As prisões históricas dos golpistas e as ofensivas escorchantes de Alcolumbre
“Muito dinheiro na mão de poucos significa miséria, mas pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de riqueza” (Luís Inácio Lula da Silva).
Em 25 de novembro de 2025, a Ação Penal (AP) 2628 teve o seu trânsito em julgado declarado pelo ministro Alexandre de Moraes do Supremo Tribunal Federal: “Certifico que os acórdãos publicados no dia 18 de novembro de 2025 transitaram em julgado em 25 de novembro de 2025, para os réus Alexandre Ramagem Rodrigues, Anderson Gustavo Torres e Jair Messias Bolsonaro”
Finalmente, inicia-se o cumprimento da pena do ex-presidente Jair Bolsonaro a 27 anos e três meses, a ser cumprida na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, assim como a execução das penas impostas aos demais integrantes do núcleo central da tentativa de golpe de Estado. Anderson Torres cumpre sua pena no 19º Batalhão da Polícia Militar, no Complexo da Papuda, em Brasília. O general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, e o general Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa, cumprem pena no Comando Militar do Planalto. O general Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, cumpre pena no Comando de Operações Terrestres do Exército, em Brasília. O almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, está recolhido na Base Naval do Rio de Janeiro, na Ilha do Governador. Já Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor da Abin, encontra-se foragido nos Estados Unidos, ainda sem local de custódia definido; por fim, o tenente-coronel Mauro Cid cumpre pena de dois anos em regime aberto.
Trata-se de um divisor de águas na história da República. Uma reparação, ainda que tardia, de que a democracia brasileira não pode mais tolerar golpes contra o Estado de Direito, como ocorreu nos anos de chumbo da ditadura iniciada em 1964, que maculou para sempre a história democrática do país com assassinatos, perseguições, torturas e desaparecimentos de homens e mulheres que lutaram contra as atrocidades do regime. Entre eles, a ex-presidente Dilma Rousseff, severamente torturada, e o ex-deputado Rubens Paiva, cruelmente torturado e assassinado.
Nesta perspectiva histórica, é fundamental que cada brasileiro e cada brasileira jamais esqueça a declaração insana do então deputado federal Jair Bolsonaro durante a sessão de votação do impeachment fraudulento da presidente Dilma, articulado pelas forças reacionárias da direita e da extrema direita sob liderança de Eduardo Cunha, então presidente da Câmara, e Michel Temer, vice-presidente de Dilma. Em 17 de abril de 2016, Bolsonaro afirmou votar “em memória” do mais vil torturador da ditadura, coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, a quem chamou de “terror de Dilma”.
É difícil conceber como um ex deputado medíocre, misógino, cruel com as pessoas que agonizavam na pandemia, com um currículo de impropérios pessoais e ético-políticos e uma equipe de governo notadamente desqualificada e em alguns casos corrupta, ocupou o cargo mais elevado da República, durante quatro anos.
Não há como negar a covardia e a fraqueza de caráter de Bolsonaro e de seus asseclas hoje foragidos. Enquanto não descobertos em seus crimes contra o Estado de Direito, ostentavam impetuosidade e ousadia contra a democracia e contra a justiça. Hoje, o que se vê é a fuga constrangedora de quem sempre se utilizou do discurso autoritário, mas se esconde diante da responsabilização penal.
Entre eles está Eduardo Bolsonaro (PL-SP), réu por coação por pressionar ministros e autoridades durante o processo sobre a tentativa de golpe, com a anuência de seu pai. Auto exilou-se nos Estados Unidos. Soma-se Carla Zambelli (PL-SP), presa na Itália e à beira de extradição; Allan dos Santos e Paulo Figueiredo, blogueiros bolsonaristas considerados foragidos pela Justiça, vivendo nos Estados Unidos; e o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), foragido desde setembro. Eleito em 2022 na onda bolsonarista e ex-diretor da Abin, Ramagem foi condenado por abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe e participação em organização criminosa liderada pelo ex-presidente. Todos continuam conspirando contra o país e desafiando abertamente o sistema de justiça.
Diante desse cenário de afronta contínua, questiona-se: até quando o povo brasileiro terá de suportar as ilegalidades cometidas por essa trupe sem escrúpulos da extrema direita? Até quando assistiremos as investidas do presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, e de seus aliados, insistindo em emplacar no Congresso a inadmissível anistia ou a redução de pena para um criminoso contumaz, reincidente desde os tempos de caserna e, agora, condenado por tentativa de golpe? Até quando Hugo Motta manterá na Câmara parlamentares condenados como Carla Zambelli e Alexandre Ramagem, ignorando decisões judiciais de perda de mandato?
A esses fatos se acrescenta o comportamento vergonhoso do líder do Partido Liberal na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), ventrículo do empresário e pseudo pastor explorador da fé, Silas Malafaia, que chegou ao extremo de acusar o ministro Alexandre de Moraes de ser “psicopata” e “perseguidor de Bolsonaro”. Até quando Moraes, que cumpre rigorosamente suas atribuições constitucionais, terá de suportar insultos descabidos de figuras levianas sob o manto da imunidade parlamentar? Cumpre ressaltar que a execução das penas privativas de liberdade dos golpistas, ao contrário dos tempos de pirotecnia indevidamente encenada pela vergonhosa Operação Lava Jato, ocorreu com pleno respeito à dignidade humana. Não houve qualquer espetáculo midiático, como deve ser em um sistema verdadeiramente democrático, no qual a Justiça se afirma pela sobriedade, e não pela exibição pública.
No Congresso Nacional, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) tem assumido postura ainda mais temerária, arrogando-se indevidamente às prerrogativas do Presidente da República ao tentar influenciar na escolha do próximo ministro do STF. Para pressionar o governo, recorre a pautas-bomba, como a votação da aposentadoria especial para agentes de saúde, e articula junto a Hugo Motta (Republicanos-PB), movimentos de boicote político, como a ausência na cerimônia de sanção da lei que isenta do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil. Em um gesto de imaturidade política e desprezo pela ética republicana, desperdiçam a oportunidade de reconhecer um avanço social de enorme impacto, como destacou o presidente Lula: “Combater a desigualdade é termos a capacidade de nos indignarmos com aquilo que está errado. Muito dinheiro na mão de poucos significa miséria, mas pouco dinheiro na mão de muitos significa distribuição de riqueza.”
A rebeldia de Alcolumbre ao tentar se sobrepor à prerrogativa exclusiva do Presidente da República na indicação de ministros do STF é um ato sem precedentes. Lula escolheu o nome de Jorge Messias, por considerar que tecnicamente é o jurista mais adequado para a vaga deixada pelo ex -ministro Luís Roberto Barroso. Alcolumbre, embora pudesse opinar, jamais poderia chantagear ou retaliar o governo por não atender sua preferência pelo senador Rodrigo Pacheco.
Esses episódios evidenciam as profundas fragilidades éticas de Alcolumbre e Motta. Sem sombra de dúvida, não estão preparados para presidir o Senado e a Câmara, respectivamente. O primeiro insiste em chantagear politicamente o governo por considerar que tem mais poder político que o presidente Lula, a quem mais da metade da população brasileira confiou o voto para que ele dirigisse o país. O segundo descumpre acordos como no caso da PEC da Blindagem, na qual tentou ressuscitar o voto secreto, contrariando frontalmente a orientação do governo Lula.
Como se não bastassem essas práticas desleais do Centrão e os reiterados crimes cometidos pelos parlamentares da extrema direita bolsonarista, entre outros adeptos desse ideário político, a Operação Poço de Lobato, deflagrada em 27/11 pela Receita Federal em parceria com outras instituições, revelou um esquema bilionário de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro no setor de combustíveis envolvendo o grupo Refit, chefiado pelo empresário Ricardo Magro, personagem que mantinha contato com figuras políticas, como Arthur Lira (PP-AL), Ciro Nogueira (PP-PI) e Braga Netto, ex-ministro da Defesa e da Casa Civil no governo Bolsonaro. As investigações também levantaram fortes indícios de que o Grupo Refit mantém vínculos com indivíduos investigados por participação em esquemas associados ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
Convém ressaltar que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, há meses vem pressionando pela análise do projeto de lei que institui a figura do devedor contumaz, mecanismo capaz de coibir esquemas bilionários de sonegação, como o revelado pela Operação Poço de Lobato envolvendo o grupo Refit. Apesar disso, a proposta permanece paralisada na Câmara dos Deputados desde 30 de outubro. Somente após a deflagração da operação contra a Refit é que Hugo Motta indicou o relator da matéria, o deputado Antônio Carlos Rodrigues (PL-SP). Não deixa de ser sintomático que o próprio presidente da Câmara tenha participado, há alguns meses, de um jantar em Nova York promovido pela Refit, evento que reuniu empresários e políticos brasileiros.
Em mais um ato de retaliação, sob as lideranças de Alcolumbre e Motta, não somente ao Presidente Lula, mas à própria preservação do meio ambiente, o Congresso derrubou em 27/11 os vetos do presidente Lula ao projeto de licenciamento ambiental. Na Câmara, o placar foi 295 a 167; no Senado, 52 a 15. Os vetos, pautados na defesa do meio ambiente e na correção de dispositivos inconstitucionais, foram anulados sem qualquer responsabilidade ambiental. O resultado é um grave retrocesso à proteção ambiental, restando ao governo federal judicializar a questão para preservar os direitos difusos e o equilíbrio ambiental.
Apesar dessas investidas que revelam o atraso político da atual composição majoritária do Congresso, dominada pela extrema direita e direita fisiológica, defensoras de interesses particulares e do que possam auferir em ganhos pela defesa dos interesses das diversas bancadas, como as: dos bilionários, dos sites de apostas (Bets), dos bancos, das fintechs, das milícias, dos ruralistas, da bala e dos setores neopentecostais, o que não se vê, entre tantas representações é a “bancada da população brasileira”, invisibilizada após depositar seus votos.
Por essas razões, é imprescindível que, nas próximas eleições, parcela expressiva da população deixe de se iludir com discursos populistas e enganosos de políticos da extrema direita e do Centrão, que só se aproximam do povo no período eleitoral e, em seguida, o abandonam para servir a seus próprios esquemas.
Enquanto essa parcela nociva, oportunista e antirrepublicana continuar ocupando a maioria das vagas no Congresso, as saídas para a melhoria sustentável da vida do povo brasileiro permanecerão bloqueadas. O país seguirá refém das práticas infames que se tornaram marca registrada de figuras como Davi Alcolumbre, Hugo Motta, Arthur Lira, Ciro Nogueira, Flávio e Eduardo Bolsonaro, além das investidas mentirosas de Nikolas Ferreira (PL-MG), Bia Kicis (PL-DF) entre tantas personagens exóticas e nefastas eleitas na onda do pérfido bolsonarismo.
Mais do que nunca, cabe ao eleitorado romper esse ciclo e recolocar o interesse público no centro da vida institucional, reafirmando a democracia e a integridade ética no trato da coisa pública como um valor inegociável. Em regimes realmente democráticos, é natural que Executivo, Legislativo e Judiciário apresentem diferenças de posição e até disputas legítimas, contudo, tais divergências devem convergir para um objetivo comum, a promoção do país e o bem estar sustentável da população.
O dano provocado pelo oportunismo inescrupuloso de parlamentares do Centrão e da extrema direita, que tomaram de assalto o Poder Legislativo não pode ser repetido nas eleições de 2026, sob pena de aprofundarmos os retrocessos e de vermos o crime organizado expandir sua influência pelas entranhas do Congresso.
Essa conjuntura legislativa, que deveria atuar na formulação de leis voltadas ao interesse público e ao desenvolvimento nacional, acaba por bloquear a capacidade de governos progressistas avançarem em políticas públicas essenciais. Assim, projetos que poderiam promover melhorias substantivas nas condições de vida da maioria da população permanecem travados por uma maioria parlamentar disposta a servir a interesses particulares, e não ao povo brasileiro.
É primordial reeleger o atual governo federal, que mesmo enfrentando dificuldades conseguiu há seis meses provocar a elevação do país em 5 posições no ranking global do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), segundo relatório divulgado pelo Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD). Em dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em outubro de 2025, constatou-se que o rendimento médio real dos trabalhadores atingiu o maior nível da série histórica, chegando a R$ 3.507, além de indicar um cenário de pleno emprego no país.
Em notícia divulgada nesta semana, a América Latina registrou uma queda expressiva nos índices de pobreza, sobretudo em 2024, resultado fortemente impulsionado pelo desempenho brasileiro. As políticas de transferência de renda e a retomada da atividade econômica no país foram decisivas nesse avanço, de modo que o Brasil respondeu por aproximadamente 80% da redução da pobreza em toda a região, conforme aponta a Cepal. Essas boas notícias não viralizam na mídia corporativa do atraso, pois sabemos de que lado está. Fiquemos atentos!
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




