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Leonardo Giordano

Secretário das Culturas de Niterói

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O poder transformador da cultura geek

O movimento geek se consolida como força estratégica de cultura, educação e inovação

O poder transformador da cultura geek (Foto: Stephanie Lindgren / Red Bull Content Pool via Reuters)

Por Leonardo Giordano, Márcio Filho e Igor Alves*

Niterói é a terceira cidade mais geek do Brasil, segundo levantamento da Amazon que analisou o consumo de produtos desse universo em municípios com mais de 100 mil habitantes. Mas o que isso significa? Os geeks são parte da nova cultura pop no mundo. E estão muito longe dos estigmas construídos sobre os nerds do fim da década de 1980 e início dos anos 1990, quando protagonizaram posições pouco abonadoras em filmes de Hollywood.

Hoje, por exemplo, trata-se de um dos principais mercados da economia criativa do mundo. Somente o setor dos jogos eletrônicos movimenta mais do que o dobro da soma das indústrias fonográfica e cinematográfica global. Na cidade, esse segmento tem mostrado que não só não fala mais das questões infantojuvenis exclusivamente, mas que também ultrapassou qualquer barreira que se pudesse impor à temática. Sermos a terceira cidade mais geek evidencia o vigor e a relevância de um movimento cultural que se apresenta como uma força simbólica, econômica e cidadã que atravessa gerações e impacta diversas áreas da vida social, da educação ao entretenimento, da arte à inovação tecnológica

 Bom exemplo aconteceu na recente iniciativa “Geek Pelos Pets”, acolhida pelo poder público em equipamento cultural da prefeitura da cidade, onde além de poderem curtir todo tipo de atividade - dos games aos quadrinhos, do K-Pop ao Cosplay - os mais de 600 participantes foram convidados a abraçar a causa animal, doando mais de 500 quilos de ração e mesmo adotando os bichinhos. 

Na Cidade Sorriso, temos orgulho de ver esse fenômeno crescer e ser reconhecido como política pública fundamental, sempre buscando uma transversalidade que permite conectar diferentes públicos e gerações, promovendo inclusão e o exercício do direito à cultura. Esse direito é um princípio legal e um instrumento vital para combater exclusões históricas e afirmar a diversidade. Trata-se de uma construção de pertencimento e reafirmação de identidades plurais.

Além do aspecto simbólico, a cultura geek é um dos motores mais potentes da economia criativa no Brasil. A Pesquisa Game Brasil 2025 indica que quase 83% da população joga videogame, colocando o país no topo do mercado latino-americano. Aqui, essa força se traduz em estúdios independentes, produções audiovisuais e projetos educacionais que geram emprego, renda e inovação. 

O setor movimenta bilhões ao redor do globo, forma profissionais, impulsiona a economia local e está em constante crescimento. Segundo dados da Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais (Abragames), em 2014 havia 150 estúdios desenvolvedores no Brasil, já em 2024, esse número chegou a 1.042, um crescimento de 695%, o que representa um mercado sete vezes maior em apenas dez anos.

Nesse espaço dos games, a cidade tem também um destacado papel. Os jogos eletrônicos tem servido a estimular as questões referentes à educação, ciência e inovação, lado-a-lado com a cultura, como na atividade construída com a Universidade Federal Fluminense (UFF) na Game Jam promovida em junho último, quando mais de 80 pessoas se reuniram para desenvolver jogos que falavam de temas como educação midiática e antirracista.

Não só na academia - onde a UFF se destaca como um dos principais pólos de pesquisa do mundo - mas também no mercado produtivo a cidade tem importante papel, tendo aqui expoentes do setor de jogos aplicados à educação, estúdios especializados em jogos transmídias para grandes conglomerados audiovisuais nacionais e até mesmo a aparição de um dos primeiros jogos massive multiplayer online brasileiro de todos os tempos.

No campo da cidadania, o movimento também promove engajamento social e cria redes de pertencimento que vão além do entretenimento. Em Niterói, coletivos e eventos locais estimulam a solidariedade, a responsabilidade social e a construção de narrativas inclusivas. Grandes encontros culturais e festivais, voltados para toda a família, como o Niterói Expo Geek e o Baile dos Super Heróis de Carnaval, fortalecem essa presença e se consolidam como importantes espaços de convivência, cultura e diversidade.

O movimento geek, assim, se consolida como força estratégica de cultura, educação e inovação ao reunir linguagens diversas que formam uma rede simbólica e criativa capaz de fomentar pertencimento e inclusão. Ele estimula a economia criativa local, gerando oportunidades de emprego, circulação de ideias e formação de público. Ao adotar políticas públicas que reconhecem e incentivam essas expressões Niterói posiciona-se como polo contemporâneo, articulando esses saberes com os valores da cultura pop.

A cidade tem avançado na construção de uma política cultural sólida, com iniciativas e editais específicos para o setor, posicionando-se como referência nacional. Na Lei Paulo Gustavo, por exemplo, a Secretaria Municipal das Culturas direcionou R$ 200 mil para criação de protótipos de jogos que tem divulgado a cidade em grandes eventos regionais e nacionais. Investir na cultura geek é garantir o direito à cultura, fomentar a geração de emprego e renda, e promover uma cultura plural e inovadora.

Mais do que manifestação artística, a cultura geek é ciência, tecnologia, educação e inovação em movimento. Reconhecer sua importância é entender que o futuro da cultura brasileira passa pela valorização dessas expressões e das comunidades que as produzem. Niterói não está apenas acompanhando essa transformação, está na linha de frente, protagonizando uma nova narrativa cultural.

*Márcio Filho é presidente da ACJOGOS-RJ e diretor executivo da GF Corp, empresa voltada para soluções gamificadas. Com uma trajetória sólida que abrange mais de duas décadas de atuação, destaca-se pelo seu engajamento social em defesa de políticas públicas voltadas para o setor de jogos, como na participação ativa na aprovação do Marco Legal dos Games. É especialista em Games e Sociedade, e atua diretamente no desenvolvimento de tecnologias enquanto potencializadoras da educação.

*Leonardo Giordano é secretário das Culturas de Niterói e entusiasta das culturas pop, games e inovação como ferramentas de transformação social.

* Igor Alves Pinto é advogado, doutor em Direitos Humanos, diretor de difusão cultural da Secretaria Municipal das Culturas e articulador do Movimento Geek de Niterói.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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