Chile: candidatos da direita travam ‘batalha’ no primeiro turno das eleições presidenciais
Bloco conservador entra rachado no primeiro turno
247 - A corrida presidencial chilena entrou em sua fase mais turbulenta com a aproximação do pleito de 16 de novembro. Segundo reportagem publicada originalmente pela BBC News Brasil, o campo da direita enfrenta seu momento mais tenso em décadas, marcado pela forte competição entre seus principais nomes.
A direita chilena concentra hoje grande parte das intenções de voto no primeiro turno — e que o candidato mais bem posicionado do setor deve enfrentar a postulante governista, Jeannette Jara, do Partido Comunista, que lidera as pesquisas nacionais.
Bloco rachado entre Kast, Matthei e Kaiser
A disputa expôs abertamente o racha na direita. José Antonio Kast, do Partido Republicano; Evelyn Matthei, da coalizão Chile Vamos; e Johannes Kaiser, do Partido Nacional Libertário, avançam praticamente empatados, todos na faixa de 14% a 20% das intenções de voto. Essa margem estreita alimenta incertezas e aumenta a possibilidade de um resultado surpreendente.
Kast, mais bem colocado por meses, vem perdendo apoio recentemente. Kaiser, ao contrário, cresce de forma acelerada e já supera Matthei em alguns levantamentos. Analistas apontam que, somados, os três candidatos ultrapassam os 50% do eleitorado, enquanto Jara não chega a 30%.
Esse cenário explica a escalada de tensões. Matthei, que liderava até junho, afirma ser alvo de uma “campanha asquerosa” orquestrada por aliados de Kast para minar sua imagem e questionar sua saúde mental. A equipe do republicano rebateu criticando o passado político do grupo que apoia a ex-prefeita, especialmente durante o governo Sebastián Piñera.
Kaiser, por sua vez, acusa Kast de ceder à esquerda em agendas como a reforma constitucional. “Existe um novo divisor de águas na política chilena (…) e a direita está sofrendo este efeito”, declarou ele à BBC. Para o deputado, as divergências entre conservadores, liberais e ultraliberais tornaram-se incontornáveis.
Kaiser se consolida como a grande novidade
A ascensão de Johannes Kaiser, de 49 anos, é vista pelos especialistas como o principal fato novo da eleição. Deputado e estreante na disputa presidencial, ele dobrou sua intenção de voto no último mês.
Autodenominado libertário, inspirado no presidente argentino Javier Milei, Kaiser defende posições ultraconservadoras e propõe medidas radicais, como fechar a fronteira com a Bolívia, expulsar estrangeiros com antecedentes criminais e construir áreas de retenção para migrantes irregulares. “Aqueles que não pudermos reconduzir, vou tentar honestamente conversar com o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, para ver se nos cedem espaço naquela prisão do país”, afirmou.
Ele também propõe reformar o sistema judicial, reduzir o número de ministérios e retirar o Chile de acordos como o Acordo de Paris e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Para analistas, seu crescimento se deve a uma “transferência ideológica” de parte do eleitorado de Kast.
Kast aposta em discurso de ordem e emergência
Ex-deputado e veterano da direita, José Antonio Kast concorre à presidência pela terceira vez. Após perder para Gabriel Boric em 2021, consolidou-se como líder da direita radical e viu seu partido ganhar força. Em agosto, chegou a 28% nas pesquisas, mas perdeu terreno.
Sua campanha atual abandona temas ultraconservadores e foca em segurança, economia e migração. Propõe um “governo de emergência” para recuperar a ordem, reativar o crescimento e reforçar fronteiras. Entre suas promessas está um corte fiscal de US$ 6 bilhões em 18 meses, alvo de críticas tanto da direita tradicional quanto da esquerda.
Matthei tenta unir centro e centro-esquerda
Evelyn Matthei aposta em uma plataforma moderada e no diálogo entre diferentes correntes políticas. Seu esforço ganhou impulso após receber o apoio público de 102 figuras da centro-esquerda, incluindo o ex-presidente Eduardo Frei.
Ela promete governar com base em acordos e afirma estar cercada da “melhor equipe” para reunificar o país. Apesar disso, continua estagnada em terceiro lugar, fragilizada entre jovens e setores populares que priorizam segurança e migração e têm migrado para Kast e Kaiser.
Direitização global e crise interna fortalecem conservadores
A tendência vista no Chile reflete, segundo especialistas, um processo global de fortalecimento da direita, impulsionado por fenômenos como Javier Milei na Argentina, Jair Bolsonaro no Brasil e Donald Trump, atual presidente dos Estados Unidos.
Dentro do Chile, a criminalidade e a economia são prioridades nacionais. Esses temas favorecem candidatos de direita, enquanto o desgaste do governo de Gabriel Boric fortalece o movimento oposicionista e dificulta a tarefa de Jeannette Jara na disputa.
Conversas discretas sobre o segundo turno
A dias da votação, as campanhas de Kast, Matthei e Kaiser já mantêm conversações sobre um eventual pacto para unir o setor no segundo turno, previsto para 14 de dezembro. Kast afirma que apoiará qualquer nome oposicionista caso não avance. Matthei, embora evite citar Kast diretamente, reforça que não votaria na candidata comunista.


