Ainda sobre o Data Center de 200 bilhões de reais
É um equipamento fundamental para alavancar a geração de empregos no Ceará (inclusive de empregos com exigência de alta qualificação)
Anteontem (21/12), escrevi um texto sobre a instalação do Data Center do TikTok em Caucaia, empreendimento que promete aportar 200 bilhões de reais em investimentos no estado do Ceará, algo nunca antes acontecido e, até bem pouco tempo, inimaginável.
Vejo como equipamento fundamental para alavancar a geração de empregos no estado (inclusive de empregos com exigência de alta qualificação, portanto, mais bem remunerados após consolidado), e, também, como empreendimento capaz de catapultar o desenvolvimento econômico cearense, até mesmo nacional, haja vista se tratar do maior centro de processamento de dados do país, que, uma vez erigido, tende a atrair a instalação de uma cadeia de empresas assessórias voltadas ao seu funcionamento.
No texto, citei mais razões pelas quais compreendia ser de suma importância a chegada do Data Center do TikTok na Zona de Processamento para Exportação (ZPE) do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). Baseei-me nos debates que estão sendo realizados entre o Ministério Público Federal, o governo do Estado, as empresas parceiras desenvolvedoras no Ceará e as comunidades afetadas pelo futuro equipamento.
No entanto, pelas críticas que recebi, vejo necessário deixar grafado que, apesar de compreender ser imprescindível a instalação do Data Center no Pecém, entendo que ele não pode ser algo que sirva apenas aos interesses do grande capital, inclusive porque, quem possui 200 bilhões de reais para investir, pode e deve desenvolver projetos paralelos que beneficiem toda a população do entorno do equipamento do TikTok e muito mais.
Empregos à parte, governo e empresas desenvolvedoras do Data Center aduzem que o grupo já se comprometeu a efetuar melhorias de infraestrutura nos municípios de São Gonçalo do Amarante e Caucaia. É fundamental que tais benfeitorias sejam explicadas esmiuçadamente à população e efetivamente realizadas. E de preferência que não sejam só em estradas. Por que não escolas, postos médicos, centros de capacitação para o trabalho, urbanismo humanizado?
Organizações céticas com o projeto argumentam que o ruído será um elemento insalubre para as comunidades próximas. Embora as desenvolvedoras reiterem que não há vizinhança próxima, nada impede que o Data Center se comprometa a trabalhar no sentido de evitar que tais danos ofereçam riscos às comunidades.
Não me parece que o argumento hídrico, de utilização excessiva de água, seja um entrave ao projeto. Afinal, o volume utilizado nem de longe chega perto do usado em outros projetos industriais no próprio estado e, no caso do Data Center, a água de resfriamento será reutilizável. Contudo, empecilho não há para que a refutação deste argumento seja esclarecida, de forma ainda mais contundente, à sociedade cearense.
Se o equipamento não será levantado em terras originárias de indígenas Anacés, tal fato também deve ficar rigorosamente esclarecido a todas as pessoas. O mesmo pode-se dizer do desmatamento e terraplanagem da obra, fato que a SEMAM (Secretaria do Meio Ambiente) já argumentou estar superado pela própria localização do Data Center em área, há anos, desimpedida para construções.
O que sei e todos sabemos, indubitavelmente, é que não há desenvolvimento econômico real sem sustentabilidade ambiental e melhora na dignidade humana. Por isso, o investimento do Data Center do TikTok no Ceará deve ser acolhido e recebido com boas-vindas, mas a contrapartida também deve ser dada, não apenas em tecnologia e dividendos para os seus acionistas, mas em benefícios concretos para a população, sobretudo das regiões em que será construído. Aumento de PIB sem melhoria de condições de vida não satisfaz ao conjunto da sociedade, em especial a parcela mais vulnerável.
Data centers não são unanimidade. Há mais de uma dezena de milhares espalhadas pelo mundo, porém, aqui e ali existem resistências. No Chile, o projeto do Google está sendo reformulado. Em algumas cidades dos EUA, foram rejeitados e transferidos para outras localidades. Os argumentos empregados não são tão distintos dos aventados aqui. No entanto, a priori, não existe incompatibilidade entre a meta de um desenvolvimento econômico autêntico, que congregue sustentabilidade ambiental e ganhos em dignidade humana, e o estabelecimento do equipamento. Tudo depende do modelo de data center adotado.
Não há nada que, por meio de um diálogo franco entre as partes, incluída a sociedade civil, não possa ser resolvido. E para não restarem dúvidas sobre o desenvolvimento das tratativas, antídoto melhor não existe do que transparência. Se assim for, ganharemos todas e todos. Um estado carente como o Ceará, em desenvolvimento porém com índices ainda elevados de pobreza, não se pode dar ao luxo de descartar um empreendimento que promete alocar 200 bilhões de reais em sua economia. Tampouco pode o Brasil!
Assim, que venham os chineses. Que aproveitem nossas condições geográficas, nossa vocação para o trabalho, nossas isenções fiscais e tributárias, mas sejam nossos parceiros de verdade: em devolutiva, tragam consigo o compromisso e a disposição de suprir as expectativas locais por melhorias econômicas, científico-tecnológicas, sociais e ambientais.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




