Kast faz apelos à unidade nacional em seu primeiro discurso
Após derrotar Jeannette Jara, líder republicano agradece aliados, cita ex-presidentes, anuncia renúncia ao partido e reconhece desafios econômicos do país
247 – O Chile elegeu neste domingo um novo presidente para os próximos quatro anos. Pouco mais de meia hora após o fechamento das urnas, a tendência já estava consolidada e foi confirmada minutos depois: o republicano José Antonio Kast venceu a candidata comunista Jeannette Jara na disputa presidencial. A cobertura é do jornal chileno La Tercera, que acompanhou a apuração, os bastidores e o primeiro discurso do presidente eleito.
Com a divulgação dos resultados oficiais, os festejos em frente ao comando de Kast se intensificaram. Antes mesmo de subir ao palco, ele recebeu a tradicional ligação de felicitações do atual presidente, Gabriel Boric, além de manifestações de apoio nacionais e internacionais. Por volta das 21h40, Kast subiu ao palco montado do lado de fora de seu comando para fazer seu primeiro pronunciamento como presidente eleito, diante de uma grande multidão.
Agradecimentos à família, aos eleitores e aos aliados do segundo turno
As primeiras palavras de Kast foram dirigidas à família e aos eleitores. Em seguida, ele agradeceu às lideranças políticas que se somaram à sua candidatura no segundo turno.
“Obrigado a todos que se juntaram a nós no segundo turno”, afirmou.
Na sequência, citou nominalmente aliados que tiveram papel relevante na reta final da campanha.
“Quero agradecer a Johannes Kaiser pelo apoio leal que nos deu (…) agradeço também a Evelyn Matthei por aquele gesto tão nobre e corajoso de, no mesmo dia, vir declarar seu apoio (…) e agradeço também, mesmo sem ter pedido voto para mim, a Franco Parisi, por ter levantado dores e preocupações reais”, declarou.
Menção à adversária e pedido de respeito
Em um dos momentos mais tensos do discurso, Kast mencionou sua adversária derrotada, Jeannette Jara. Diante das vaias da plateia, pediu silêncio e respeito.
“Um governo tem apoiadores e opositores, isso é normal. Com Jeannette Jara temos diferenças (…) podemos ter divergências duras, mas, se a violência prevalecer, é muito difícil seguir adiante”, afirmou.
Referências aos ex-presidentes do Chile
O presidente eleito também citou ex-presidentes chilenos de diferentes espectros políticos: Patricio Aylwin, Ricardo Lagos, Eduardo Frei, Michelle Bachelet e Sebastián Piñera.
“Quero agradecer aqui publicamente ao ex-presidente Frei, com quem tive muitas diferenças, mas que nunca se negou ao diálogo”, disse.
Em seguida, ampliou o agradecimento:
“Quero dizer também que agradeço, mesmo estando claro que não compartilhamos os mesmos ideais, aos ex-presidentes Lagos, ao ex-presidente Aylwin e à ex-presidenta Bachelet. Ainda que vocês não acreditem, eles também acreditam no Chile”, declarou.
Homenagem especial a Sebastián Piñera
Kast reservou um trecho especial de sua fala para homenagear o ex-presidente Sebastián Piñera, por meio de seus familiares.
“E, nesse sentido, uma homenagem muito especial ao presidente Sebastián Piñera. Muito especial, por meio de seus filhos. Sua figura cresceu enormemente, porque ninguém pode negar que tivemos diferenças. De fato, competi com o presidente Piñera em 2017, mas não hesitei um instante em apoiá-lo para derrotar a esquerda, e ele a derrotou duas vezes”, afirmou.
Ele prosseguiu:
“Quero, por meio de seus filhos aqui presentes, de Magdalena, de Sebastián, de seus netos, agradecer a eles, aos seus irmãos e à senhora Cecilia Morel. Muito obrigado”, acrescentou.
Aviso sobre dificuldades econômicas e ausência de soluções mágicas
Ao projetar o futuro governo, Kast adotou um tom de cautela e franqueza sobre a situação do país.
“Este mandato não permite atrasos. O Chile terá uma mudança real que vocês começarão a perceber em breve. Preciso ser muito honesto desde o primeiro dia: não existem soluções mágicas. Nada muda de um dia para o outro, mas as coisas podem começar a melhorar”, afirmou.
Segundo ele, o país enfrentará um cenário econômico difícil.
“Vamos ter um ano muito duro, porque as finanças do país não estão bem. Recuperar o Chile exige o esforço de todos”, disse.
Renúncia ao Partido Republicano e defesa de um presidente de todos
Em um anúncio de forte impacto político, Kast declarou que irá renunciar à militância no Partido Republicano, legenda da qual é um dos fundadores.
“Isso exige muita unidade e renúncias. Para mim não é fácil renunciar ao Partido Republicano, do qual sou um dos fundadores, mas entendo que o que o Chile precisa daqui para frente é de um presidente de todos os chilenos”, afirmou.
Ele completou:
“Por isso anunciei, para surpresa de alguns, que vou renunciar à militância no partido que ajudei a formar. Todos precisamos dar sinais claros e contundentes de que estamos comprometidos com um projeto de país”.
Prioridades do novo governo e chamado à oposição
Kast destacou que seu governo terá três urgências centrais: segurança pública, imigração e crescimento econômico com geração de empregos.
Além disso, convocou os partidos que hoje fazem oposição ao governo de Gabriel Boric a trabalharem por um projeto comum.
“Isso precisa ser feito sem loteamentos e sem imposições. Tenho visto também a generosidade dos presidentes dos partidos do Chile Vamos, ao dizerem: ‘precisamos nos unir, e nosso objetivo tem que ser o Chile’”, ressaltou.
Um dia marcado por tensão e polêmica digital
A jornada eleitoral foi intensa para Kast. Ele votou pela manhã em Paine, acompanhado da esposa, María Pía Adriasola, e do filho, o deputado eleito José Antonio Kast Adriasola. A presença de numerosos apoiadores dificultou o acesso ao local de votação.
Durante a madrugada, surgiu ainda uma polêmica digital. Usuários da aplicação da empresa Lipigas receberam uma mensagem de cunho político favorável a Kast, com ataques à imigração. O comando de Jeannette Jara denunciou o episódio como propaganda eleitoral fora do prazo legal.
A empresa Lipigas, por sua vez, lamentou o ocorrido e atribuiu o envio da mensagem a um “acesso não autorizado” à sua aplicação, afirmando que investigaria o episódio.



