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Alex Solnik

Alex Solnik, jornalista, é autor de "O dia em que conheci Brilhante Ustra" (Geração Editorial)

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O crepúsculo do clã (2018-2025)

Valdemar já escolheu a favorita

Michelle Bolsonaro - 23 de novembro de 2025 (Foto: Reuters/Mateus Bonomi)

Tal como Norma Desmond que, ao descer a escadaria de mármore da sua mansão supunha estar diante dos holofotes de Hollywood, mas na verdade eram flashes dos repórteres policiais, atrás dos quais a esperavam algemas, Jair Bolsonaro ainda supõe coroar seu príncipe herdeiro, mas é só um Popay sem espinafre.

Enquanto Flávio lia a patética cartinha de pré-candidato, à frente de alguns repórteres, Michelle assumia, nas redes sociais, o comando do clã, sob as bênçãos de Valdemar Costa Neto.

Ela tem cargo, salário, assessores, jatinho. Pronta para decolar. E destronar seus enteados.

Valdemar não pode falar com Bolsonaro. Nem quer. Nem precisa. O ex-poderoso chefão da extrema-direita virou sinônimo de inimigo da democracia. Não há acampamentos dando “bom dia, Bolsonaro!” Navega como um zumbi entre leitos de hospitais e da Polícia Federal. Seu símbolo é uma solda elétrica. Sua coroa é uma tornozeleira. Não tem salário, nem cargo, nem futuro. Nem redes sociais.

Michelle vai cuidar com desvelo de seu cadáver político. E vai chorar lágrimas de crocodilo quando chegar a hora. E vai lhe dar um enterro de luxo.

Os príncipes herdeiros viraram sapos. O mais afoito, carimbado como Joaquim Silvério dos Reis, terá de escolher entre o exílio na Disneylândia e uma cela na Papuda. O Goebbels tupiniquim não tem mais o gabinete do ódio. Só o ódio.

Valdemar deve ter dado aquele sorriso de hiena ao ouvir a leitura da cartinha de Natal. Flávio é sinônimo de Queiróz, de rachadinha, de loja de chocolate. Se é que ouviu. É outra sua galinha dos ovos de ouro.

Ela é jovem, bonita, boa oradora e tem os evangélicos a seus pés. Não precisa do sobrenome que um dia foi o cálice de Graal, mas hoje virou kriptonita. É a pupila do Valdemar, não do Jair. Não foi contaminada pela tornozeleira nem pela solda elétrica do marido-zumbi. Não tem telhados de vidro.

Não é páreo para Lula, nem Valdemar sonha com essa megasena. Mas pode eleger deputados para rechear o já farto cofrinho do seu padrinho. Em 2026. E alçar voos mais altos depois de Lula deixar o poder e entrar na história como quem foi maior que Getúlio.

Sem precisar dar um tiro no coração.    

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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