O ataque a Alexandre de Moraes e a necessidade de prudência
Como propaganda, interesses financeiros e jornalismo moldam narrativas falsas do passado à polêmica Moraes e Banco Master
A crença de que as fake news nasceram com as redes sociais é, além de equivocada, historicamente ingênua. A mentira organizada, a manipulação de informações e a construção deliberada de narrativas falsas acompanham a humanidade desde que o poder descobriu que controlar versões dos fatos é tão eficaz quanto controlar exércitos. As plataformas digitais apenas aceleraram um fenômeno antigo; não o inventaram.
Durante a Primeira Guerra Mundial, governos europeus mobilizaram suas populações com campanhas de propaganda baseadas em exageros, omissões e mentiras deliberadas sobre o inimigo. A informação era arma de guerra. Décadas depois, a invasão do Iraque pelos Estados Unidos foi justificada com base na suposta existência de armas de destruição em massa - uma narrativa sustentada por governos e amplificada por veículos de imprensa planeta a fora. As armas nunca existiram, mas a guerra aconteceu, vidas foram perdidas e interesses geopolíticos e econômicos foram preservados.
No Brasil, não faltam exemplos. O caso da Escola Base, em São Paulo, é talvez um dos episódios mais cruéis da história do jornalismo nacional. Uma acusação falsa, construída sem provas, destruiu reputações, famílias e vidas. Não houve redes sociais, não houve algoritmos. Houve imprensa, manchetes e irresponsabilidade.
Mais recentemente, a Operação Lava Jato mostrou como a repetição incessante de vazamentos seletivos, em sua maioria sem comprovação posterior, foi tratada como verdade absoluta. Jornalistas faziam plantão em Curitiba para divulgar informações que, anos depois, se revelaram parciais, distorcidas ou simplesmente inverídicas. A narrativa precedeu os fatos - e os fatos foram moldados para caber na narrativa.
É à luz dessa história que devem ser observados os ataques recentes ao ministro Alexandre de Moraes, baseados em uma notícia sem fontes nomeadas, sem documentos apresentados, mas com enorme poder de repercussão. A acusação de que ele teria interferido em favor do Banco Master ganhou tração não pela solidez das evidências, mas pela conveniência política e econômica de quem a espalhou.
Quando se fala de mercado financeiro, é preciso lembrar que os interesses envolvidos são gigantescos. Bilhões de reais circulam nesse ambiente, e disputas de poder não se resolvem apenas nos tribunais ou na Bolsa de Valores, mas também no campo simbólico da opinião pública. André Esteves é apenas um entre muitos atores com interesses diretos ou indiretos nesse tabuleiro.
Também é necessário olhar com atenção para o papel da própria imprensa. Há jornalistas que comentam política e economia enquanto mantêm vínculos familiares diretos com o mercado financeiro - inclusive com instituições interessadas nos temas que analisam. Isso não é crime, mas exige transparência, sob pena de se confundir análise com defesa de interesses. E por parte da audiência, muita atenção na análise do conteúdo divulgado.
No caso específico do ministro Alexandre de Moraes, é evidente que o contrato profissional de sua esposa precisa ser explicado com clareza. Transparência é um dever de qualquer autoridade pública. Mas transformar esse fato, isoladamente, em prova de crime ou imoralidade é, no mínimo, precipitação - e, no limite, má-fé.
A história nos ensina que mentiras repetidas com convicção não se tornam verdade, apenas ganham audiência. Combater fake news não é censurar, mas exigir método, responsabilidade e compromisso com os fatos. Sem isso, seguimos presos a um ciclo antigo: o da mentira travestida de denúncia, usada como instrumento de poder. Por isso, penso que ir muito devagar com o andor seja uma boa receita de vó para tratar esse episódio Moraes e Banco Master.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




