II Marcha Nacional das Mulheres Negras se prepara para ocupar Brasília
Instituto Marielle Franco amplia mobilização com livro, manifesto, encontro de parlamentares negras e o Memorial Vivo
247 - A II Marcha Nacional das Mulheres Negras retorna a Brasília no próximo dia 25 de novembro, marcando uma década desde o primeiro grande ato de 2015 e reafirmando a centralidade das mulheres negras na disputa política nacional.
A participarão do Instituto Marielle Franco estará voltada a ações que fortalecem o legado político de Marielle Franco e ampliam a visibilidade das experiências das mulheres negras no debate público, reunindo familiares de vítimas da violência de Estado, parlamentares e ativistas de várias regiões do país.
A agenda se inicia com o lançamento do livro “Rosa das Resistências: trajetórias e aprendizados de mulheres negras não eleitas”, produzido em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo. A obra resgata histórias de dez mulheres negras que disputaram as eleições de 2024 e seguem atuando na defesa dos direitos humanos e da justiça racial, fruto de uma pesquisa desenvolvida no âmbito do projeto Fundo de Respiro.
Ainda na programação da Semana por Reparação e Bem Viver das Mulheres Negras, o Instituto promove o 3º Encontro da Bancada Marielle Franco, no dia 24, na Embaixada Francesa em Brasília. O evento reunirá mais de 70 parlamentares negras brasileiras e latino-americanas, além de suas equipes, para articular estratégias conjuntas de fortalecimento democrático e combate ao racismo institucional.
“A Bancada Marielle Franco é a prova de que o projeto político negro, popular e feminista segue se ampliando. Ao reunir mandatas negras do Brasil e da América Latina, afirmamos que a defesa da democracia passa pela nossa presença nas instituições, pelas nossas agendas e pela nossa memória”, afirma Luyara Franco, diretora do Instituto e filha de Marielle.
A marcha também será marcada por uma Sessão Solene na Câmara dos Deputados, das 9h às 12h30, em homenagem à luta das mulheres negras por reparação e bem viver. Representantes de organizações sociais, parlamentares e autoridades participarão da cerimônia, que contará com a fala de Luyara Franco sobre memória e legado.
Outro momento de destaque é o lançamento do Manifesto Nacional da Rede de Sementes, documento político e poético que reúne diagnósticos, relatos e reivindicações de mulheres negras de todo o Brasil, reafirmando o compromisso com a justiça racial e a construção coletiva de um futuro mais digno.
Durante a II Marcha, o Instituto apresentará o Memorial Vivo – As Rosas da Resistência Nascem do Asfalto, uma intervenção que convida as participantes a registrarem suas histórias por meio da Bike de Memórias. Cada mulher poderá escolher um objeto simbólico de sua trajetória, nomeá-lo, registrá-lo e depositá-lo para compor um acervo coletivo que servirá de base para uma futura exposição sobre ativismo e resistência.
“O Memorial Vivo mostra que cada objeto, cada cartaz, cada lembrança é parte de um arquivo político que o Brasil precisa reconhecer. O futuro que queremos passa pela valorização das nossas memórias, que não podem cair no esquecimento. Será um ponto alto da nossa marcha e convidamos todas estarem conosco”, diz Luyara.
O cenário em que a II Marcha Nacional das Mulheres Negras acontece é marcado pelo avanço da violência política, pelo agravamento da letalidade policial e pelos ataques à memória histórica do povo negro. Entre 2013 e 2024, mais de 6 mil pessoas por ano foram mortas em ações policiais, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Casos como o de João Pedro, de 14 anos, morto dentro de casa em São Gonçalo, e o de Kathlen Romeu, de 24 anos, grávida, assassinada no Complexo do Lins, simbolizam a face mais dura da violência de Estado.
Nesse contexto, movimentos de mães e familiares de vítimas — majoritariamente mulheres negras periféricas — têm se organizado para exigir justiça, verdade e reparação, defendendo a memória de jovens cujas vidas são sistematicamente desvalorizadas pelo Estado brasileiro. A II Marcha, portanto, reafirma a luta coletiva por dignidade, reconhecimento e futuro.



