Jara e Kast avançam ao segundo turno no Chile após disputa marcada por forte polarização
Com votos apertados e cenário indefinido, Jeannette Jara e José Antonio Kast se enfrentarão em 14 de dezembro
247 – A eleição chilena deste domingo (16) confirmou a disputa esperada para o segundo turno: Jeannette Jara, candidata oficialista apoiada pelo governo do presidente Gabriel Boric, e José Antonio Kast, líder do Partido Republicano, se enfrentarão no próximo dia 14 de dezembro. A informação foi publicada pelo jornal La Tercera.
Com mais de 90% das urnas apuradas, a tendência já mostrava vantagem consistente para a ex-ministra do Trabalho, com 26,74% dos votos e para o ex-deputado da direita radical, com 24,07%. Ambos consolidaram a passagem ao segundo turno enquanto figuras como Franco Parisi, Evelyn Matthei, Johannes Kaiser, Harold Mayne-Nicholls, Marco Enríquez-Ominami e Eduardo Artés ficaram para trás na disputa.
A trajetória de Jeannette Jara até o protagonismo político
Jeannette Jara, militante do Partido Comunista, construiu sua projeção nacional a partir da atuação no Ministério do Trabalho durante o governo do presidente Gabriel Boric. Integrante do primeiro chamado ao gabinete, ela rapidamente ganhou relevância dentro da administração.
Seu nome passou a ser visto como potencial presidenciável após o êxito na condução da reforma da previdência, aprovada depois de intensas e, por vezes, ásperas negociações com a oposição. A habilidade para articular acordos foi ressaltada pelo próprio presidente Boric.
O fortalecimento de sua imagem culminou em setembro de 2022, quando Jara passou a integrar o comitê político durante a primeira grande reforma ministerial do governo. Ali, consolidou-se como uma das figuras mais influentes da administração.
A candidatura oficial foi confirmada quando venceu as primárias internas da coalizão progressista, superando Carolina Tohá (PPD), Gonzalo Winter (FA) e Jaime Mulet (FRVS). Esta é sua primeira disputa presidencial.
Kast busca a Presidência pela terceira vez
José Antonio Kast chega à sua terceira tentativa de conquistar a Presidência chilena — e afirmou que, se não vencer desta vez, esta será a última. Após derrotas em 2017 e 2021, quando perdeu para o presidente Gabriel Boric, o líder da direita apostou em uma campanha mais controlada.
A equipe de Kast trabalhou para evitar a “administração de erros” que marcou disputas anteriores. Sua estratégia envolveu aparições públicas mais calculadas, menor intervenção em debates de conjuntura e foco em apresentar um “governo de emergência”, centrado em segurança pública e combate ao crime organizado.
Ao contrário da campanha de 2021, Kast deixou de lado a agenda moral e concentrou sua mensagem em temas de ordem, crime e autoridade.
Ele também recusou participar de uma primária com Evelyn Matthei e preferiu ir diretamente às urnas, decisão que agora se mostra decisiva.
Primeira volta apertada e desafios para Jara
As pesquisas já indicavam que Jeannette Jara chegaria ao segundo turno com o maior percentual de votos. No entanto, dentro de sua própria campanha, havia um marco simbólico: alcançar 30% dos votos — número associado à média de aprovação do presidente Boric.
A meta interna projetava um desempenho mínimo de 28%. A diferença menor que o esperado em relação a Kast acende sinal de alerta. O crescimento de Jara no segundo turno dependerá, sobretudo, da adesão do eleitorado de esquerda e centro-esquerda — especialmente os votos de Marco Enríquez-Ominami, Eduardo Artés, Harold Mayne-Nicholls e Franco Parisi, este último considerado decisivo.
A candidata também buscará apoio no eleitorado de centro que votou em Evelyn Matthei.
Kast recebe apoio imediato da direita
Para Kast, o segundo turno começa com reforços automáticos das candidaturas à direita. O deputado Johannes Kaiser declarou no dia da votação:
“Meu apoio será irrestrito a quem quer que dispute com a candidata do governo.”
Ele acrescentou, sobre a possibilidade de ir ao evento do vencedor: “Se eu não passar ao segundo turno, eu vou, vou cumprimentar, não vou subir ao palco, evidentemente, porque não é um triunfo da minha equipe.”
Já Evelyn Matthei manteve o suspense até o final. Mesmo ao votar, evitou declarar qual seria sua posição caso não avançasse. Seu gesto será fundamental para consolidar o campo conservador.
Uma disputa aberta e imprevisível no Chile
A disputa entre Jeannette Jara e José Antonio Kast promete ser uma das mais polarizadas desde o retorno da democracia no Chile. Com uma margem estreita e bases eleitorais muito distintas, o resultado dependerá da capacidade de cada candidato de atrair novos apoios além de seus núcleos tradicionais.
A votação de 14 de dezembro definirá não apenas o próximo presidente do Chile, mas também a direção política que o país seguirá — entre a continuidade do projeto progressista de Gabriel Boric ou a guinada conservadora defendida por Kast.



