O Grito dos Excluídos ecoa no 7 de setembro
Em 2025, o Grito dos Excluídos ganha ainda mais sentido diante do julgamento dos articuladores do golpe de Estado
O 7 de setembro é tradicionalmente marcado por desfiles militares e rituais oficiais que buscam reafirmar a pátria como um projeto concluído. Mas há trinta anos, uma outra tradição se consolidou nesse mesmo dia: o Grito dos Excluídos, mobilização nacional que reúne trabalhadores, movimentos sociais, pastorais, sindicatos e comunidades para lembrar que a independência proclamada em 1822 continua inacabada.
O Grito dos Excluídos nasceu em 1995 como uma manifestação popular alternativa às comemorações oficiais do Dia da Independência. Enquanto os desfiles militares e cívicos evocam a narrativa tradicional da construção do Estado nacional, o Grito coloca no centro da cena aqueles que historicamente ficaram à margem: trabalhadores sem terra e sem teto, povos indígenas, comunidades periféricas, migrantes, desempregados e toda a população que se sente marginalizada ou mal atendida pelas políticas públicas.
Este ano, o Grito voltou a ocupar as ruas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e de inúmeras cidades pelo país. Seu simbolismo é poderoso: enquanto o Estado celebra a narrativa oficial, as ruas lembram que milhões ainda vivem sem direitos básicos — moradia, trabalho digno, saúde, educação, segurança alimentar. É o contraponto entre uma independência formal e a independência real, que só será conquistada quando todos tiverem dignidade.
Se o 7 de setembro de 1822 foi um ato das elites que não aboliu a escravidão nem democratizou a terra, o Grito dos Excluídos atualiza esse déficit histórico. É a voz do Brasil profundo, dos que carregam o peso das desigualdades, denunciando que a soberania não pode ser entendida apenas como fronteiras seguras, mas também como capacidade de garantir vida plena ao seu povo.
Este contraste ganha ainda mais força em 2025, quando a soberania nacional é desafiada também no cenário internacional. Internamente a democracia brasileira enfrenta conspirações e discursos de intolerância. O Grito dos Excluídos surge como um lembrete: não há independência verdadeira sem justiça social e participação popular.
Ao longo dos anos, o Grito tornou-se um espaço de encontro entre diferentes lutas: povos indígenas, quilombolas, juventude periférica, trabalhadores rurais e urbanos, movimentos feministas e ambientais. Ele mostra que a pátria não se resume à imagem oficial projetada no desfile militar. A pátria real está nas ruas, nas comunidades, nos que resistem e constroem diariamente o Brasil que queremos.
Assim, cada 7 de setembro traz consigo dois atos simultâneos: um oficial, que celebra o passado, e outro popular, que projeta o futuro. O Grito dos Excluídos é a afirmação de que a verdadeira independência ainda está por ser conquistada — e que esse caminho se fará com democracia, soberania e igualdade social.
Em 2025, o Grito dos Excluídos ganha ainda mais sentido diante do julgamento dos articuladores do golpe de Estado de janeiro de 2023. Setores conservadores tentam proteger os criminosos, entre eles o ex-presidente Jair Bolosonaro, vários militares de altas patentes e outros que contribuíram para desestabilizar a Democracia Brasileira. No Congresso, tomado pela direita é tramada uma anistia que significaria a consagração da impunidade. O Brasil não pode repetir os erros do passado: a independência só será plena se houver justiça contra os que atentaram contra a democracia e se a soberania nacional for defendida não apenas nas fronteiras, mas também contra a captura interna por elites cúmplices de interesses estrangeiros. Nesse contexto, o Grito é mais do que denúncia: é afirmação de resistência popular contra o autoritarismo e contra a farsa de uma independência que continua a excluir a maioria do povo brasileiro.
Este ano, o Grito também se entrelaça à presença do Movimento Geração 68, formado por homens e mulheres que enfrentaram a tortura e a perseguição durante a ditadura militar. São vozes que carregam na pele a memória da repressão e que, ao marcharem com a bandeira do “Ditadura Nunca Mais”, lembram ao país que a democracia não é um dado, mas uma conquista frágil que precisa ser defendida todos os dias. Sua participação é um alerta poderoso: aqueles que um dia combateram o autoritarismo seguem vigilantes, denunciando as tentativas de golpe e reafirmando que o Brasil não aceitará retrocessos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




