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Com prisão de Bolsonaro, centrão vê Flávio na mira de Moraes e clima político azeda para anistia

Aliados avaliam impacto da 'vigilância' convocada por Flávio Bolsonaro e da confissão de Bolsonaro de que tentou romper a tornozeleira

Jair Bolsonaro e Flávio Bolsonaro em coletiva de imprensa em Brasília - 04/10/2022 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)

247 - A divulgação do vídeo em que Jair Bolsonaro (PL) admite ter usado um “ferro quente” para tentar violar sua tornozeleira eletrônica, somada à convocação de uma vigília organizada por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), provocou um abalo imediato nas articulações políticas em Brasília. Segundo reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, líderes do centrão passaram a considerar “impossível” avançar com o projeto de anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro, ao mesmo tempo em que avaliam que Flávio entrou na mira direta do ministro Alexandre de Moraes, do STF.

O episódio ocorre no momento em que, segundo a Folha, aliados do senador avaliavam sua possível candidatura à Presidência da República em 2026 — movimento que concorria com outros nomes da direita e abria divisões internas no PL e em grupos conservadores.

Na decisão que determinou a prisão preventiva de Jair Bolsonaro, Alexandre de Moraes cita explicitamente Flávio ao apontar que a convocação de uma vigília em frente ao condomínio do ex-presidente seria um indício da “repetição do modus operandi da organização criminosa liderada pelo referido réu”, utilizando manifestações para pressionar instituições e gerar instabilidade.

Segundo o ministro, o vídeo gravado pelo senador para mobilizar apoiadores “incita o desrespeito ao texto constitucional, à decisão judicial e às próprias instituições, demonstrando que não há limites da organização criminosa na tentativa de causar caos social e conflitos no país”.

No material publicado no X (ex-Twitter), Flávio faz referências bíblicas e convoca apoiadores para “pedir a Deus que aplique a sua Justiça”. Em outro trecho, ele questiona: “Você vai lutar pelo seu país ou assistir tudo aí do celular, da sua casa? Eu te convido a lutar com a gente”.

Moraes também citou a atuação de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), investigado e réu por coação, ao afirmar que os filhos do ex-presidente se engajavam em ações para tumultuar o processo judicial: “Primeiro, um dos filhos do líder da organização criminosa, Eduardo Bolsonaro, articula criminosamente e de maneira traiçoeira contra o próprio país [...] Na sequência, o outro filho do líder da organização criminosa, Flávio Bolsonaro, insultando a Justiça de seu país, pretende reeditar acampamentos golpistas e causar caos social.”

Flávio Bolsonaro reagiu durante transmissão ao vivo, rejeitando a hipótese de que a vigília tivesse sido convocada para dificultar uma eventual fuga do pai. Segundo afirmou, seria “humanamente impossível” que Jair Bolsonaro deixasse o local diante do aparato policial instalado.

O senador também negou estar em campanha para suceder o pai na disputa presidencial de 2026: “Nunca falei que sou candidato a presidente da República. Sempre falei que sou candidato à reeleição ao Senado no estado, se assim o partido decidir. Isso tudo aqui é medo? Querem enterrar todos os Bolsonaros vivos?”


“Meti um ferro quente aí…"

A crise se aprofundou com a divulgação do vídeo em que Bolsonaro confirma que tentou violar a tornozeleira eletrônica. Questionado por uma servidora da administração penitenciária sobre o que havia usado para tentar romper o equipamento, ele respondeu: “Meti um ferro quente aí… curiosidade.” Ao ser perguntado se era um ferro de passar, Bolsonaro completou: “Ferro de soldar, solda.”

A confissão desmonta a versão de aliados que classificavam o episódio como “narrativa” e reforça os argumentos utilizados por Moraes para decretar a prisão preventiva. Para o STF, a tentativa de violação somada à convocação da vigília indicava risco concreto de fuga e de novos atos que pudessem tumultuar o processo.

Líderes da Câmara acreditavam que o relator Paulinho da Força (Solidariedade-SP) poderia apresentar ajustes ao projeto de anistia, abrindo espaço para negociações — inclusive alternativas de redução de penas.

A publicação do vídeo alterou completamente o cenário. Um integrante da cúpula da Câmara disse que a pauta se tornou politicamente “impossível” no momento e que não há ambiente para avançar com qualquer tipo de flexibilização das punições.

Há ainda o temor de que votar a matéria imediatamente seja interpretado como afronta ao Supremo e resulte em forte desgaste público para o Legislativo.

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