De virar o estômago
Hg: símbolo do elemento químico mercúrio, um metal pesado líquido conhecido pela sua alta toxidade
De virar o estômago. Foi essa sensação que tive quando assisti o documentário “Amazônia, a nova Minamata?” [1] na TV, sobre os efeitos maléficos para a saúde das pessoas por causa do mercúrio, seja por causa do despejo nas águas superficiais pela indústria química na produção de plástico, como o que aconteceu no Japão, iniciado nos anos 30 do século passado na cidade de Minamata, ou como nos dias de hoje pelo seu uso criminoso para a concentração de ouro, via o garimpo ilegal, contaminando os solos e as águas em terras indígenas.
Nas aulas de mineralogia ministradas nas faculdades o elemento químico mercúrio, um metal pesado líquido conhecido pela sua alta toxidade, é apresentado como integrante do grupo dos sulfetos e o mineral que o contém, com a fórmula química HgS, é o cinábrio. Esse mineral ocorre em impregnações e enchimentos de veios próximo de rochas vulcãnicas recentes e de fontes termais, depositado próximo da superfície. [2]
“Nunca é demais lembrar que a remediação dos solos e das águas é complexa e pode custar caro, como por exemplo, as extensas áreas contaminadas por mercúrio pela atividade predatória, ilegal e criminosa, como vem ocorrendo na Amazônia e invadindo território Yanomani. Então, como devemos proceder diante dessa agressão ao meio ambiente? Espera-se que esses invasores da Amazônia que há tempos vêm desmatando, queimando, grilando, garimpando e contaminando seus solos e águas sejam devidamente identificados, responsabilizados e punidos de acordo com a lei.
Mesmo que a legislação permita a destruição do maquinário para extração do ouro em território Yanomami, sob a alegação de que a retirada dessas áreas invadidas seria 'inviável do ponto de vista logístico', será que uma vez identificados os responsáveis não caberia a eles a responsabilização pela retirada desses equipamentos? Não seria uma solução razoável a transferência para outras áreas mais distantes da região Amazônica desses equipamentos (motores e bombas), onde poderiam sofrer adaptações e reaproveitados na captação de água, como em regiões mais carentes desse recurso? O Semiárido Brasileiro, que se estende por nove estados da região Nordeste e também pelo norte de Minas Gerais, poderia ser uma dessas áreas de transferência. Outros equipamentos, como tratores e escavadeiras poderiam ser confiscados e utilizados na etapa de escavação para remediação das áreas contaminadas, por exemplo.
Uma vez que esses equipamentos entraram na floresta Amazônica, por terra, água ou ar devem, pela lógica, conseguir sair do mesmo jeito e a conta com esses custos deve ser debitada aos invasores além, obviamente, da recuperação das áreas degradadas com a descontaminação do mercúrio nos solos e nas águas, incluindo a recuperação da floresta com árvores nativas. Por outro lado, como existe a preocupação social com o grande contingente de garimpeiros que atuaram no garimpo ilegal e predatório - que de certa forma ficaram 'deslocados do mercado de trabalho' - aqueles que não são os mandantes e sem antecedentes com a justiça poderiam ser reaproveitados como mão de obra no replantio da vegetação retirada, desde que devidamente cadastrados junto aos órgãos fiscalizadores e monitorados, controlados e vigiados nessa importante etapa de recuperação das áreas degradadas.” [3]
“Em 1979, em plena ditadura militar, Walter Franco cantou a sua música 'Canalha' no Festival da Tupy com os seguintes versos: 'É uma dor canalha / Que te dilacera / É um grito que se espalha / Também pudera // Não tarda, nem falha / Apenas te espera / Num campo de batalha / É um grito que se espalha / É uma dor canalha'.
Foi um delírio para quem estava na plateia e para quem viu ao vivo pela TV. A provocação estava lançada. Hoje vivemos numa democracia, mas os 'filhotes da ditadura', como dizia Leonel Brizola, continuam espalhados por aí e atuam como verdadeiros canalhas em vários setores da sociedade brasileira.” [4]
Com o conhecido PL da Devastação em curso no Congresso Nacional, para a implementação de uma nova Lei de Licenciamento Ambiental, a pergunta que fica é: onde vamos parar? Na madrugada de hoje, 10/12/2025, 291 “nobres” deputados aprovaram o PL da Dosimetria. De virar o estômago.
Fontes
[1] “Amazônia, a nova Minamata?” documentário do diretor Jorge Bodanzky.
https://g1.globo.com/globonews/video/documentario-amazonia-a-nova-minamata-estreia-nos-cinemas-13910388.ghtml
[2] “Manual de Mineralogia” de James D. Danna. Editora Ao Livro Técnico S. A. e Editora da Universidade de São Paulo. 1969. 2v.
[3] “Mecúrio que mata” artigo de Heraldo Campos.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2023/02/mercurio-que-mata.html
[4] “Canalha” artigo de Heraldo Campos.
https://cacamedeirosfilho.blogspot.com/2025/07/canalha.html
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




