o">Vote aqui para o prêmio 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros</a>
<h3>A trajetória de Leonardo Attuch</h3>
Com uma carreira consolidada na imprensa brasileira, Leonardo Attuch iniciou sua trajetória em Brasília. Graduado em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB) em 1993, logo foi selecionado para o programa de jovens talentos do Estado de S. Paulo. Passou por veículos como Correio Braziliense, Veja, Exame, Estado de Minas e IstoÉ Dinheiro. Em 1997, tornou-se editor de Economia do Estado de Minas com apenas 25 anos. Em 2011, fundou o Brasil 247, consolidado como um dos principais veículos de imprensa com viés progressista do país. Em 2017, criou a TV 247, canal de vídeos no YouTube que reúne entrevistas, análises e debates sobre a política brasileira.
Nos últimos anos, Attuch ampliou sua atuação internacional. Em 2024, tornou-se colunista do portal chinês Guancha, onde escreve sobre política latino-americana e as relações Brasil–China. Em 2025, passou a publicar artigos também no portal argentino PIA Global, abordando geopolítica e os desafios do continente.
<h3>O legado de Tereza Cruvinel</h3>
Tereza Cruvinel, por sua vez, é uma das mais respeitadas jornalistas políticas do Brasil. Nascida em 1956, no interior de Minas Gerais, formou-se em Jornalismo pela UnB, onde também concluiu mestrado em Comunicação Social. Sua trajetória começou nos anos 1980 e logo se destacou pelo olhar atento à política institucional e aos bastidores do poder.
Militante no movimento estudantil durante a ditadura militar, Tereza trabalhou na TV Brasília, Correio Braziliense, Jornal de Brasília e Jornal do Brasil. No O Globo, permaneceu por 24 anos, período em que se consolidou como uma das colunistas mais influentes do país. Depois disso, fundou a EBC e foi sua primeira presidente. No Brasil 247, onde atua como principal colunista política, Cruvinel segue oferecendo análises aprofundadas, críticas e sempre comprometidas com a democracia e a liberdade de expressão. Sua trajetória é marcada pelo engajamento, pela coerência ética e pela inteligência analítica, que continuam a inspirar leitores e profissionais da imprensa.
A indicação de Leonardo Attuch e Tereza Cruvinel ao prêmio 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros reconhece não apenas a trajetória exemplar de ambos, mas também o papel que o Brasil 247 exerce no cenário da comunicação independente e crítica no Brasil contemporâneo. A votação segue aberta até 11 de agosto.

Leonardo Attuch e Tereza Cruvinel, do Brasil 247, são indicados ao prêmio 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros; vote

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Leonardo Attuch e Tereza Cruvinel, do Brasil 247, são indicados ao prêmio 100 +Admirados Jornalistas Brasileiros; vote

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