Mario Vitor Santos avatar

Mario Vitor Santos

Mario Vitor Santos é jornalista. É colunista do 247 e apresentador da TV 247. Foi ombudsman da Folha e do portal iG, secretário de Redação e diretor da Sucursal de Brasilia da Folha.

116 artigos

HOME > blog

O silêncio de Tarcísio é reação ao rótulo de traidor que o clã Bolsonaro colou em sua testa

Tarcísio perdeu a disputa e se vê agora definitivamente rotulado de público pelo bolsonarismo raiz como pessoa não confiável

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas - 31/10/2024 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

Tarcísio nunca se iludiu com a candidatura a presidente, pois julgava que a chance maior se se lançasse era de perder o Planalto e o Bandeirantes. 

Agora, sua recusa em apoiar de público e de pronto a candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência tem a ver com o fato de que essa candidatura soou como um veto do clã ao nome dele, Tarcísio,  que sempre foi fiel e parceiro do ex-presidente em sua luta contra a condenação e nos ataques ao Supremo. 

Com o veto, Tarcísio se vê definitivamente rotulado de público pelo bolsonarismo raiz como pessoa não confiável. Em episódios anteriores, essa acusação de traição contra Tarcísio foi expressa por Eduardo e Carlos, sem apoio de Jair ou Flávio. Pois, a versão de Eduardo e Carlos prevaleceu, deixando Tarcísio exposto aos ataques da matilha mais radical do bolsonarismo.

Só que, ao não apoiar de imediato, Tarcísio pode dar razão ao  argumento bolsonarista de que ele não é mesmo confiável, apesar de tudo.

Evidentemente,  Tarcísio considera que não está sendo bem tratado. 

A Tarcísio pode ser alegado que as palavras dele proprio têm peso. Não fazia sentido mesmo, numa perspectiva realista, a candidatura arriscada a presidente abrindo o flanco em São Paulo. Ele próprio era o primeiro a sugerir isso. Então não deveria fazer tipo agora quando quem teria que decidir decidiu.

Na verdade, Tarcísio direta ou indiretamente também vinha vetando um nome do clã como agora fica claro.

Resta saber se e quando virá o acerto entre as facções, mesmo em meio ao sistema sobrecarregado, pois supõe-se que ninguém queira agravar ainda mais o quadro. O estrago está feito, sua superação ainda depende da mediação de Jair, e terá um preço.

Como chefe do governo mais poderoso, Tarcísio acreditava que herdaria a liderança do seu campo político, no impedimento de Jair Bolsonaro. O clã uniu-se em uma outra perspectiva. Houve uma disputa pela liderança da oposição e Tarcísio perdeu.

Se vai aceitar sem reagir a essa derrota desonrosa é o que está sendo decidido. O caminho futuro de Tarcísio junto ao bolsonarismo virou um beco.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

Artigos Relacionados