Anielle Franco avatar

Anielle Franco

Ministra da Igualdade Racial

1 artigos

HOME > blog

Marchando por um Brasil com igualdade racial

Somos mais da metade da população brasileira, quase 56% segundo o último censo, mas continuamos enfrentando desafios e desigualdades estruturais

Rio de Janeiro (RJ), 20/11/2024 - Rio celebra dia Nacional da Consciência Negra no Monumento Zumbi dos Palmares, na região central da capital fluminense (Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil)

Neste 20 de novembro, feriado nacional e data que rememora a luta e resistência de Zumbi, Dandara e o quilombo de Palmares, é importante ecoar a relevante contribuição negra na construção e sustentação deste país. Somos mais da metade da população brasileira,  quase 56% segundo o último censo, mas continuamos enfrentando desafios e desigualdades estruturais que nos impedem de existir com bem-viver e dignidade. 

Travamos batalhas dia após dia para que o 20 de novembro não seja apenas uma data comemorativa, mas sim um marco nacional de denúncia, de ação coletiva e cuidado com a memória e luta por reparação para nosso povo. No campo institucional, temos atuado para ampliar políticas de ações afirmativas, fortalecer mecanismos de participação social, consolidar marcos legais de combate ao racismo e promover iniciativas que impactem diretamente a vida das populações negras de favelas e periferias, do campo e da cidade. Avanços recentes como a lei de cotas no serviço público, a renovação da lei de cotas nas universidades, o programa nacional Juventude Negra Viva, a titulação de mais de 30 territórios quilombolas devem ser celebrados como legado dessa nova gestão do presidente Lula e do Ministério da Igualdade Racial.

No campo da justiça social e econômica, nosso esforço tem sido no sentido de enfrentar as desigualdades a partir de uma perspectiva de reparação social e econômica. Segundo um estudo da UFG, 63,1% da população que trabalha na escala 6x1 é composta por trabalhadores negros (pretos e pardos), a maioria trabalhadores assalariados de baixa renda e dos trabalhadores informais é negra, concentrada em ocupações precarizadas e com menor proteção social. Esses dados evidenciam que a desigualdade não é apenas um problema social, mas enraizado na formação econômica-racial do Brasil. 

Por isso, defendemos medidas estruturais, queremos o fim da escala 6x1, queremos a taxação de super-ricos, o fortalecimento de políticas redistributivas e a criação de novos instrumentos de reparação histórica. No Congresso Nacional, estamos liderando o debate sobre um Fundo Nacional de Reparação que representa um passo importante para colocar na agenda do Estado brasileiro a responsabilidade de enfrentar de forma sistêmica os danos acumulados por séculos de escravidão, exclusão e violência institucional.

 Reafirmamos que a agenda da igualdade racial deve permanecer estruturante no Estado brasileiro. Isso significa garantir continuidade institucional, ampliar investimentos, fortalecer conselhos e mecanismos de participação e manter o diálogo permanente com movimentos sociais, organizações da sociedade civil e lideranças comunitárias de favelas e periferias. E neste novembro, mês que também marcharemos lado a lado com milhares de mulheres negras do Brasil e do mundo, iremos ecoar um manifesto pelo direito ao futuro, por uma política que não nos viole mas que permita que possamos ocupar e permanecer em espaços de poder. 

Seguiremos trabalhando para que o  Brasil avance de forma consistente na construção de um país mais justo, inclusivo e comprometido com os direitos da população negra. Com passado, presente e futuro a nossa frente, estaremos de mãos dadas marchando por um país com fomenta memória, planta reparação e colhe o bem-viver para todos.

*Colaborou a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ)

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Artigos Relacionados