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"O sistema quer forçar Bolsonaro a transferir seus votos para Tarcísio", diz Rui Costa Pimenta

Presidente do PCO afirma que Bolsonaro não deve correr este risco

Rui Costa Pimenta (à esq.) e Jair Bolsonaro (Foto: Felipe L. Gonçalves/Brasil247 | Tânia Rêgo/Agência Brasil)

247 – A disputa pelas eleições presidenciais de 2026 já começou, e, segundo o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, o centro do tabuleiro político hoje gira em torno de uma operação de “pressão máxima” para obrigar Jair Bolsonaro a entregar seu capital eleitoral a Tarcísio de Freitas. A avaliação foi feita em entrevista à jornalista Andrea Trus, da TV 247

Rui afirma que toda a movimentação judicial e midiática envolvendo Bolsonaro — incluindo prisão, idas e vindas de decisões sobre seu regime de detenção e condenações de generais — tem como objetivo final enquadrá-lo politicamente e neutralizar sua capacidade de interferir na sucessão presidencial.

“Isso tudo é uma grande farsa política”

Logo no início da análise, Rui demonstra espanto com a leitura otimista feita por parte da esquerda sobre a prisão de Bolsonaro e a condenação de militares envolvidos na tentativa de golpe:

 “É impressionante porque é muita ingenuidade, né? Tudo isso é uma grande farça política. Não tem nada a ver com democracia, com golpe, com nada. O problema são as eleições de 2026.”

Para ele, a ideia de que as condenações afastam o risco de novos golpes é completamente equivocada. O foco real do sistema político e econômico seria a disputa pelo controle da direita nas próximas eleições.

Bolsonaro sob pressão para apoiar Tarcísio

Rui sustenta que o grande capital, os bancos e os principais conglomerados de mídia escolheram Tarcísio de Freitas como o candidato ideal para 2026 — e que Bolsonaro é o obstáculo decisivo a ser dobrado:

 “A burguesia brasileira precisa fazer com que o Bolsonaro concorde em apoiar um candidato do imperialismo no Brasil, um candidato do grande capital, dos banqueiros, da Rede Globo. Esse candidato é o Tarcísio de Freitas.”

Segundo ele, a ofensiva judicial contra Bolsonaro é parte dessa estratégia de enquadramento:

 “Daí a confusão, né? Se o Bolsonaro vai para Papuda, se fica em casa… É um jogo de pressões que tem isso como objetivo.”

Rui diz não ter dúvidas de que o sistema pretende “fazer Bolsonaro ceder aos gritos”, ainda que isso envolva ameaçar sua liberdade:

 “É meio assim: ‘ah, você não quer apoiar o Tarcísio? Então vou mandar você para a Papuda’. A hora que ele falar ‘tudo bem, vou apoiar o Tarcísio’, aí muda tudo.”

“Bolsonaro não deve correr esse risco”

Rui afirma que a transferência de votos seria desastrosa para o próprio Bolsonaro. Em sua visão, entregar seu capital eleitoral a Tarcísio significaria perder o controle sobre a liderança que construiu desde 2018:

 “É perigoso você emprestar sua popularidade. Não é uma coisa simples. O Bolsonaro pode perder uma parte do eleitorado dele para o Tarcísio se apoiar essa candidatura.”

Ele lembra que surgimentos políticos como o de Bolsonaro não acontecem duas vezes:

 “Essa conquista é como ganhar na loteria. Você não joga esse dinheiro fora. O Bolsonaro se tornou líder de uma ampla base popular de direita. Isso não acontece duas vezes.”

Por isso, o dirigente afirma que Bolsonaro — e especialmente seus filhos — resistem ao acordão:

 “Os filhos dele são mais radicais. Eles querem preservar o legado popular do Bolsonaro.”

“O plano A da burguesia é Tarcísio com apoio de Bolsonaro”

Rui descreve com clareza a engenharia eleitoral que, segundo ele, está em curso:

 “Plano número um: Tarcísio presidente com apoio do Bolsonaro, no primeiro turno.”

Se isso não ocorrer, há outra estratégia de reserva:

 “Plano número dois: lançam vários candidatos de direita para levar o Tarcísio ao segundo turno, mesmo com menos votos que o candidato do PT. Aí unificam toda a direita no segundo turno.”

A reação dos militares e o “processo fajuto”

Ao comentar a condenação de generais e a prisão de Bolsonaro, Rui ressalta que isso não representa, como muitos acreditam, um arrocho definitivo sobre as Forças Armadas. Pelo contrário, ele prevê turbulências:

 “Esse processo vai gerar uma situação extremamente negativa dentro das Forças Armadas. Vai empurrar o pessoal pra direita.”

Ele critica duramente a qualidade das acusações:

 “Todo mundo sabe que esse processo é fajuto. Uma coisa é ver o processo pela Rede Globo. Outra coisa é o que se conversa nos quartéis.”

O papel da mídia e a ruptura do “acordo tácito” com o governo

Rui observa que a grande imprensa já entrou em modo de ataque sistemático ao governo:

 “Tem que se preparar porque a aliança com a grande imprensa acabou. Eles entraram num modo mais agressivo.”

Ele afirma que a imprensa unifica sua narrativa para desgastar o governo e fortalecer Tarcísio, apontando, por exemplo, reportagens sobre gastos públicos como sinal de retorno ao enfrentamento direto.

“Os filhos de Bolsonaro estão ajudando o Lula”

Em um ponto curioso da entrevista, Rui afirma que a resistência da família Bolsonaro a apoiar Tarcísio acaba — involuntariamente — favorecendo a reeleição de Lula:

 “O pessoal do PT não percebe, mas o Bolsonaro e os filhos dele estão ajudando o Lula. Muito. Não é pouco, não.”

Para ele, se o acordão fosse fechado e Bolsonaro apoiasse Tarcísio desde já, o cenário ficaria muito desfavorável para o campo progressista:

 “Se a candidatura do Tarcísio sair apoiada pelo Bolsonaro, se segura, porque vai ser difícil.”

O antipetismo e a necessidade de guerra ideológica

Rui também critica setores da própria esquerda que, segundo ele, alimentam o antipetismo e enfraquecem a luta política contra a extrema direita:

 “O antipetismo sistemático é uma política equivocada que joga água no moinho da direita.”

E faz um alerta ao PT:

 “Para ganhar a eleição, o PT precisaria transformar a eleição numa guerra ideológica. Eu não estou vendo isso.”

O centro da disputa é Bolsonaro – e sua capacidade de resistir ao sistema

A análise de Rui Costa Pimenta estabelece uma narrativa clara: tudo que envolve Bolsonaro neste momento — prisão, julgamentos, pressões, investigações — faz parte de um movimento coordenado do sistema político e econômico brasileiro para que ele entregue seus votos a Tarcísio de Freitas.

Mas, segundo Rui, isso traria riscos profundos à própria sobrevivência política do ex-presidente:

 “Bolsonaro não deve correr esse risco.”

E é justamente essa resistência, diz ele, que pode redefinir o xadrez eleitoral até 2026.

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