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Florestan Fernandes Jr

Florestan Fernandes Júnior é jornalista, escritor e Diretor de Redação do Brasil 247

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Depois da Chacina: o silêncio prudente e a palavra necessária de Lula

Tema é espinhoso e tem sido tratado com sensacionalismo eleitoreiro pelos governos de extrema-direita

Corpos estendidos nas ruas do Rio de Janeiro após a chacina policial que matou ao menos 121 pessoas - 29/10/2025 (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Com paciência, o presidente esperou a espuma baixar para manifestar sua crítica à matança da Operação Contenção. Não caiu na armadilha do embate raso, tão desejado pelos pré-candidatos à presidência da extrema-direita.

Só nesta terça-feira (04/11), oito dias após a ação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, o presidente Lula fez críticas à Operação Contenção, que resultou na morte de 121 pessoas. Para Lula, a operação foi desastrosa, com mortes desnecessárias. “A decisão do juiz era uma ordem de prisão, não uma ordem de matança”, afirmou o presidente.

Lula defende a participação de legistas da Polícia Federal nas investigações para esclarecer como ocorreram as mortes nos complexos do Alemão e da Penha. É fundamental que essas informações venham a público para desmistificar a falácia de que a operação comandada por Cláudio Castro foi um sucesso. Esse, aliás, deve ser um dos pontos centrais da CPI instalada no Senado Federal para investigar a atuação das milícias e do tráfico de drogas.

A cautela de Lula é correta. O tema é espinhoso e tem sido tratado com sensacionalismo eleitoreiro pelos governos de extrema-direita. Governadores que, na verdade, são os principais responsáveis pela ineficiência da segurança pública nas grandes cidades.

Alguém se esqueceu da fala do ex-governador Wilson Witzel, que resumiu sua política de segurança com a frase: “A polícia vai mirar na cabecinha e... fogo”? 

Qual foi o resultado dessa política de “bandido bom é bandido morto”? Nenhum. O crescimento das áreas controladas pelas milícias e por organizações criminosas não param de crescer. A violência, que antes se concentrava nas favelas, tem avançado assustadoramente por ruas e avenidas dos bairros de classe média e alta.

Está claro que matar bandidos e inocentes nunca foi a solução para melhorar a segurança nas grandes cidades. Quantas chacinas foram realizadas nos últimos anos pelas PMs do Rio de Janeiro? Vale olhar para trás e lembrar: são dezenas de operações empilhando corpos de jovens pobres e negros. Só no Alemão foram três operações. Mas houve também o Jacarezinho, a Vila Cruzeiro, Senador Camará, Fallet/Fogueteiro, e por aí vai.

Com paciência, o presidente esperou a espuma baixar para manifestar sua crítica à matança da Operação Contenção. Não caiu na armadilha do embate raso, tão desejado pelos pré-candidatos à presidência da extrema-direita.

O governo federal já deu exemplos claros a esses governadores de que não existe outro caminho senão o da integração entre as polícias federais, estaduais e municipais, com o uso de inteligência e o compartilhamento de informações. A Operação Carbono foi um divisor de águas entre a barbárie das ações letais e a eficiência do uso coordenado da informação para atingir o coração financeiro do crime organizado.

Além de desastrosa, a carnificina provocada pela Operação Contenção trouxe um prejuízo financeiro incalculável para a cidade do Rio de Janeiro. As imagens dos corpos enfileirados em uma praça na Penha chocaram o mundo. Muitos turistas, de dentro e fora do país, cancelaram suas viagens à Cidade Maravilhosa, um baque que pode afetar até a festa de Réveillon em Copacabana e os desfiles de Carnaval.

Uma pesquisa recente mostrou que turistas chineses colocaram o Rio de Janeiro como a quarta cidade do mundo que mais gostariam de conhecer. Depois dessas cenas de horror, será que ainda terão coragem de vir?

A Operação Contenção não foi uma vitória contra o crime. Foi a derrota da razão, da lei e da humanidade. E enquanto a bala for a única política de Estado, o Rio continuará sendo a cidade que mata o que tem de mais precioso: a sua própria gente. 

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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