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Fernando Lionel Quiroga

É professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), na área de Fundamentos da Educação. Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

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Você perdeu, Capitão!

Hamilton Mourão e Jair Bolsonaro (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
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O título desta coluna não é original. Trata-se do título de um conto escrito pelo genial escritor ucraniano Isaac Bábel, em “Contos de Odessa”, publicado em 1931 do século XX. No conto, o capitão, que havia pedido ao contramestre enxotar a tripulação para o porão (dois negros e um malaio), é por ele desobedecido. À revelia, o contramestre resolve deixá-los escapar no mar aberto, congelado, representado por ondas petrificadas, “cinco vírgulas retorcidas” nas palavras do autor. E, então, o desfecho: “ele perdeu – o capitão.”

O poder, sobretudo o poder tirânico, é invariavelmente recheado de denúncias, acusações, delações e teorias da conspiração. Uma atmosfera nefasta paira sobre o poder em ruína que, por um ajuste de letra, se torna ‘podre’. Os últimos meses foram expressivos sobre este aspecto. Recentemente, a ex-mulher de Pazzuelo veio a público com graves denúncias sobre o ex-marido e sua equipe, afirmando, por exemplo, que enquanto as pessoas morriam às centenas diariamente, realizavam-se festas regadas a uísque. Também a ex-esposa do Valdemar Costa Neto prometeu apresentar provas tenebrosas sobre o ex-marido, afirmando que teria sido ela mesma casada com “o dono do bordel do Congresso”, além de sugerir que o mesmo teria sido amante da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. A iminente decadência de Jair Bolsonaro (PL), omisso desde sua derrota para o presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva (PT), não é uma simples decadência à qual o próprio tempo se encarregaria por apagar. Seu silêncio e covarde desaparição da cena pública alimentam, de um lado, as teorias da conspiração que se espalham por todos os lados e, de outro, atuam como combustível para dar continuidade ao movimento golpista na frente dos quartéis e nas estradas – cuja infraestrutura tem sido reforçada na busca por novos adeptos. Em suma: trata-se da decadência de um solitário com a última arma em seu poder: os últimos dias de foro privilegiado sendo corroídos pelo relógio: é a cabeça, agora amedrontada, de quem já previa o cenário de seu próprio futuro: ser preso, morto ou ter a vitória. Derrotado, restam-lhe duas difíceis alternativas.Dezembro não parece trazer bons ventos do fim de ano que se aproxima. O ocupante do cargo mais importante do país – o presidente da república – encontra-se acuado e já fez demonstrações de que tentará até o último dia safar-se da ruína que o destino lhe reserva. O Estadão condenou de “molecagem” e “falta de caráter” a tentativa infundada de Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro de tentar novo golpe contestando o funcionamento das urnas e de seu resultado, fato que produziu uma resposta dura do Ministro Alexandre de Morais, multando o PL em algo mais que 22 milhões de reais por litigância de má-fé. Seguiu-se a isso a reação de seu vice, Hamilton Mourão, que reagiu convocando a direita conservadora a reagir e combater o que ele chamou de “esquerda revolucionária” – mensagem claramente dirigida às bases golpistas que continuam cometendo crimes e promovendo terror em todo o Brasil.

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Como a derrota de Jair Bolsonaro, para ele e sua base, não era algo sequer cogitável, esperar deles o reconhecimento pacífico e civilizado seria mera ingenuidade. Sem poder contar com isso, o próximo passo a ser dado é, sem mais reviravoltas, o reconhecimento de que o que está ocorrendo nos atos golpistas é crime e seus idealizadores devem, portanto, ser responsabilizados. Soma-se a isso a imperativa e profunda investigação dos crimes cometidos pelo ex-presidente, para que não reste dúvida a ninguém o que significaram os últimos anos no Brasil diante da concretude das provas. A conversa mole da anistia, neste sentido, deve ser encarada com total repúdio para que a arruaça da extrema direita não siga avançando a passos largos.

O fato de Jair Bolsonaro praticamente não ter saído às ruas para ganhar as eleições – como dita a praxe democrática – indica que ele confiou nas estratégias do expediente da extrema direita no mundo: confiou na PEC da compra de votos, confiou no assédio dos patrões aos empregados, confiou nos disparos em massa de fake news, como manda a cartilha de Steve Bannon, confiou no bloqueio das estradas no nordeste, promovidas pela PRF no dia das eleições. Com tudo isso, ele confiou entusiasticamente na inevitável vitória. Ele confiou, e ele perdeu – o capitão!2023 será o ano de “juntar os cacos, ir à luta”, como na canção de Chico Buarque “Que tal um samba?”. E são muitos os cacos a juntar. O que mais preocupa, e deve ser recolhido com a delicada seriedade que pede a história, é o que vem sendo semeado e disseminado dia após dia pelo ódio nazista, manifesto, muitas vezes, nos atos golpitas, e que continua a matar Annes Franks por todo o mundo, até hoje, como Selena Zagrillo, de 12 anos, morta na última sexta-feira (26/11) em um colégio de Aracruz, ES, por um jovem simpatizante do nazismo.

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