Flávio finge que engana, e a Faria Lima e a velha direita fingem que são enganadas
“O filho ungido escolhe Tarcísio como seu ajudador e anuncia-se como a versão fofa do bolsonarismo”, escreve Moisés Mendes
Flávio Bolsonaro pode ser o mais novo fenômeno da extrema direita, pela capacidade de passar mensagens enviesadas e de obter resultados surpreendentes das bases que sustentam o bolsonarismo e das figuras que o esnobavam e podem se engajar ao seu plano para 2026.
Flávio anunciou-se o ungido pelo pai, logo depois admitiu que poderia ser desungido, mas com um preço a ser pago pelos que o tirassem do jogo, e depois voltou a ser um candidato convicto das suas possibilidades.
Como resultado do seu afinco, apareceu em situação melhor do que Tarcísio de Freitas na mais recente pesquisa da Quaest, que mediu suas chances contra Lula. Isso quer dizer o quê? Que estando 10 pontos atrás de Lula num segundo turno, Flávio seria hoje o Mirassol da eleição.
Mas até os jornalões venderam Flávio como competitivo. O filho rejeitado pelo centrão, por Malafaia, pela Faria Lima, pela mídia corporativa e até por parte do bolsonarismo raiz, esse filho entrou na arena.
Temos na Quaest o retrato tirado logo depois da superexposição como escolhido pelo pai. Ninguém foi mais mancheteado nos últimos dias, quando a pauta era a eleição, do que Flávio. Enquanto isso, Tarcísio se encolhia e os outros, Caiado, Zema e Ratinho, continuaram sendo os outros.
Temos então, como primeiros efeitos da unção, o entusiasmo de Flávio, que parece se levar a sério, a movimentação no mundo empresarial e na Faria Lima, que marcaram encontros com o senador, e os olhos arregalados do centrão.
Flávio já adequou uma figura do bolsonarismo ao seu novo papel. Tarcísio, que passa a ser uma personagem do entorno, foi enquadrado. O governador, disse o filho, será seu cabo eleitoral em São Paulo.
É mais do que uma manifestação de confiança. É a redução de Tarcísio à condição de seu ajudador. Flávio, que transmite certezas nos últimos dias, deixou claro que Tarcísio tem papel secundário a partir de agora.
O governador vacilão e extremista moderado é empurrado para um canto pelo escolhido. E as pesquisas, o mercado, Valdemar Costa Neto, o PT e os cientistas políticos passam a examinar o sujeito pelas partes.
Estão apalpando Flávio como o elefante da fábula dos cegos. Pegam a tromba, tocam nas patas, na cabeça e nas orelhas, tentando enxergar o que seria o todo, e seguram um pouco a euforia do antoengano quando chegam ao rabo.
Flávio está tentando enganar quem finge que está sendo enganado. Todo mundo sabe quem é Flávio e quem é Tarcísio, mesmo que os dois estejam se apresentando como praticantes da moderação bolsonarista. A tromba, as orelhas, as patas e o rabo são de um Bolsonaro.
Mas talvez Flávio possa estar fingindo que engana todo mundo para ganhar palco com o que seria uma falsa candidatura, para chegar com toda força à campanha para a reeleição ao Senado pelo Rio.
Mas há problemas. Se desistir, quando sentir que não tem armas para enfrentar Lula, quem irá substituí-lo? O Tarcísio ajudador agora esnobado? Michelle, que foi empurrada pela família para a cozinha? Alguém se arrisca a citar outros nomes em condições de enfrentar Lula?
Valdemar, Ciro Nogueira e Gilberto Kassab sabem que bicho a Faria Lima, a Globo e o centrão estão apalpando. Eles conhecem Flávio desde quando o pai dele era ajudador de Eduardo Cunha.
Sabem que o filho está se divertindo quando diz em jantares fechados que é a versão fofa do pai e recebe aplausos. A direita fina topou tomar um porre com Flávio para fugir das durezas da realidade.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




