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“O trabalhador merece o fim da escala 6x1”, diz Lula

Presidente defende redução da jornada semanal e critica teto de gastos durante reunião do Conselhão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cerimônia de sanção do projeto que isenta quem ganha R$ 5 mil por mês do pagamento do Imposto de Renda (IR), no Palácio do Planalto, em Brasília-DF - 26 de novembro de 2025 (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

247 - Em discurso enfático nesta quinta-feira (4), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a defender mudanças estruturais no mundo do trabalho, argumentando que os avanços tecnológicos já permitem ao país repensar modelos tradicionais de jornada. A fala ocorreu na reunião plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, em Brasília, onde Lula abordou temas como investimento público, orçamento federal e condições trabalhistas.

O presidente relacionou o debate sobre jornada de trabalho às transformações tecnológicas e à necessidade de garantir melhor qualidade de vida aos trabalhadores. Lula afirmou que o país não pode tratar investimentos sociais como gastos e que a discussão sobre desenvolvimento precisa incorporar a valorização da mão de obra.

Ao criticar o teto de gastos, Lula argumentou que grandes economias não restringem investimentos essenciais, sobretudo em ciência, tecnologia e educação. Para ilustrar, comparou a política brasileira com decisões recentes de países europeus. “Um país que é a oitava economia do mundo não tem o direito de ficar criando teto de gastos. Vocês acham que os Estados Unidos pensam em teto de gastos? A Alemanha? Agora mesmo eles aprovaram 800 bilhões de euros para comprar armas. Não seria melhor ter aprovado 800 bilhões para acabar com a fome no mundo? Há uma inversão de valores”, afirmou.

O presidente também voltou a criticar o controle crescente do Congresso sobre o Orçamento da União. Para ele, as emendas impositivas distorcem a lógica da gestão pública e retiram do Executivo parte de sua capacidade de planejamento. “Eu, sinceramente, não concordo com as emendas impositivas, acho que o fato de o Congresso sequestrar 50% do orçamento da União é um grave erro histórico”, declarou. Segundo Lula, mudanças desse modelo só ocorrerão com renovação política: “Você só vai acabar com isso quando você mudar as pessoas que aprovaram isso”.

Ao entrar no tema central de sua fala sobre o mundo do trabalho, Lula recuperou sua experiência como metalúrgico na Volkswagen para ilustrar como as mudanças tecnológicas impactaram a produção e deveriam, segundo ele, impactar também as condições laborais. “Eu trabalhava na Volkswagen, tinha 40 mil trabalhadores, produzia 1,2 mil carros. A gente trabalhava com a mesma jornada de trabalho que trabalha hoje, com os avanços tecnológicos? A Volkswagen, que tinha 40 mil, tem 12 mil hoje e produz o dobro”, afirmou.

O presidente questionou por que a produtividade crescente não se traduz em jornadas menores. “E o que avançou tecnologicamente que a gente não reduz a jornada de trabalho? Para que serviram todos esses avanços? O que é reduzir para 40 horas? Qual é o prejuízo que tem para o mundo? Nenhum”, disse. Ele citou o exemplo do México, que aprovou recentemente a jornada semanal de 40 horas, como referência para o debate brasileiro.

Lula afirmou ainda que cabe aos movimentos sindicais e à sociedade civil ampliar a discussão sobre jornadas mais curtas. “Eu tinha dito para os dirigentes sindicais há muito tempo: não peça que eu faça um projeto para reduzir; façam vocês um movimento para politizar a base”, afirmou, defendendo que o tema seja aprofundado dentro do próprio conselho.

Ao final, Lula sugeriu que o país está em condições de acelerar o fim da escala 6x1, modelo ainda dominante em diversos setores da economia. “Eu queria que este conselho estudasse com muito carinho essa proposta da jornada de trabalho para acabar com essa coisa de 6x1, porque não tem mais sentido com os avanços tecnológicos. A gente pode apressar o fim dessa jornada 6x1 e dar uma jornada melhor para o povo trabalhador”, concluiu.

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