Vitória "pírrica" de Milei-Trump na Argentina
As eleições de 26 de outubro nos lembram que os processos políticos são e continuarão sendo lentos
O governo de Javier Milei e sua força La Libertad Avanza venceram as eleições parlamentares de meio de mandato no domingo, 26 de outubro. Eles obtiveram 40,84% dos votos em todo o país, contra o peronismo-kirchnerismo, que chega a quase 35% dos votos.
A partir desses resultados (foi apenas uma renovação parcial do parlamento), o Fuerza Patria (peronismo-kirchnerismo) fica com 96 deputados (perde apenas 2 assentos); La Libertad Avanza, de Javier Milei, terá 93 lugares (+56); Províncias Unidas (peronismo das províncias e alguns governadores do Partido Radical) 17 deputados; o PRO (Proposta Republicana) do ex-presidente Mauricio Macri praticamente desaparece, pois perdeu 21 cadeiras, ficando com apenas 14 cadeiras. Os 25 deputados restantes representam grupos menores e regionais-provinciais. No Senado, Fuerza Patria terá 26 cadeiras; La Libertad Avanza, 19; o Partido Radical, 10; representantes provinciais, 10; Províncias Unidas, 5, e o agora quase desaparecido PRO terá escassos 5 assentos.
No entanto, apesar desse resultado aparentemente positivo para o governo, 6 em cada 10 eleitores NÃO APOIARAM OU RATIFICARAM as políticas de Javier Milei: seu projeto de dependência total do capital internacional e de desmantelamento do Estado Social.
A análise detalhada dos votos mostra que a vitória de Javier Milei não significa um crescimento real de seu eleitorado. Pelo contrário, La Libertad Avanza obteve 15 pontos a menos que em 2023. O aparente crescimento significa, acima de tudo, uma MUDANÇA DE VOTOS DE DIREITA do antigo PRO, de Mauricio Macri, para Milei. A força do ex-presidente Mauricio Macri desapareceu nessas eleições para se fundir e se integrar ao La Libertad Avanza. Isso significa que o projeto coincidente neoliberal de direita Milei-Macri atinge, hoje, um teto, com 40% do eleitorado.
O resultado das eleições de domingo, 26 de outubro, também descreve uma oposição ainda fraca que não conseguiu atrair o eleitorado com uma PROPOSTA DE GOVERNO ALTERNATIVA E COERENTE. Atualmente, nem o peronismo-kirchnerismo, com seus quase 35% dos votos, nem as Províncias Unidas, a terceira força em nível nacional, com pouco mais de 7% dos votos, conseguem se tornar um projeto alternativo de convocação. Provincias Unidas é uma nova criação de 6 governadores (incluindo Córdoba e Santa Fé, importantes distritos eleitorais), em sua maioria peronistas, embora com algum ingrediente do antigo Partido Radical, outra força que nessas eleições quase desapareceu do espectro político.
Em termos reais, nessa nova etapa, Milei NÃO TERÁ MAIORIA nem na Câmara dos Deputados nem na Câmara dos Senadores, obrigando-o a negociar com as forças provinciais para legislar. O que conseguiu foi superar a porcentagem necessária para impedir que o parlamento vetasse leis e decretos do presidente. Nesse sentido, institucionalmente, Milei sai fortalecido após essas eleições de meio de mandato.
É impossível não contabilizar o altíssimo custo econômico que sustentou a vitória eleitoral de Milei. Como aponta o analista Felipe Yapur, em um comentário na madrugada de segunda-feira, 27 de outubro, no jornal Página 12, a vitória de Milei "foi garantida com um aumento líquido da dívida externa de 40 bilhões de dólares enviados a ele pela Casa Branca. Por enquanto, ele superou o primeiro obstáculo, o eleitoral". Refere-se ao valor que Trump e seu secretário do Tesouro prometeram a Milei nas últimas quatro semanas para garantir alguma estabilidade financeira diante dos sinais óbvios de uma crise sem retorno com risco de surto explosivo. A Argentina sai dessas eleições parlamentares com um aumento sem retorno de sua já colossal dívida externa.
As eleições de 26 de outubro nos lembram que os processos políticos são e continuarão sendo lentos, têm ritmos próprios, são atravessados por contradições e múltiplas surpresas. Os tempos históricos não têm muito a ver com as próprias ansiedades individuais de ser um ator de mudanças. Nada é linear no caminho dos povos. Tudo é complexo e dialético. Hoje, 27 de outubro, a imprensa internacional nos informa sobre a "surpresa" argentina. No entanto, desde uma perspectiva estratégica, de médio e longo prazo, o que a imprensa internacional esta manhã apresenta como a grande vitória de Milei é nada mais nada menos do que uma pequena vitória de Pirro. Pode doer, mas não paralisa.
* Artigo escrito à meia-noite na Argentina. Por serem reflexões preliminares, os dados e os argumentos poderão ser ajustados nas próximas horas.
Tradução: Rose Lima
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.




