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Sara York

Sara Wagner York ou Sara Wagner Pimenta Gonçalves Junior é graduada em Letras - Inglês (UNESA), Pedagogia (UERJ) e Vernáculas (UNESA), especialista em Gênero e Sexualidades (IMS/CLAM/UERJ), mestre em educação (UERJ) e doutoranda em Formação de Professoras/es (UERJ), pai, avó, pesquisadora e professora, a travesti da/na Educação.

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Dia Internacional do Orgulho LGBTI+

(Foto: Reuters)
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Você já viu que o mês de junho começou e com ele dois assuntos: As festas Juninas e o Orgulho LGBTI+. Vamos falar do segundo motivo festivo? Em 28 de junho de 1969 a polícia estadunidense entrou no Stonewall Inn, um bar gay[1] da cidade de Nova York e, alegando "conduta imoral", prendeu diversas pessoas trans ou “afeminadas”. Não usarei “travesti” por entender que tal palavra relaciona-se as identidades latinas e que pouco dialogam com aquele momento, apesar de um dos grandes nomes ser de uma latina.

Este tipo de abordagem era comum, inclusive em outros ambientes da comunidade e como mostram textos já mencionados no PROGRAMA DE TRAVESTI as tentativas de corporificação de movimentos trans no Brasil precedem essa data. Uma das mulheres que estava presa conseguiu se soltar e, junto com a população de simpatizantes que crescia ao lado de fora do bar, entraram em confronto com a polícia. Foi neste dia, então, que pela primeira vez aquelas pessoas reagiram contra esta violência constante.

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Os eventos de Stonewall são, portanto, um marco na luta por direitos da população LGBTI+. 

[1] Ainda não tínhamos tantas letras na sigla e mesmo lésbicas se apresentavam como “gays”, apesar da menção correta hoje ser Parada do Orgulho LGBTI+ por ressaltarem políticas públicas específicas.

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Como disse, apesar da revolta de Stonewall não ser o primeiro, mas talvez seja um dos mais importantes marcos do processo de organização coletivas de pessoas LGBTI em prol de um objetivo comum:

Enfrentar as violações, violências e lutar por direitos que foram negados!

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Stonewall foi um levante contra a violência policial, como outrora ocorria no Brasil, onde a polícia perseguia travestis, gays e lésbicas durante a ditadura militar. As muitas operações de extermínio de pessoas trans, gays “afeminados” e travesti ocorriam a céu aberto. Uma das operações mais publicizadas e maiores, talvez por ser no Estado de São Paulo foi a Operação Tarântula no final dos anos 1980. 

Parece que foi ontem! 

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E de fato foi... 

Encontro, cacetetes, gás de pimenta, tiros, balas de borracha, giletes, muita dor e muitas mortas nunca explicadas. Em 2017 a prefeitura de São Paulo no governo João Dória orientou que policiais prendessem 20 travestis na Praça da República por estarem exercendo o seu direito de trabalho. Parece que uma das profissões mais antigas do mundo ainda é estranha para aqueles que pouco conhecem as marcas dos brasileiros mais marginalizados pela ordem social.

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Marsha P. Johnson e Sylvia Rivera foram figuras fundamentais na história do movimento LGBTI, mas suas contribuições foram amplamente apagadas ao longo dos anos. Ambas enfrentaram múltiplas formas de opressão e discriminação, sendo mulheres trans, negra (no caso de Marsha) e latina (no caso de Sylvia), além de viverem em situação de rua e usar a prostituição como forma de subsistência.

Marsha P. Johnson liderou o levante no Stonewall Inn, um bar frequentado pela comunidade LGBTI em Nova York. Diante de uma repressão policial intensa, ela atirou o primeiro copo de vidro em direção às viaturas, tornando-se um símbolo da resistência e luta pelos direitos LGBTI. Essa ação simbólica marcou um ponto de virada na história do movimento e inspirou outras pessoas a se levantarem contra a opressão.

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Além de seu papel em Stonewall, Marsha também foi uma ativista incansável em defesa dos direitos das pessoas trans. Ela foi uma das fundadoras da S.T.A.R House, uma organização que oferecia apoio e assistência a travestis e transexuais em situação de vulnerabilidade social. O legado de Marsha P. Johnson é verdadeiramente inspirador. Ela desafiou os estereótipos e os sistemas de opressão, abrindo caminho para que outras pessoas trans e LGBTI pudessem lutar por seus direitos e serem reconhecidas. É crucial resgatar e preservar o protagonismo dessas mulheres em nossa história, para que a transfobia estrutural seja enfrentada e a população trans deixe de ser marginalizada e oprimida.

É importante lembrar que, infelizmente, em julho de 1992, após a Marsha do Orgulho LGBT, o corpo de Marsha P. Johnson foi encontrado boiando no rio Hudson. Esse trágico evento evidencia os desafios e os perigos enfrentados por ativistas LGBT, reforçando a necessidade contínua de combater a discriminação e promover a igualdade de direitos para todas as pessoas. Em 2019, Marsha e Sylvia tornaram-se estátuas na cidade de Nova York tendo suas memórias eternizadas, assim como Dandara da Silva, travesti brasileira assassinada em 2017 e cujo detratores gozaram de regalias quando julgados. 

E nossa Memória no Brasil?

O Arquivo Nacional Brasileiro desempenha um papel importante na preservação da memória e na documentação da história do Brasil, incluindo as histórias das populações marginalizadas. O arquivo é responsável por coletar, preservar e disponibilizar documentos e registros governamentais, além de receber doações de arquivos privados e pessoais.

As populações marginalizadas muitas vezes têm suas histórias negligenciadas ou sub-representadas nos registros históricos oficiais. No entanto, o Arquivo Nacional busca combater essa lacuna ao se esforçar para coletar e preservar documentos relacionados a essas populações. Isso inclui documentos que registram as lutas, conquistas, experiências e contribuições de comunidades indígenas, quilombolas, LGBTI+, mulheres, trabalhadores rurais, imigrantes, entre outros grupos marginalizados.

Ao disponibilizar esses documentos para pesquisa e acesso público, o Arquivo Nacional contribui para a divulgação e valorização das histórias dessas populações. Os pesquisadores, historiadores, estudantes e o público em geral podem acessar esses materiais para estudar, analisar e compreender melhor a diversidade e a complexidade da história do Brasil, bem como a luta por direitos e justiça social desses grupos marginalizados, como me conta a diretora da instituição, Ana Flávia Magalhães. Ana Flávia, professora da UnB que está a frente da instituição é a primeira diretora em toda história do Arquivo a contar em sua posse com pessoas cis e trans de modo direto, exaltando o carácter inclusivo do governo Lula 3.

O Arquivo Nacional também desenvolve ações educativas e programas de difusão cultural, promovendo a inclusão e a participação dessas populações na construção da memória nacional. Por meio de exposições, palestras, seminários e atividades educacionais, busca-se ampliar o conhecimento e o reconhecimento das contribuições históricas das populações marginalizadas, fortalecendo a identidade e a cidadania desses grupos. Abaixo uma página do Arquivo que expõe a censura no ano 1970 sobre o espetáculo tragicômico que nem havia sido exibido, mas já tinha sua censura decretada, simplesmente pela utilização da palavra “travesti”.

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O Arquivo Nacional, através da nova gestão – incansável e insistentemente ligada aos movimentos sociais - pode colaborar com as pautas LGBTI+ de diversas maneiras, contribuindo para a visibilidade, valorização e preservação da história e das lutas dessa comunidade. Algumas formas de colaboração incluem:

Coleta de documentos: O Arquivo Nacional pode buscar ativamente documentos relacionados à história LGBTI+, como registros de movimentos sociais, manifestações, publicações, depoimentos, documentos governamentais, entre outros. A coleta desses materiais ajuda a preservar a memória e os avanços conquistados pela comunidade LGBTI+.

Preservação e catalogação: É fundamental que o Arquivo Nacional preserve adequadamente os documentos relacionados à história LGBTI+, garantindo sua integridade física e digital. Além disso, é importante catalogar esses materiais de forma a facilitar sua localização e acesso por pesquisadores, estudantes e o público interessado.

Acesso à informação: O Arquivo Nacional deve garantir o acesso aos documentos relacionados à história LGBTI+, disponibilizando-os para consulta e pesquisa. Isso possibilita que estudiosos e o público em geral tenham acesso a informações relevantes para o entendimento da luta pelos direitos e pela igualdade da comunidade LGBTI+.

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Exposições e eventos: O Arquivo Nacional pode promover exposições, seminários, palestras e outros eventos relacionados à história LGBTI+. Isso ajuda a disseminar o conhecimento, promover a visibilidade e sensibilizar a sociedade sobre as questões enfrentadas pela comunidade LGBTI+ ao longo do tempo.

Parcerias e colaborações: O Arquivo Nacional pode estabelecer parcerias com organizações, instituições de pesquisa e entidades LGBTI+ para fortalecer sua atuação e expandir seu acervo. Essas parcerias podem incluir ações conjuntas de pesquisa, digitalização de acervos, programas educacionais e outras atividades que promovam a inclusão e a valorização da história LGBTI+.

É importante ressaltar que a colaboração do Arquivo Nacional com as pautas LGBTI+ contribui para a construção de uma sociedade mais inclusiva, respeitosa e igualitária. Ao registrar e preservar a história e as lutas da comunidade LGBTI+, o Arquivo Nacional reconhece e valoriza a importância dessas pautas, ajudando a promover a diversidade e o respeito à pluralidade de identidades no Brasil.

Precisamos de reparação histórica e nada mais exemplar que o exercício feito pela diretoria do Arquivo Nacional que em anos finalmente se orgulha de compor com todas, todos e todEs.

Reparação... 

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