Data center do TikTok no Brasil deve gerar exportações anuais de R$ 16 bilhões
Complexo no Ceará terá cinco unidades e pode movimentar até R$ 80 bilhões por ano em serviços digitais
247 – O projeto do data center do TikTok no Ceará promete reposicionar o Brasil no mapa global dos serviços digitais. Segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo, o executivo Rodrigo Abreu, CEO da Omnia — braço de data centers do Pátria Investimentos — e sócio do empreendimento — afirmou que a primeira unidade deverá impulsionar exportações anuais de aproximadamente R$ 16 bilhões.
A big tech chinesa Bytedance, controladora do TikTok, confirmou sua participação no negócio e recebeu autorização do governo do presidente Lula para operar cinco unidades idênticas no Porto de Pecém, na região metropolitana de Fortaleza. Com isso, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) estima que o complexo poderá alcançar R$ 80 bilhões por ano em exportações, ajudando a reduzir o atual déficit brasileiro na balança de serviços digitais.
A operação está garantida por um período inicial de dez anos, com possibilidade de prorrogação por mais uma década.
Investimentos bilionários e a maior estrutura da América Latina
O TikTok anunciou um investimento inicial de R$ 200 bilhões na construção da primeira unidade, dos quais R$ 108 bilhões serão destinados à compra de computadores avançados. Segundo o Mdic, outros R$ 139 bilhões serão aplicados entre 2036 e 2046 na renovação dos equipamentos.
Os quatro data centers adicionais exigirão investimentos de R$ 349 bilhões.
Rodrigo Abreu afirma que esta será a maior instalação individual de data center da América Latina. Ele detalha que o complexo será composto por dois prédios de mais de 70 mil metros quadrados cada um, com capacidade instalada de 200 megawatts — um nível de consumo energético equivalente ao de 2,1 milhões de brasileiros. “São dois prédios com mais de 70 mil metros quadrados cada um, em um nível de sofisticação que nos garantirá trabalho por bastante tempo”, afirmou.
Estrutura preparada para IA e resfriamento de baixo impacto hídrico
Embora o TikTok ainda não tenha confirmado se usará a unidade para desenvolver modelos de inteligência artificial, Abreu explica que os data centers estarão prontos para operar com resfriamento líquido, adequado para cargas de IA. “É um data center muito flexível, capaz de acomodar praticamente qualquer tipo de carga”, disse.
Diante de questionamentos de comunidades indígenas e entidades civis sobre o licenciamento ambiental, o executivo afirmou que o sistema de refrigeração será de circuito fechado, reduzindo drasticamente o consumo de água. “Estamos trabalhando com uma tecnologia de circuito fechado de refrigeração que consome diariamente água equivalente ao consumo de poucas casas”, declarou.
Parcerias e expansão do polo eletrointensivo do Pecém
O desenvolvimento do projeto começou em 2024, em parceria com a Casa dos Ventos, que aplicou sua expertise em licenciamento de plantas de hidrogênio verde para viabilizar as complexas conexões de eletricidade. “O Pecém vai ser um polo eletrointensivo, vai ter capacidade para até dois gigawatts de projetos ali”, afirmou Abreu.
A Omnia também desenvolve um land bank — uma lista de áreas com alto potencial energético e de conectividade — para receber novos data centers no país. “As discussões com clientes acontecem em paralelo a tudo isso”, disse o executivo.
Transformação do setor e valorização global
Antes da Omnia, o Pátria foi dono da Odata, vendida em 2022 por US$ 1,8 bilhão à Aligned Data Centers. Em outubro deste ano, a Aligned foi adquirida por US$ 40 bilhões pelo fundo global AIP, que reúne gigantes como BlackRock, Microsoft, Nvidia, o fundo soberano MGX dos Emirados Árabes e a xAI, de Elon Musk.
Abreu ressaltou como o avanço da IA revolucionou o mercado:
“Quando essa transação foi assinada no final de 2022, o ChatGPT ainda não tinha se tornado público para uso geral ainda”, lembrou. “Foi uma ótima transação para o Patria, mas, ao longo de 2023, o Patria começou a olhar de novo para o segmento que estava completamente transformado.”
Para efeito de comparação, o primeiro data center construído pelo Pátria por meio da Odata, em 2015, tinha apenas três megawatts e exigiu investimento de US$ 30 milhões. “Dez anos depois, o investimento que nós anunciamos na Omnia é um investimento da ordem de US$ 2 bilhões em infraestrutura”, afirmou.
O projeto cearense consolida o Brasil como destino estratégico para infraestrutura digital avançada — um setor cada vez mais central na economia global.


