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Leopoldo Vieira

Jornalista profissional, pós-graduado em Administração Pública e Ciência Política. Trabalhou como analista sênior de política na Faria Lima (TradersClub) e nos ministérios do Planejamento, Secretaria de Governo e Relações Institucionais nos governos Dilma Rousseff e Lula

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Lula rejeita "acordão" do establishment, vira para 2026 jogando no ataque

Lula encerra o ano em movimento de virada, na ofensiva política e com o horizonte cada vez mais plausível de um inédito quarto mandato presidencial

Presidente Lula durante entrevista coletiva à imprensa (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

Após distensionar a relação com o Congresso e garantir a aprovação das últimas medidas de sua agenda econômica — como a reforma tributária e o corte de benefícios fiscais, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que vetará o “PL da Dosimetria”. A proposta enfrenta rejeição de 47% da população, segundo a Quaest, e de 63%, conforme a AtlasIntel.

O presidente voltou a destacar seu empenho em reabilitar a separação, independência e harmonia entre os Poderes. "O Congresso tem o direito de fazer as coisas, eu tenho o direito de vetar e depois eles têm o direito de derrubar. Esse é o jogo”, afirmou Lula, em conversa com jornalistas nesta sexta-feira. O petista também reiterou que não terceiriza o comando político de seu governo, afirmando que, se não foi informado sobre algum acordo, “não houve acordo”.

Com uma única canetada, Lula sinalizará que não negociou qualquer redução de penas do ex-presidente Jair Bolsonaro, nem com a Casa Branca, nem com o Legislativo. Ao fazê-lo, reafirmará a democracia como eixo para a reconstrução da frente ampla contra o clã Bolsonaro, além de reforçar sua imagem de liderança antissistema. Nesse sentido, o presidente indicou que determinará a apuração rigorosa de eventuais irregularidades que resvalem em sua gestão, deixando claro que ninguém será poupado. “Se tiver filho meu metido nisso, ele será investigado”, disse Lula, ao comentar fraudes no INSS.

Em paralelo, o senador Flávio Bolsonaro dobra a aposta em sua pretensão ao Palácio do Planalto, bloqueando a ascensão de uma candidatura de centro como alternativa de governo. Ao mesmo tempo, ostenta a maior rejeição entre os presidenciáveis colocados até o momento, o que, na avaliação de agentes do mercado financeiro, tende a facilitar a reeleição de Lula, especialmente no contexto do início de um ciclo de queda dos juros previsto para janeiro. Em possível aceno à Faria Lima, o presidente defendeu a gestão de Gabriel Galipolo no Banco Central (BC) e sugeriu que pode transformar os Correios em uma empresa de economia mista.

 *NATAL E ANO NOVO* 

Caberá ao Congresso decidir se derrubará o veto presidencial e ao Supremo Tribunal Federal (STF) avaliar se concederá prisão domiciliar a Bolsonaro — preferencialmente antes do Natal, de acordo com a estratégia da defesa do ex-presidente com o lançamento de Flávio ao Executivo. Sem esse desfecho, o senador tende a manter sua candidatura, principalmente diante da instabilidade no câmbio, na Bolsa e nos juros futuros.

No entanto, ainda que analistas projetem a centralidade da pauta da segurança pública em 2026, com o "PL Antifacção" e a "PEC da Segurança" ficando para o primeiro semestre, o Planalto está bem posicionado na opinião pública contra o chamado “andar de cima” do crime organizado. Além disso, o fim da escala 6x1 e a flexibilização da jornada de trabalho devem ganhar grande destaque no próximo ano. A avaliação é de Felipe Nunes, sócio-fundador da Quaest. “Os brasileiros estão cansados, trabalhando demais, frustrados e querendo uma vida mais flexível. Esse sentimento será um dos nortes do debate eleitoral de 2026”, afirmou em entrevista à BBC Brasil. A medida é apoiada por cerca de 70% da população, por isso considerada capaz de "furar bolhas".

Assim, Lula encerra o ano em movimento de virada, na ofensiva política e com o horizonte cada vez mais plausível de um inédito quarto mandato presidencial, apesar da polarização, que, segundo o presidente, é o obstáculo à ampla aprovação de sua gestão.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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