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Maurici de Morais

Deputado estadual (PT-SP)

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Tarcísio derreteu em 2025; e 2026 promete ser ainda pior

Escândalos, aliados suspeitos e decisões desastrosas empurram o governador para o pior momento de sua carreira política

Brasília (DF) - 29/11/2024 - O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O ano de 2025 foi para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, riscar da memória. Poucas vezes se viu um político tropeçar tanto em tão pouco tempo. Resta saber se a máscara de “gestor público eficiente”, construída ao custo de muito marketing pessoal, resiste até 2026. Se eu tivesse que apostar, diria que não.

A crise mais recente envolve a prisão de Daniel Vorcaro, dono do Banco Master. A instituição entrou em liquidação e vai deixar um rastro de prejuízo. Mas há um detalhe nessa história sobre o qual pouco se falou: a proximidade do governador com essa turma, que agora está na mira da Polícia Federal.

Fabiano Zettel é cunhado de Daniel Vorcaro e também o maior doador pessoa física da campanha de Tarcísio. Sozinho, despejou R$ 2 milhões do próprio bolso para a eleição do governador. Um “investimento” com retorno altíssimo e, o melhor, a curto prazo. Do jeitinho que a Faria Lima gosta.

Eleito, Tarcísio privatizou a Emae. Na sequência, o Fundo Phoenix, vencedor da disputa pela estatal, investiu R$ 160 milhões em CDBs do Letsbank. E sabe quem é o dono do Letsbank? O Banco Master.

Entendeu? O grupo que ganhou uma das maiores privatizações do governo Tarcísio investiu milhões no banco do cunhado do seu maior doador de campanha. A transação, feita sem alarde, só foi descoberta agora, com a operação da Polícia Federal que culminou na prisão de Vorcaro e expôs uma conexão, no mínimo, suspeita.

Não para por aí. A segunda maior doadora pessoa física da campanha de Tarcísio, com uma contribuição generosa de R$ 500 mil, também está na mira da Polícia Federal. A pecuarista Maribel Golin é suspeita de participar de um esquema de lavagem de dinheiro para o PCC.

O mesmo crime pelo qual também é investigado Diogo Costa Cangerana. Ele era responsável direto pela segurança do governador e foi preso em uma operação da PF que mirou fundos de investimentos e fintechs que operavam na Faria Lima. O esquema teria movimentado R$ 52 bilhões para a facção criminosa entre 2020 e 2024.

Esses episódios ajudam a explicar a pressa de Tarcísio em liberar seu secretário de Segurança para assumir a relatoria do Projeto de Lei Antifacção. Nas mãos de Guilherme Derrite, o projeto do Ministério da Justiça foi desvirtuado. E ficou evidente o esforço para reduzir o poder de investigação da Polícia Federal — justamente quem tem apurado as operações suspeitas que rondam o entorno do governador.

Outra bomba pronta para explodir está na Secretaria de Finanças do governo Tarcísio. Em agosto, uma investigação do Ministério Público descobriu o que pode ser um dos maiores escândalos de corrupção da história de São Paulo: um esquema bilionário de liberação ilegal de créditos de ICMS.

Sidney Oliveira, dono da Ultrafarma, e Mário Otávio Gomes, diretor da Fast Shop, chegaram a ser presos. O articulador da fraude, o auditor fiscal Artur Gomes da Silva Neto, também acabou atrás das grades e agora negocia um acordo de delação premiada que deve revelar bastidores do esquema.

Se ele cumprir a promessa, a expectativa é que a investigação se aproxime ainda mais do núcleo de confiança de Tarcísio. A liberação de créditos de ICMS não é feita sem aval político. Se teve autorização, a decisão partiu de alguém, no mínimo, próximo ao governador.

Enquanto Tarcísio tenta se esquivar desses lamaçais, um cavalo passou arriado bem à sua frente. Com a prisão de Jair Bolsonaro, ele terá que decidir entre se aventurar em uma disputa à Presidência da República ou tentar a reeleição ao governo de São Paulo.

Tarcísio já disse que se concentrará em São Paulo. Será mesmo? Até onde eu sei, ele não assinou nenhum documento público no qual se compromete com a decisão. E, mesmo que o fizesse, já vimos que esse tipo de promessa vale pouco — vide José Serra, que abandonou a Prefeitura de São Paulo no meio do mandato para disputar o governo do estado, mesmo tendo assinado um documento público garantindo que não o faria.

Com o novo revés de Bolsonaro, Tarcísio se apressou em reafirmar suas juras de fidelidade ao padrinho político, como parte da estratégia para herdar o eleitorado radical da extrema direita e manter viva a ambição de voos mais altos. Pode ser que os dois afundem juntos nessa barca furada.

A busca por apoio na “familícia” já corroeu a imagem de moderação que Tarcísio tentava vender. Ao mesmo tempo, os escândalos policiais que se acumulam ao seu redor ainda vão cobrar um preço alto do governador.

Tarcísio chega ao último ano de mandato com um governo fraco, que mais errou do que acertou, e ficará marcado na história por privatizar a rodo o patrimônio público. De concreto, não há um único grande projeto realmente seu. O que se vê em São Paulo são iniciativas tocadas pelo governo federal, das quais ele tenta se apropriar.

O ano de 2025 foi devastador para Tarcísio de Freitas. E, diante do que ainda está por vir, 2026 tem tudo para ser ainda pior. O roteiro está escrito; falta saber se ele sobreviverá ao próprio enredo.

* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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