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Emir Sader

Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros

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As rotas da seda no século asiático

São os países que compõem a Rota da Seda que verdadeiramente importam no século XXI

Rota da Seda chinesa (Foto: CRI)

A expressão “rotas da seda” serve para descrever as formas como se entreteceram povos, culturas e continentes, e que, ao fazê-lo, nos ajuda a compreender o modo em que no passado se propagaram as religiões e os idiomas e a mostrar como, nesta parte do mundo, distintas ideias sobre a comida, a moda e a arte se difundiram, competiram entre si e influenciaram umas às outras.

As rotas da seda ajudam a esclarecer o lugar central que ocupam o controle dos recursos e o comércio de longa distância e, portanto, explicam os contextos das expedições que contribuíram para dar forma ao surgimento dos impérios e os motivos que as animavam a cruzar desertos e oceanos.

As rotas da seda mostram como se estimulou a inovação tecnológica ao longo de milhares de quilômetros e como a destruição da violência e das doenças frequentemente seguiu as mesmas pautas. Ao nos ensinar a ver os ritmos da história, as rotas da seda nos permitem entender que o passado não é um de períodos de regiões isoladas e com limites definidos, mas que, na realidade, o mundo esteve conectado durante milênios, em um passado global, mais amplo e inclusivo.

Por mais que existam outros temas, são os países que compõem a Rota da Seda que verdadeiramente importam no século XXI. As rotas da seda ocupam um lugar tão central que é impossível compreender o que acontece ou pensar no que vamos nos deparar amanhã sem levar em conta a região que se estende entre o Mediterrâneo Oriental e o Pacífico. Na Ásia, as rotas da seda são onipresentes.

Já vivemos no século asiático, numa época em que o produto interno bruto global está se deslocando das economias desenvolvidas do Ocidente para as do Oriente em uma escala e velocidade assombrosas. Algumas projeções preveem que, em 2050, a renda per capita se multiplicará por seis na Ásia, o que tornaria ricos outros três bilhões de habitantes do continente. O que significa que a Ásia recuperaria a posição econômica de uns 300 anos atrás, antes da Revolução Industrial.

A transferência do poder global para a Ásia se dá na direção de um processo de reversão do caráter que tinha o mundo antes da ascensão do Ocidente. Um cálculo prevê que, para o ano de 2027, o PIB combinado das cidades asiáticas já será maior que o das norte-americanas e europeias, e se espera que, só oito anos depois, as supere em 17%.

Nesse grande movimento que experimenta o PIB mundial nas últimas décadas, só na China mais de 800 milhões de pessoas saíram da pobreza desde a década de 1980. Em 2002, o PIB da China era 39% do PIB dos EUA. Em 2008, o indicador tinha aumentado para 60% e, em 2016, o PIB da China já era 114% do norte-americano, com uma tendência nessa direção cada vez mais favorável ao país asiático.

A população da Ásia, que ascende a quatro bilhões de habitantes, é cada vez mais numerosa e rica. Nenhuma das 10 economias que mais crescem atualmente se encontra no hemisfério ocidental. Configura-se assim um mundo cujo centro de gravidade econômica está se distanciando do Ocidente.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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