A disputa fundamental de Lula 4
A burguesia precisa tolerar os governos do PT e a consagração de Lula
Não deveriam ser tão surpreendentes as revelações do escândalo que surgiram agora à luz pública. Somente quem tem uma visão apologética do capitalismo e da burguesia poderia se surpreender.
A promiscuidade entre o PCC e a Faria Lima apenas confirma o processo histórico de acumulação de capital que, desde sempre, se valeu de todas as formas, legais e ilegais, para buscar maiores lucros.
Desde o primeiro processo de acumulação primitiva de capital, utilizou-se todo tipo de violência. A chegada dos colonizadores às Américas tinha o objetivo de impor seus valores e interesses, revelando claramente as intenções dos colonizadores europeus.
Entre as imposições, estava o pior fenômeno que a humanidade criou: a escravidão. Retirar homens do seu mundo, na África, para trazê-los nos porões de navios e fazê-los produzir riquezas que seriam enviadas para o consumo europeu.
Não se sabe quantos sobreviviam a essas viagens. Sabe-se, porém, que tinham cerca de nove anos de vida útil. Depois disso, era mais barato buscar outros escravos do que cuidar dos que já estavam em cativeiro.
Pode haver algo mais brutal? Não eram apenas escravos; eram africanos transformados em escravos, cuja vida curta, devido às condições de trabalho, era inteiramente dedicada a servir aos colonizadores.
Não por acaso, nosso maior historiador, Caio Prado Jr., afirmou que o Brasil seria incompreensível sem a colonização e a escravidão. Que triste começo! E quanto daquilo sobrevive até hoje. Somos um país de maioria negra, que quase se define, automaticamente, como pobre e miserável. Se ainda somos o país mais desigual do continente mais desigual, é, em grande medida, pela situação dos negros.
A acumulação de capital se faz às custas do trabalho daqueles que não possuem os meios de produção e, por isso, são trabalhadores que contribuem com seu esforço para a produção de riquezas apropriadas pelos detentores do capital.
A burguesia brasileira sempre foi uma lumpenburguesia, que se desenvolveu de forma subordinada, vendendo nossas riquezas e vivendo às custas dessa entrega. Nunca tivemos um projeto nacional formulado pelas elites dominantes; seu projeto sempre foi integrar-se, de forma subordinada, ao capitalismo internacional.
O Brasil foi o país que teve a ditadura militar mais longa do continente. O chamado “milagre econômico” ocorreu às custas da superexploração do trabalho — a verdadeira chave do milagre.
Saímos, finalmente, da ditadura, para um tipo de democracia em que todos são iguais diante da lei, mas convivendo com todas as desigualdades históricas. Isto é, uma democracia em que todos são, na prática, desiguais. Um tipo de democracia em que José Sarney, que liderou a resistência contra as eleições diretas com sucesso, se tornou o primeiro presidente do Brasil democrático.
Após o fracasso do neoliberalismo, implementado pela social-democracia brasileira, o PT conseguiu eleger Lula como presidente do Brasil. Esgotado o neoliberalismo, foi colocado em prática um governo que atacou o eixo dos problemas brasileiros — as desigualdades — privilegiando políticas sociais.
Foi necessário um novo golpe para tirar o PT do governo e levar Lula à prisão, sem nenhuma prova contra ele — como o próprio Judiciário que o condenou reconheceu posteriormente.
A burguesia precisa tolerar os governos do PT e a consagração de Lula como o personagem mais importante da história brasileira. Ela busca sabotar, na medida do possível, esse governo, quase se conformando com a possibilidade de sua reeleição.
Trata de preservar seus interesses, mantendo o capital especulativo como eixo da economia do país. Essa é a disputa mais importante do Brasil atual: o Lula 4 conseguirá romper com esse domínio do capital especulativo e estabelecer um novo ciclo longo e expansivo da economia brasileira?
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




