Racismo, tragédia persistente
Episódio em escola paulistana expõe como o preconceito segue infiltrado no cotidiano brasileiro
Sabemos que pequenos episódios da vida cotidiana podem revelar situações vergonhosas na formação de um país. Foi assim na Escola Municipal Antonio Bento, no Caxingui, bairro popular de São Paulo. Como parte de um esforço cotidiano pela formação de seus alunos, a direção apresentou à criançada um trabalho instrutivo e direto – colorir os personagens do livro “Ciranda de Aruanda”. A proposta era simples: permitir a cada criança colorir os personagens, em um exercício saudável de aceitação e convivência com um dos elementos fundamentais de nossa cultura – o convívio entre brancos, pretos e amarelos –, num esforço para construir uma sociedade fraterna e sem preconceitos.
Como até se poderia imaginar, neste país onde a opressão da escravatura mobiliza mentalidades mais de um século após o 13 de maio de 1888, apareceu o pai de um aluno, que levou o filho para longe enquanto dirigia palavras ofensivas à direção da escola: “Tem coisas que eu não gosto, vocês estão colocando umbanda na vida da minha filha.” No dia seguinte, quatro policiais armados compareceram à Antonio Bento, dirigindo-se à diretoria para tomar satisfação, numa demonstração de truculência inaceitável num país onde desde cedo se aprende que o racismo é um crime persistente, a ser combatido aqui, agora e sempre. Alguma dúvida?
(Com informações publicadas pela Folha de S. Paulo em 19 de novembro de 2025, Dia da Bandeira)
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.



