Um PL de Anistia chamado de Dosimetria
Proposta escancara a tentativa de proteger golpistas, enfraquecer a democracia e transferir ao governo a responsabilidade por uma articulação do Congresso
Como exigir moralidade pública e honra de pessoas ligadas ao crime organizado e ao assalto de cofres públicos? Como esperar de senadores coniventes, ou aliados a essas práticas, um comportamento republicano de respeito à Constituição Federal? Como explicar que o Senado não pode diminuir as penas judiciais conferidas aos que atentaram contra o Estado de Direito e cometeram atos terroristas contra os três Poderes da Nação?
Sim, os acusados clamavam pela ditadura, contra a democracia, e programaram as mortes do Presidente da República, do Vice-Presidente e do ministro da Corte Suprema. Os representantes políticos, na condição de cúmplices da delinquência institucional, minimizaram todos esses crimes cometidos contra a democracia e ainda ignoraram o clamor popular contra a anistia e contra um Congresso que passou a ser nomeado de “Congresso inimigo do povo”.
Nesse contexto aterrorizante de atentado contra a democracia, alguns jornalistas difundiram a notícia de que “Xandão e o governo Lula fizeram um acordão”. O que existe é uma estratégia para enfraquecer a mobilização de ruas e desmoralizar a esquerda. Estão querendo atribuir ao governo o absurdo da votação do Projeto de Lei da Dosimetria, que reduz as penas do condenado Bolsonaro e demais cúmplices acusados de tentativa de golpe contra a democracia.
O projeto de anistia, cujo nome Dosimetria inspirou-se na medição do consumo de uísque, já vinha sendo discutido há mais de um ano. O objetivo era beneficiar os chamados “bandidos do Congresso” envolvidos em vários crimes. Tratava-se de uma proteção (blindagem) programada. O papel do senador da Bahia Jaques Wagner contribuiu para uma certa confusão. Caetano Veloso, que é seu amigo, deveria pedir uma explicação? Vejam o vídeo de Caetano Veloso no Instagram de hoje. O Caetano tem toda razão! Digo ao querido Caetano que eu também quero saber.
A mídia aliada ao Centrão logo espalhou a notícia para culpar o governo de conchavos visando passar outros projetos fundamentais. Sabe-se que, para um governo ultraminoritário, aprovar qualquer projeto que beneficie o povo é uma maratona. Exige uma intensa negociação para convencer os congressistas e angariar votos. Lula é um nato negociador de grandes causas.
Acredito que o povo não é mais marionete da Globo. Além do mais, existem jornalistas na GloboNews que fazem boas análises políticas e parecem ter adquirido uma certa imparcialidade no tratamento das notícias. Hoje, o povo destemido vai novamente para as ruas exigir o veto do presidente e a afirmação da inconstitucionalidade pelo STF. Do contrário, a reputação do Xandão vai para o esgoto da história, e é impossível imaginar tal reviravolta do ministro. Hoje, o ministro do Supremo, graças ao processo histórico de defesa do Estado de Direito, teve reconhecimento internacional.
Emerge dessa situação uma questão digna de resposta: quando um Senado pode atribuir penas judiciais? Virou um bordel? A situação dá a entender que os conhecidos do público como bandidos e representantes, tanto do Senado como da Câmara, parecem estar com o “rabo preso” em aliança com o crime organizado. Será que gostariam que a polícia parasse as investigações e que o ministro Dino não punisse a farra do dinheiro público? Com a extrema direita voltando ao poder, eles poderão roubar a nação impunemente.
Infelizmente, há alguns jornalistas da mídia alternativa repetindo o que dizem profissionais da mídia corporativista. Esquecem que o governo é minoria e que essa anistia disfarçada já estava sendo trabalhada há mais de um ano por Motta e Alcolumbre. Esquecem também a sede de vingança do presidente do Senado e da Câmara Federal.
Como dizia o escritor Stendhal, a indignação é o desprazer que nos causa a ideia de sucesso daqueles que consideramos indignos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




