Estudo aponta que 11% dos brasileiros celebraram a violência após operação no Rio
Levantamento da FGV revela reações nas redes sociais à megaoperação que deixou mais de 120 mortos nos complexos do Alemão e da Penha
247 - Um levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) revelou que 11% das publicações nas redes sociais expressaram alegria diante da violência ocorrida durante a megaoperação policial realizada pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro, na última terça-feira (28), que resultou na morte de pelo menos 120 pessoas, entre suspeitos e agentes de segurança pública. O estudo mostra como a repercussão digital do episódio evidenciou a banalização da barbárie e a disseminação de imagens de corpos e cenas de morte, transformando o horror em espetáculo online.
A pesquisa, conduzida pela doutora em marketing e coordenadora do Centro de Estudos em Marketing Digital da FGV/EAESP, Lilian Carvalho, foi divulgada pela própria instituição. Segundo o levantamento, em menos de 24 horas, o tema somou 43 mil menções nas redes sociais: 67% neutras, 27% negativas e 6% positivas. Entre os sentimentos predominantes, destacaram-se o medo e o nojo, ambos com 22% das postagens.
“Normalização algorítmica da barbárie”
Lilian Carvalho chamou atenção para o que descreveu como “normalização algorítmica da barbárie”, fenômeno em que as redes sociais acabam amplificando conteúdos violentos. “O sentimento predominante foi medo ou nojo, com 22% das menções cada, mas um número significativo de 11% expcressou alegria diante da violência. A experiência contemporânea comprova o que venho alertando em minha pesquisa: algoritmos não têm lado, mas reproduzem e exacerbam aquilo que há de mais barulhento e emocional em cada bolha”, afirmou a pesquisadora.
Os termos mais mencionados nas publicações foram “Complexos do Alemão e da Penha”, “CV”, “segurança pública”, “Operação Contenção”, “Polícia Militar”, “crime organizado” e “facções criminosas”. O governador do Estado, Cláudio Castro, foi citado em quase 10% das menções — número que, segundo o estudo, pode indicar apoio de parte dos internautas à ação policial.
Violência como sintoma social
Para a pesquisadora, a celebração da violência por parte dos usuários revela tanto um processo de dessensibilização coletiva quanto um reflexo da insegurança generalizada que atinge a sociedade. “Essa taxonomia digital revela como a narrativa da operação foi enquadrada: entre a justificativa da segurança pública e a crítica à brutalidade estatal”, explicou Lilian.
O estudo da FGV evidencia que, nas redes sociais, a fronteira entre indignação e apatia diante da violência se torna cada vez mais tênue — e que o ambiente digital, impulsionado por algoritmos, pode reforçar discursos que banalizam a morte e desumanizam as vítimas.



