"O sistema quer forçar Bolsonaro a transferir seus votos para Tarcísio", diz Rui Costa Pimenta
Presidente do PCO afirma que Bolsonaro não deve correr este risco
247 – A disputa pelas eleições presidenciais de 2026 já começou, e, segundo o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, o centro do tabuleiro político hoje gira em torno de uma operação de “pressão máxima” para obrigar Jair Bolsonaro a entregar seu capital eleitoral a Tarcísio de Freitas. A avaliação foi feita em entrevista à jornalista Andrea Trus, da TV 247.
Rui afirma que toda a movimentação judicial e midiática envolvendo Bolsonaro — incluindo prisão, idas e vindas de decisões sobre seu regime de detenção e condenações de generais — tem como objetivo final enquadrá-lo politicamente e neutralizar sua capacidade de interferir na sucessão presidencial.
“Isso tudo é uma grande farsa política”
Logo no início da análise, Rui demonstra espanto com a leitura otimista feita por parte da esquerda sobre a prisão de Bolsonaro e a condenação de militares envolvidos na tentativa de golpe:
“É impressionante porque é muita ingenuidade, né? Tudo isso é uma grande farça política. Não tem nada a ver com democracia, com golpe, com nada. O problema são as eleições de 2026.”
Para ele, a ideia de que as condenações afastam o risco de novos golpes é completamente equivocada. O foco real do sistema político e econômico seria a disputa pelo controle da direita nas próximas eleições.
Bolsonaro sob pressão para apoiar Tarcísio
Rui sustenta que o grande capital, os bancos e os principais conglomerados de mídia escolheram Tarcísio de Freitas como o candidato ideal para 2026 — e que Bolsonaro é o obstáculo decisivo a ser dobrado:
“A burguesia brasileira precisa fazer com que o Bolsonaro concorde em apoiar um candidato do imperialismo no Brasil, um candidato do grande capital, dos banqueiros, da Rede Globo. Esse candidato é o Tarcísio de Freitas.”
Segundo ele, a ofensiva judicial contra Bolsonaro é parte dessa estratégia de enquadramento:
“Daí a confusão, né? Se o Bolsonaro vai para Papuda, se fica em casa… É um jogo de pressões que tem isso como objetivo.”
Rui diz não ter dúvidas de que o sistema pretende “fazer Bolsonaro ceder aos gritos”, ainda que isso envolva ameaçar sua liberdade:
“É meio assim: ‘ah, você não quer apoiar o Tarcísio? Então vou mandar você para a Papuda’. A hora que ele falar ‘tudo bem, vou apoiar o Tarcísio’, aí muda tudo.”
“Bolsonaro não deve correr esse risco”
Rui afirma que a transferência de votos seria desastrosa para o próprio Bolsonaro. Em sua visão, entregar seu capital eleitoral a Tarcísio significaria perder o controle sobre a liderança que construiu desde 2018:
“É perigoso você emprestar sua popularidade. Não é uma coisa simples. O Bolsonaro pode perder uma parte do eleitorado dele para o Tarcísio se apoiar essa candidatura.”
Ele lembra que surgimentos políticos como o de Bolsonaro não acontecem duas vezes:
“Essa conquista é como ganhar na loteria. Você não joga esse dinheiro fora. O Bolsonaro se tornou líder de uma ampla base popular de direita. Isso não acontece duas vezes.”
Por isso, o dirigente afirma que Bolsonaro — e especialmente seus filhos — resistem ao acordão:
“Os filhos dele são mais radicais. Eles querem preservar o legado popular do Bolsonaro.”
“O plano A da burguesia é Tarcísio com apoio de Bolsonaro”
Rui descreve com clareza a engenharia eleitoral que, segundo ele, está em curso:
“Plano número um: Tarcísio presidente com apoio do Bolsonaro, no primeiro turno.”
Se isso não ocorrer, há outra estratégia de reserva:
“Plano número dois: lançam vários candidatos de direita para levar o Tarcísio ao segundo turno, mesmo com menos votos que o candidato do PT. Aí unificam toda a direita no segundo turno.”
A reação dos militares e o “processo fajuto”
Ao comentar a condenação de generais e a prisão de Bolsonaro, Rui ressalta que isso não representa, como muitos acreditam, um arrocho definitivo sobre as Forças Armadas. Pelo contrário, ele prevê turbulências:
“Esse processo vai gerar uma situação extremamente negativa dentro das Forças Armadas. Vai empurrar o pessoal pra direita.”
Ele critica duramente a qualidade das acusações:
“Todo mundo sabe que esse processo é fajuto. Uma coisa é ver o processo pela Rede Globo. Outra coisa é o que se conversa nos quartéis.”
O papel da mídia e a ruptura do “acordo tácito” com o governo
Rui observa que a grande imprensa já entrou em modo de ataque sistemático ao governo:
“Tem que se preparar porque a aliança com a grande imprensa acabou. Eles entraram num modo mais agressivo.”
Ele afirma que a imprensa unifica sua narrativa para desgastar o governo e fortalecer Tarcísio, apontando, por exemplo, reportagens sobre gastos públicos como sinal de retorno ao enfrentamento direto.
“Os filhos de Bolsonaro estão ajudando o Lula”
Em um ponto curioso da entrevista, Rui afirma que a resistência da família Bolsonaro a apoiar Tarcísio acaba — involuntariamente — favorecendo a reeleição de Lula:
“O pessoal do PT não percebe, mas o Bolsonaro e os filhos dele estão ajudando o Lula. Muito. Não é pouco, não.”
Para ele, se o acordão fosse fechado e Bolsonaro apoiasse Tarcísio desde já, o cenário ficaria muito desfavorável para o campo progressista:
“Se a candidatura do Tarcísio sair apoiada pelo Bolsonaro, se segura, porque vai ser difícil.”
O antipetismo e a necessidade de guerra ideológica
Rui também critica setores da própria esquerda que, segundo ele, alimentam o antipetismo e enfraquecem a luta política contra a extrema direita:
“O antipetismo sistemático é uma política equivocada que joga água no moinho da direita.”
E faz um alerta ao PT:
“Para ganhar a eleição, o PT precisaria transformar a eleição numa guerra ideológica. Eu não estou vendo isso.”
O centro da disputa é Bolsonaro – e sua capacidade de resistir ao sistema
A análise de Rui Costa Pimenta estabelece uma narrativa clara: tudo que envolve Bolsonaro neste momento — prisão, julgamentos, pressões, investigações — faz parte de um movimento coordenado do sistema político e econômico brasileiro para que ele entregue seus votos a Tarcísio de Freitas.
Mas, segundo Rui, isso traria riscos profundos à própria sobrevivência política do ex-presidente:
“Bolsonaro não deve correr esse risco.”
E é justamente essa resistência, diz ele, que pode redefinir o xadrez eleitoral até 2026.



