"A burguesia vai trabalhar meticulosamente para destruir a candidatura Lula", diz Rui Costa Pimenta
Classe dominante prepara eleição sem Lula e sem Bolsonaro e acelera nova onda neoliberal na América do Sul, afirma presidente do PCO
247 – A burguesia brasileira “vai trabalhar muito meticulosamente para destruir a candidatura do Lula” nas eleições de 2026, avaliou o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, em entrevista à TV 247 nesta sexta-feira, 14 de novembro. Segundo ele, o objetivo central da classe dominante é produzir uma disputa “nem Lula, nem Bolsonaro”, abrindo caminho para um governo capaz de aplicar, sem resistência popular, um projeto neoliberal profundo.
Rui analisou o avanço da extrema direita na América do Sul, os acordos do presidente argentino Javier Milei com Donald Trump — atual presidente dos Estados Unidos —, o cerco imperialista contra a Venezuela e os riscos crescentes para o Brasil. Ele destacou que essa ofensiva regional é expressão de um capitalismo global “num beco sem saída”, que só consegue avançar “espoliar de maneira muito agressiva os povos do mundo inteiro”.
“Milei praticamente entregou o país ao Trump”
Comentando o acordo de livre comércio assinado entre Argentina e Estados Unidos, Rui foi direto: “o Milei praticamente entregou o país ao Donald Trump. a Argentina assume sua condição colonial.”
Para ele, Milei é “muito representativo” da nova onda neoliberal que atravessa o continente. Rui afirmou que não se trata de decisões individuais, mas de uma política estrutural do imperialismo, aplicada também em países como Peru, Equador e Bolívia — e que tende a pressionar cada vez mais o Brasil e o governo do presidente Lula.
Trump como “figura secundária” do imperialismo
Respondendo a críticas de que teria relativizado o impacto de Trump, Rui reforçou:
“o Trump é presidente dos Estados Unidos. você não pode ser o anjo Gabriel sendo presidente do grande satã.”
Ele explicou que não considera Trump “melhor” que seus adversários internos, mas uma figura “que atrapalha o jogo do imperialismo”, ainda que sem força para alterar sua lógica. Rui lembrou que golpes e ofensivas na América Latina ocorreram antes da volta de Trump ao poder: "o golpe na Venezuela e a tentativa da Corina Machado foram antes do Trump. a ditadura no Peru também é anterior.”
Chacinas, repressão e risco de alinhamento brasileiro
Na parte da entrevista dedicada ao Brasil, Rui relacionou a recente chacina no Rio de Janeiro a orientações políticas mais amplas ligadas aos Estados Unidos. Ele advertiu que setores do governo brasileiro podem ceder à pressão para adotar discursos e práticas repressivas: “O PT está sendo pressionado por motivos eleitorais a aderir a essa política repressiva. é um erro colossal.”
Segundo ele, pesquisas que tentam mostrar apoio popular a ações policiais violentas “não são idôneas”. Rui relatou que militantes do pco estiveram no Complexo do Alemão logo após a operação e encontraram ampla rejeição popular.
Venezuela: “o Brasil tende a ficar em cima do muro”
Sobre a mobilização militar estadunidense no Caribe, Rui avaliou que o Brasil não deverá oferecer um apoio sólido à Venezuela sem forte pressão popular:
“vai depender muito da mobilização. nós vamos organizar uma campanha ampla em defesa da Venezuela.”
Para ele, apesar da propaganda negativa contra Nicolás Maduro, a maioria do povo brasileiro rejeitaria uma intervenção estrangeira no país vizinho.
A geopolítica global e o risco crescente de guerra
Rui também comentou a postura da Rússia e da China, que vêm se manifestando abertamente contra a ameaça dos Estados Unidos à Venezuela: “a Rússia está pronta a atender todas as demandas da Venezuela, inclusive no campo militar. isso é muito bom.”
Ele situou o conflito dentro de uma disputa global mais ampla, que envolve Ucrânia, Oriente Médio e o cerco à China: “o imperialismo está armando uma guerra de grandes proporções contra China, Rússia e Irã.”
A eleição brasileira de 2026: “o plano é Lula fora do jogo”
A parte mais tensa da conversa foi dedicada ao cenário eleitoral brasileiro. Rui foi categórico: “a burguesia vai trabalhar muito meticulosamente para destruir a candidatura do Lula.”
Ele afirmou que o capital financeiro e os grandes grupos econômicos desejam uma eleição sem Lula e sem Bolsonaro, apostando em nomes como Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ronaldo Caiado ou mesmo Ciro Gomes, caso ele migre para o PSDB.
Segundo Rui, Lula e Bolsonaro são rejeitados pela burguesia “pelo mesmo motivo”:
“os dois têm base popular. os dois evitam políticas abertamente impopulares. mas a burguesia quer uma política que mate milhões se for preciso, como na Argentina.”
Ele destacou que Fernando Haddad, ao admitir que pode deixar o ministério da Fazenda, sinaliza que gostaria de disputar a presidência, mas isso facilitaria o plano da direita:
“se o Lula desistir e colocar o Haddad, a burguesia elege seu candidato com facilidade.”
PT, antipetismo e a fragilidade diante da ofensiva da direita
Rui apontou que o PT está “muito adaptado” às pressões da direita e adota frequentemente políticas de conciliação, como a escolha de Geraldo Alckmin como vice:
“o PT abriga antipetistas e não combate o antipetismo. isso enfraquece o partido.”
Ele avalia que, sem mobilização popular, o governo Lula terá extrema dificuldade, mesmo que vença: “a eleição não vai resolver a parada. mesmo que ganhe, o Lula estaria na contramão do que a burguesia quer. o governo poderia até cair antes do fim.”
Conclusão: só a mobilização popular pode conter a nova ofensiva
Rui encerrou afirmando que a crise ainda está em desenvolvimento, mas que o sentido geral é claro: “não vamos encontrar a solução para os problemas brasileiros na eleição. é preciso uma mobilização geral da população.” A entrevista completa está disponível no canal TV 247 no YouTube.


