A vitória contra a inflação vira a maré a favor do governo mas não pode ser festejada
"Por que esse relativo silêncio diante do sucesso na luta contra a inflação, dado tão essencial na vida da população?", indaga Mario Vitor Santos
Logo será divulgada a inflação de novembro. Prevê-se que seguirá baixando. Previsível também que a conquista mais relevante do ano seguira subestimada tanto pela oposição (o que é esperado) como até pelo próprio governo. O índice de inflação caiu no mês passado para 0,09%, a menor taxa para um mês de outubro em 27 anos. Esperava-se uma queda de 0,16%, mas ela veio ainda mais baixa. Surpreendentemente, nenhuma autoridade, do Palácio do Planalto ou do Ministério da Fazenda, por exemplo, veio a público no dia do anúncio saudar a conquista. Nunca um dado tão animador foi recebido com tanto silêncio.
Com este índice, a inflação acumulada nos últimos doze meses, baixou para 4,68%, bem próximo do limite superior da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional: 4,5%. Um outro índice, chamado IPCA- 15, que é uma prévia da inflação, já traz o aumento dos preços para dentro do limite de tolerância de 4,5%.
Junto a isso, o dólar chegou a baixar a R$ 5,27, a menor cotação desde junho do ano passado e a bolsa quebrou recorde histórico (158 mil pontos) com volume também recordista de R$ 35,5 bilhões, contra a média deste ano de 23,6 bilhões.
A pergunta óbvia é: por que esse relativo silêncio diante do sucesso na luta contra a inflação, dado tão essencial na vida da população? Será que ninguém no governo percebeu a correlação direta que existe entre a queda da inflação neste ano, especialmente de alimentos, e a melhora dos índices de aprovação da gestão Lula ocorrida desde abril, acompanhando a trajetória cadente dos preços?
Ainda anteontem pesquisa CNT-MDA apontou nova elevação da aprovação do governo e crescimento das intenções de voto para o presidente Lula em todos os cenários em 2026.
O diretor do instituto MDA, Marcelo Souza, apontou que após quase dois anos todas a expectativas positivas superam as negativas mostrando um cenário favorável ao governo federal.
Por que então este governo, o ministério da Fazenda, salvo exceções pontuais, não bate bumbo para essa sua vitória.
Será que é porque a melhora geral do humor está sendo principalmente influenciada pela política monetária do Banco Central e suas taxas de juros muito altas, mas também muito instrumentais para trazer a inflação sob controle?
Há, portanto, uma espécie de esquizofrenia. O governo se beneficia da popularidade oriunda da valorização do real trazida pelos juros altos. Difícil achar algum de seus membros que não tenha criticado o nível dessas taxas, alguns deles inclusive atribuindo-as a uma submissão do Banco Central aos bancos que devia regular. Em suma, gostam do milagre, mas não podem atribuí-lo a ninguém, mesmo que ele esteja na foto da ceia.
Vem aí a reunião do Copom de dezembro. A taxa de 15% será mantida. As críticas serão renovadas, embora se saiba da necessidade da sua manutenção, especialmente em mês tão crítico para a defesa da moeda e, consequentemente, para a reeleição do presidente Lula.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




