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Moradores cobram apuração após PM entrar armada em escola por desenho de orixá em SP

Os policiais permaneceram cerca de uma hora na unidade, onde foram descritos como hostis com a equipe escolar

Candomblé e Umbanda, as maiores vítimas da intolerância religiosa (Foto: FOTO: Reprodução)

247 - Moradores dos bairros Caxingui e Instituto de Previdência, na zona oeste de São Paulo, organizaram um abaixo-assinado para cobrar a atuação da Corregedoria da Polícia Militar após quatro PMs entrarem armados na Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Antônio Bento. A ação ocorreu após o pai de uma aluna de 4 anos denunciar que a criança havia sido obrigada a ter “aula de religião africana”. As informações foram divulgadas pelo Metrópoles.

Os policiais permaneceram cerca de uma hora na unidade, onde foram descritos como hostis com a equipe escolar. Um dos agentes portava uma metralhadora. A direção da Emei explicou que a atividade fazia parte da leitura do livro infantil Ciranda em Aruanda, integrante do acervo oficial da rede municipal, seguida de desenhos produzidos pelas crianças. A menina havia ilustrado Iansã, orixá ligada aos ventos e tempestades.

O episódio provocou indignação na comunidade. O abaixo-assinado, que reuniu cerca de 800 assinaturas em poucas horas, pede que a conduta dos policiais seja investigada por possível abuso de autoridade e violação dos direitos das crianças. O documento também solicita responsabilização do pai, acusado de rasgar o mural onde estava exposto o desenho da filha.A advogada Beatriz Branco, de 34 anos, moradora da região, afirmou ao Metrópoles que decidiu iniciar a mobilização após ler sobre o caso. “Todo mundo ficou muito estarrecido com o que aconteceu”, disse. Para ela, o episódio evidenciou a importância do trabalho antirracista nas escolas. “Esse pai, se tivesse tido esse tipo de educação que a escola está oferecendo, provavelmente ele não teria esse tipo de reação. Foi preconceito. Eu não sei qual a religião dele, mas eu respeito. Foi um desrespeito às culturas diferentes da dele.”A atividade pedagógica

Funcionários afirmaram que a atividade fazia parte de uma ação educativa sobre diversidade cultural. O livro Ciranda em Aruanda, de Liu Olivina, apresenta dez orixás com linguagem acessível e foi classificado como “Altamente Recomendável” pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Após a leitura, cada criança desenhou o que entendeu da história, e os trabalhos foram expostos no mural da escola.

Reações políticas e pedido de intervenção federal

Parlamentares do PSol — a deputada federal Luciene Cavalcante, o deputado estadual Carlos Giannazi e o vereador Celso Giannazi — acionaram o Ministério da Igualdade Racial. O grupo solicitou acompanhamento do caso e recomendações ao governo estadual e municipal sobre protocolos policiais em escolas, especialmente proibindo o uso ostensivo de armamento pesado em unidades de educação infantil.No ofício enviado ao ministério, os parlamentares afirmam que “a escola, e não o autor dos atos de truculência, foi tratada como suspeita”. Eles também pedem ações formativas para prevenção do racismo religioso e apoio à implementação do currículo antirracista previsto em lei.Além disso, os parlamentares acionaram o Ministério Público de São Paulo e a Corregedoria da PM, pedindo o afastamento cautelar dos agentes envolvidos enquanto durarem as apurações.Outro lado

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) disse que os policiais conversaram com o pai e com a diretora da Emei, orientando ambos a registrar boletim de ocorrência. A pasta afirmou ainda que o armamento pesado faz parte do Equipamento de Proteção Individual (EPI) e é portado durante todo o turno.A SSP não respondeu, até o momento, se uma investigação formal foi aberta na Corregedoria. A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação, reiterou que o trabalho da aluna “integra uma produção coletiva” e que a atividade está de acordo com o Currículo da Cidade, que estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena.Enquanto as investigações não avançam, a comunidade escolar segue mobilizada em defesa da Emei Antônio Bento e na cobrança por responsabilidade e medidas que impeçam novos episódios de intolerância religiosa e intimidação em ambientes educacionais.

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