Velha mídia ataca o STF para blindar o poder financeiro
"Os jornais que hoje posam de fiscais do galinheiro sempre conviveram confortavelmente com fundos de investimento, bancos e interesses cruzados"
A velha mídia voltou a vestir a fantasia da moralidade para apontar o dedo ao Supremo Tribunal Federal. Em editoriais recentes, Folha e Estadão falam em “ruptura do pacto da impunidade” e em “ligações perigosas”, sugerindo um conluio estrutural entre ministros do STF e investigados. O discurso soa firme. O contexto, porém, revela o velho moralismo seletivo de quem nunca abriu mão dos próprios interesses.
Não se trata de absolver ministros, blindar autoridades ou relativizar suspeitas. A crítica aqui é outra. Quem cobra virtude pública precisa, antes, olhar o próprio espelho.
Folha e Estadão não são observadores neutros. Integram o consórcio informal da velha mídia corporativa, alinhada historicamente aos interesses do sistema financeiro da Faria Lima. Um bloco que defendeu o arrocho fiscal permanente, naturalizou privatizações predatórias e jamais questionou com a mesma veemência a maior taxa de juros real do planeta, hoje em torno de 15%, que sangra a economia popular e esteriliza o orçamento público.
Esse é o ponto central que os editoriais silenciam.
Quando falam em corrupção como mal absoluto, evitam tocar na corrupção estrutural que opera por meios legais. O rentismo não precisa de malas de dinheiro. Vive de resoluções técnicas, atas do Copom, spreads bancários e títulos da dívida pública. Tudo dentro da lei. Tudo longe das manchetes moralistas.
A pergunta incômoda segue atual. Quem é mais ladrão, quem assalta um banco ou quem funda um banco para extrair renda do Estado e da sociedade por décadas?
Os jornais que hoje posam de fiscais do galinheiro sempre conviveram confortavelmente com fundos de investimento, bancos e interesses cruzados. Defenderam reformas que transferiram renda do trabalho para o capital financeiro. Aplaudiram o desmonte de políticas públicas. Naturalizaram a financeirização extrema da economia brasileira. Nunca chamaram isso de “pacto da impunidade”.
Ao mirar o STF, a velha mídia desloca o foco. Constrói uma narrativa de degradação moral das instituições para preparar o terreno político. Em ano pré-eleitoral, o objetivo não é a ética pública. É preservar o modelo que garante rendimentos pornográficos ao topo da pirâmide.
Isso não significa negar a necessidade de apuração rigorosa sobre contratos, viagens, relações pessoais ou eventuais conflitos de interesse envolvendo ministros do Supremo. Transparência e controle são exigências republicanas. Mas não podem ser instrumentalizadas por quem nunca foi rigoroso consigo mesmo.
A crítica seletiva é uma forma sofisticada de manipulação.
Ao atacar o Judiciário, Folha, Estadão, Globo, Veja, et caterva, tentam recuperar o papel de árbitros morais que perderam ao longo dos anos. Fazem isso sem admitir que também são parte interessada na disputa pelo poder, pela narrativa e pelo modelo econômico que asfixia o país.
O brasileiro comum, vítima diária do rentismo, sabe quem paga a conta. Não são os editoriais indignados. É o trabalhador, o aposentado, o pequeno empresário, todos esmagados por juros extorsivos e serviços públicos estrangulados.
Em 2026, os barões da velha mídia tentarão se vender como cordeiros. Convém lembrar que esta raposa do rabo felpudo continua no galinheiro.
A democracia exige vigilância sobre todos os poderes, inclusive o Judiciário. Mas exige, sobretudo, honestidade intelectual. Moralidade sem autocrítica é só propaganda.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




