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Leopoldo Vieira

Jornalista profissional, pós-graduado em Administração Pública e Ciência Política. Trabalhou como analista sênior de política na Faria Lima (TradersClub) e nos ministérios do Planejamento, Secretaria de Governo e Relações Institucionais nos governos Dilma Rousseff e Lula

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Segurança: Motta e Tarcísio são perdedores da semana; Derrite é a causa

Derrite conseguiu o improvável: impor um revés ao campo do centro e da direita "dentro de casa", proporcionando uma vitória política relevante ao governo Lula

Hugo Motta e Tarcísio de Freitas (Foto: Douglas Gomes/Liderança do Republicanos)

Com o adiamento da votação do marco legal do crime organizado — primeiro para a última quarta-feira e, depois, para a próxima terça —, o principal derrotado político da semana foi o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, apesar de inflexões destinadas a contemplar insatisfações do Palácio do Planalto, pressões da opinião pública mobilizada pelo governismo e alertas de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Motta insistiu em patrocinar como relator Guilherme Derrite, cujo texto, acabou rejeitado tanto pela situação quanto pela oposição, incluindo governadores.

Na condução do processo, Derrite demonstrou pressa eleitoral, mas vacilou em atender às expectativas da direita. Sua atuação sugeriu improviso em um tema sensível e, agora, politicamente disputado,  deixando no ar suspeitas de que seu texto poderia enfraquecer operações voltadas ao “andar de cima” das organizações criminosas — onde atuam políticos, empresários e financistas de fachada, de acordo com especialistas. Como é secretário de Segurança Pública de São Paulo, a percepção tende a ser associada ao projeto presidencial de Tarcísio de Freitas.

"A MONTANHA PARIU UM RATO"

Em paralelo, a repercussão tímida da operação policial no Rio de Janeiro sobre a popularidade  e favoritismo do presidente Lula, segundo Paraná Pesquisas e Genial/Quaest, pode ser vista como outro fator do esfriamento e do impasse em torno do marco legal do crime organizado. Na Quaest, a rejeição ao governo Lula na área da segurança pública caiu quatro pontos, enquanto a avaliação “regular” subiu na mesma proporção. Ainda, 55% dos entrevistados disseram não querer uma operação como a do RJ em seus estados, e apenas 11% acreditam que segurança se resolve com mais polícia nas ruas, conforme dados sistematizados pelo cientista político Josué Medeiros (UFRJ). Já a redução da vantagem do presidente sobre seus adversários pode ser creditada ao acirramento do clima eleitoral polarizado, provavelmente causado pela superexposição da pauta da segurança. "A montanha pariu um rato", avaliou Medeiros.

Enquanto isso, o Planalto encerra a semana promovendo a imagem de estar em plena atividade, com avanços concretos na COP30, como a efetivação do fundo de florestas, e a possibilidade de novos entendimentos com Washington. Resta observar se a “CMPI” do INSS conseguirá manter o destaque que ganhou com prisões de ex-autoridades do setor e, neste caso, se trará desgaste ao Planalto ou se recairá sobre a gestão Jair Bolsonaro. O governo Lula tem demonstrado capacidade de disputar posições e reverter cenários adversos, surpreendendo a análise política tradicional.

"SERIAL FLOPERS"?

Ao lado do “PL da Dosimetria”, o marco legal do crime organizado é a segunda grande aposta de Motta que, apesar de prometer amplo apoio parlamentar, resultou em sucessivos desacordos e adiamentos. Lideranças oposicionistas já apostam que o projeto sequer será analisado na próxima semana. O governador do RJ, Claudio Castro, que teria dito "botei o Lula na lona" (com a operação), reivindicou mais 30 dias para a proposta ser pautada. 

Em síntese, Derrite conseguiu o improvável: impor um revés ao campo do centro e da direita "dentro de casa", proporcionando uma vitória política relevante ao governo Lula em meio às previsões de prisão iminente de Bolsonaro, o que tem prejudicado o potencial de uma cena para lançar Tarcísio como substituto do ex-presidente.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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