Camilo Santana defende prova nacional da medicina nos moldes da OAB
Ministro da Educação afirma que Enamed pode cumprir esse papel, não se opõe a veto do CFM a médicos sem proficiência e aposta em Lula em 2026
247 - O ministro da Educação, Camilo Santana, defendeu a criação de uma prova nacional para aferir a formação de médicos recém-formados, nos moldes do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas avaliou que não há necessidade de instituir um novo teste além do Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed). Em entrevista concedida ao O Globo, Santana afirmou que o exame já existente pode ser adaptado para cumprir essa função e reforçou a preocupação do governo com a qualidade do ensino médico no país.
A discussão ganhou força após uma comissão do Senado aprovar a criação de uma prova a ser aplicada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que poderia impedir o exercício da profissão por médicos que não comprovassem proficiência. Sobre essa possibilidade, Santana afirmou não se opor à atuação do conselho, desde que o instrumento utilizado seja o Enamed. “Não tem sentido fazer mais um exame”, afirmou o ministro, ao defender o aprimoramento da avaliação já aplicada pelo MEC.
Segundo Santana, o Enamed foi criado justamente para avaliar a qualidade dos cursos de Medicina e poderá resultar em sanções a instituições com desempenho insatisfatório já a partir do próximo ano. O ministro explicou que o exame terá duas etapas: uma aplicação intermediária, ainda durante o curso, e outra ao final da graduação, como ocorreu em 2025. O governo também estuda incluir o resultado individual do aluno em seu currículo, medida que pode depender de aprovação no Congresso.
“Garantir a qualidade da formação médica no Brasil também é uma preocupação do MEC e do Ministério da Saúde”, destacou o ministro.
Outro ponto abordado na entrevista foi a flexibilização dos critérios de aprovação na educação básica. Reportagem recente mostrou que estados ampliaram o número de disciplinas em que o aluno pode ser reprovado e, ainda assim, avançar de série. Santana disse ter ficado preocupado com o movimento e afirmou que estuda medidas para padronizar as regras.
“Há um risco de que os alunos passem de ano sem aprender”, afirmou, destacando também o impacto desigual no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), já que regras mais permissivas elevam artificialmente as taxas de aprovação.
No campo das avaliações nacionais, o ministro disse ter solicitado ao Inep um diagnóstico sobre falhas no pré-teste do Enem após o vazamento de questões em 2025 e aguarda recomendações para evitar novos episódios. Questionado sobre o Prêmio Talento Capes, de onde teriam saído as questões vazadas, afirmou que o futuro da iniciativa ainda será decidido.
Santana também demonstrou otimismo quanto à aprovação do novo Plano Nacional de Educação ainda neste ano, afirmando que o texto já está alinhado entre Câmara e Senado. Entre as prioridades do último ano do terceiro mandato de Lula, o ministro citou a universalização do programa Pé-de-Meia, com o objetivo de ampliar o acesso a estudantes que hoje ficam de fora por pequenas variações de renda.
Na parte política da entrevista, Camilo Santana afastou, por ora, a possibilidade de disputar o governo do Ceará, reafirmando apoio à reeleição do governador Elmano de Freitas. Disse, no entanto, que o cenário para o Senado ainda está em negociação dentro da ampla base de alianças no estado.
Ao comentar a segurança pública, o ministro defendeu a necessidade de um pacto nacional contra o crime organizado, envolvendo União, estados e os demais Poderes, com endurecimento das leis e maior integração das forças de segurança.
Sobre as eleições presidenciais de 2026, Santana avaliou positivamente uma eventual candidatura do senador Flávio Bolsonaro, por entender que o confronto permitiria uma comparação direta entre os governos.
“Política é comparação. Vamos comparar os quatro anos do Bolsonaro com os do presidente Lula. É incomparável”, afirmou.
O ministro acrescentou que o presidente Lula chega fortalecido à disputa.
“Acredito que o presidente Lula tem grandes chances e vai passar pela História do Brasil com o quarto mandato de presidente porque tem feito muito por esse país”, disse.
Santana também elogiou o vice-presidente Geraldo Alckmin e afirmou que, se depender de sua avaliação pessoal, ele deveria permanecer na chapa. Questionado sobre o pós-Lula, respondeu com cautela e bom humor: primeiro, segundo ele, é preciso garantir a reeleição do atual presidente.



