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Alex Solnik

Alex Solnik é jornalista. Já atuou em publicações como Jornal da Tarde, Istoé, Senhor, Careta, Interview e Manchete. É autor de treze livros, dentre os quais "Porque não deu certo", "O Cofre do Adhemar", "A guerra do apagão" e "O domador de sonhos"

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Como tirar um presidente do poder

Colunista do 247, Alex Solnik lembra a deposição do presidente Washington Luís pelos militares, em 1930; em carta endereçada ao então presidente, os generais justificavam o golpe para garantir a salvação pública e a integridade da nação; "Esse golpe que, segundo o general Hamilton Mourão está em preparação e será deflagrado se o Poder Judiciário “não der um jeito na classe política” poderá ser o décimo. O texto da cartinha a Temer é só copiar da de Washington Luís", diz Solnik

Colunista do 247, Alex Solnik lembra a deposição do presidente Washington Luís pelos militares, em 1930; em carta endereçada ao então presidente, os generais justificavam o golpe para garantir a salvação pública e a integridade da nação; "Esse golpe que, segundo o general Hamilton Mourão está em preparação e será deflagrado se o Poder Judiciário “não der um jeito na classe política” poderá ser o décimo. O texto da cartinha a Temer é só copiar da de Washington Luís", diz Solnik (Foto: Alex Solnik)
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Intimação dirigida ao sr. Washington Luís

Rio de Janeiro, 24 de outubro de 1930

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Exmo. Sr. Presidente da República

A Nação em armas, de Norte a Sul, irmãos contra irmãos, pais contra filhos, já retalhada, ensanguentada, anseia por um sinal que faça cessar a luta inglória, que faça voltar a paz aos espíritos que derive para uma benéfica reconstrução urgente as energias desencadeadas para a sua destruição. As forças armadas, permanentes e improvisadas, têm sido manejadas como argumento cívico para resolver o problema político e só tem conseguido causar e sofrer feridos, luto e ruína, o descontentamento nacional sempre subsiste e cresce, porque, vencido, não pode convencer-se de que, o que teve mais força, tenha mais razão. O mesmo resultado reproduzir-se-á como desfecho da guerra civil, a mais vultosa que se viu no país. A salvação pública, a integridade da nação, o decoro do Brasil, e até mesmo a glória de v.exc. instam, urgem e imperiosamente comandam a v.ex. que entregue os destinos do Brasil, no atual momento, aos seus generais de terra e mar. Tem v.ex. o prazo de meia hora a contar do recebimento desta para comunicar ao portador a sua resolução e, sendo favorável, como toda nação livre o deseja e espera, deixar o poder com todas as honras garantidas.

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(aa.) João de Deus Menna Barreto, general de Divisão, inspetor do 1º. Grupo de Região

João Fernandes Leite de Castro, general de Brigada, comandante da 1ª. DAC

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Firmino Antonio Borba, general de Brigada, 2º. Sub-chefe do E.M.B.

Pantaleão Telles, general de Brigada e vários generais e almirantes de que não houve tempo de colher as assinaturas.

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Logo que assumiram o governo provisório dissolveram o Congresso e as assembleias legislativas de todo o país e mandaram prender o ex-presidente no Forte de Copacabana.

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Dias depois empossaram Getúlio Vargas como novo presidente da República. Passaram a ser os garantidores do seu poder.

O povo fez carnaval, o episódio foi chamado de fim da tirania, mas era só o começo de outra: novas eleições presidenciais só ocorreriam 16 anos depois.

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Esse foi um dos sete golpes militares bem-sucedidos da nossa história. Três não vingaram.

O primeiro é de 1889, batizado como proclamação da República. O marechal Deodoro ficou no poder até 1894 – período descrito como ditadura militar. Seu sucessor, Floriano Peixoto, também marechal, embora eleito, também foi chamado de ditador.

O segundo, o de 1930.

Em 1937 ajudaram Getúlio a dar o golpe dentro do golpe, chamado de Estado Novo e comandaram com ele um governo autoritário. Terceiro golpe.

Em 1946, derrubaram Getúlio para restabelecer a democracia, convocaram eleições diretas – vencidas por um deles, o marechal Eurico Gaspar Dutra. Quarto.

Em 1954 tentaram derrubar Getúlio, então presidente sufragado nas urnas, mas ele se matou antes. Quinto.

Em 1955 oficiais da Aeronáutica se rebelaram contra a posse do presidente eleito Juscelino Kubitcheck - o golpe foi abortado. Sexto.

Em 1961 dois generais comandantes de tropas estavam prontos para derrubar Jânio, acertados com Carlos Lacerda, mas ele renunciou antes. Sétimo.

Em 1964 ocuparam o palácio presidencial sem fazer muita força. E dessa vez resolveram governar eles próprios. Oitavo.

Em 1981 facções da linha dura do exército tentaram derrubar o quinto ditador, o general Figueiredo – não conseguiram porque a bomba do atentado no Riocentro explodiu no colo de um capitão antes da hora. Nono.

Esse que, segundo o general Hamilton Mourão está em preparação e será deflagrado se o Poder Judiciário “não der um jeito na classe política” poderá ser o décimo.

O texto da cartinha a Temer é só copiar da de Washington Luís.

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