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Leonardo Attuch

Leonardo Attuch é jornalista e editor-responsável pelo 247.

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Confissão do dono da Prevent Senior prova que saúde não é mercadoria e não pode ser privatizada

Ao dizer que ficou eufórico quando percebeu que poderia reduzir internações com o inexistente "tratamento precoce", o contador Fernando Parrillo apenas comprovou que a saúde deve ser um bem público, gratuito e universal

Fernando Parrillo (Foto: Reprodução)
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"Quando percebemos que o tratamento precoce evitava internações, ficamos eufóricos, dissemos: aqui tem uma esperança", disse o contador Fernando Parrillo, que fundou a empresa Prevent Senior, numa entrevista às jornalistas Patrícia Pasquini e Suzana Singer, na Folha de S. Paulo. Foi a primeira entrevista exclusiva concedida pelo fundador da empresa que hoje está no epicentro da crise política brasileira e que será alvo de uma investigação do Ministério Público para apurar suas condutas. Investigação esta que pode atingir o governo Bolsonaro, que fez da mentira e do negacionismo um método de ação política durante a pandemia.

Até o caso Prevent Senior, eu imaginava que o grande estímulo econômico ao negacionismo vinha de três forças principais: o lobby de empresários do comércio e do setor de serviços, contrários ao fechamento por razões óbvias, o lobby de alguns laboratórios farmacêuticos, interessados na venda de remédios ineficazes, e o próprio radicalismo ideológico da extrema direita, que enxerga na pandemia uma "fraudemia" criada por "globalistas" para destruir seus projetos políticos.

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O caso Prevent Senior revela que, no caso brasileiro, há um fator ainda mais determinante do que todos esses: a privatização da saúde pública. Fundada por um contador, a empresa havia conseguido criar um nicho de mercado interessante: o de planos de saúde mais baratos, direcionados ao público mais vulnerável e desprezado pelas operadoras tradicionais: os idosos. 

No entanto, o modelo da Prevent só funciona com uma lógica de administração de custos rigorosa, que exige que os clientes sejam tratados nos seus próprios hospitais, e sem externalidades, como uma pandemia. Internação, para uma seguradora como a Prevent, é sinônimo de sinistralidade. É isso que explica a frase do seu presidente, na entrevista concedida à Folha. Um "tratamento precoce" que evitasse internações era uma esperança não para os doentes – mas para a administradora do plano, que poderia continuar vendendo a ilusão de saúde para seus clientes, sem arcar com os custos no momento da doença.

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Esse tipo de entrevista geralmente acontece quando um empresário se vê no meio de um furacão político. Lobistas, assessorias de imprensa e profissionais de comunicação dizem ao empresário que o melhor é falar, que nada deve ser escondido. O ponto é que Fernando Parrillo escorregou nas suas próprias palavras, na sua sinceridade. Provavelmente, ele crê que presta um bom serviço a seus clientes. Cobra em média 800 reais por mês de seus segurados, que eram desprezados por outras operadoras de saúde, e oferece atendimentos básicos e menos onerosos. É possível também que ele se enxergue como um bom empreendedor, que foi capaz de enxergar uma oportunidade e atender a uma necessidade de mercado.

A raiz do problema, no entanto, é justamente esta. A saúde de uma população jamais deveria ser tratada como uma mercadoria submetida à lógica da exploração privada, mas sim como um bem público, gratuito e universal, como, aliás, foi consagrado na Constituição de 1988. No entanto, há muito tempo a saúde privada vem avançando e esse processo se acelerou depois do golpe de 2016, quando Ricardo Barros foi ministro de Michel Temer, e após a eleição de Jair Bolsonaro, quando seu primeiro ministro, Henrique Mandetta, passou a ser um claro operador dos interesses privados na saúde pública, antes de se apaixonar pelo SUS, sem que saibamos até hoje se essa paixão é realmente sincera.

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Desde o golpe de 2016, não por acaso, os novos grandes bilionários brasileiros têm vindo da área da saúde privada – o que apenas ressalta as distorções da sociedade brasileira se partirmos da premissa de que a saúde de uma população não é nem deve ser tratada como mercadoria.

Ao acompanhar o debate do caso Prevent Senior, no Brasil 247 e na TV 247, vejo que muitos trazem o argumento de que se deve evitar o modelo Lava Jato, ou seja, seria correto punir a direção da seguradora, sem destruir a empresa. Mas esta é uma proposta que não atinge a raiz do problema. O indivíduo que fica eufórico quando percebe que um tratamento fake pode reduzir as internações e seus custos pode até se encaixar no papel de vilão da hora, mas o problema central é a privatização da saúde. Do ponto de vista progressista, a única saída real e verdadeiramente humanista é a estatização completa de todos os serviços de saúde no Brasil. Pode parecer utópico, mas todo o resto é ilusório.

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