HOME > Brasil

Lula chama Três Poderes para enfrentar escalada da violência contra mulheres

Presidente anuncia reunião institucional e defende ação conjunta após dados alarmantes de feminicídio no país

Brasília (DF) - 09/12/2025 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou nesta sexta-feira (12) a convocação de uma reunião com representantes dos Três Poderes para discutir a alta da violência contra as mulheres no Brasil. A iniciativa foi divulgada durante discurso na 13ª Conferência dos Direitos Humanos, realizada em Brasília, em meio à apresentação de dados oficiais que apontam crescimento dos casos de feminicídio e a necessidade de uma resposta articulada do Estado e da sociedade.

As declarações foram feitas pelo presidente durante a 13ª Conferência dos Direitos Humanos, em Brasília, em um discurso no qual Lula abordou avanços sociais de seu governo, alertou para retrocessos institucionais e destacou a urgência de enfrentar a violência de gênero como um problema estrutural.

Lula ressaltou a importância da mobilização social na defesa de direitos. “É muito importante a gente dar muita importância a um evento como este, sobre os direitos humanos. Construir qualquer política positiva para ajudar as pessoas necessitadas é sempre muito difícil. Agora, destruir, basta eleger alguém que não presta”, afirmou. O presidente também alertou para a fragilidade de políticas públicas diante de mudanças de governo e destacou o papel das conferências como espaço de cobrança e visibilidade social.

Ao fazer um balanço das ações recentes, Lula citou indicadores econômicos e sociais. “A pobreza e a extrema pobreza caíram aos menores índices de toda a história desse país. O desemprego é o menor da nossa história. E também é o maior número de empregos formais que nós criamos nesses últimos anos”, disse, mencionando ainda a saída do Brasil do Mapa da Fome e mudanças na tributação do Imposto de Renda voltadas à redução da desigualdade.

O presidente também abordou avanços legais e programas sociais, destacando que “aprovamos a lei da igualdade salarial entre homens e mulheres e mesmo depois da lei aprovada, há uma segunda guerra, para fazer as pessoas cumprirem a lei”. Segundo ele, a garantia de direitos frequentemente exige judicialização para assegurar o cumprimento da legislação.

No campo das políticas públicas, Lula mencionou medidas voltadas a grupos vulneráveis, como a destinação de unidades do Minha Casa, Minha Vida para pessoas em situação de rua, a ampliação do Mais Médicos e do Farmácia Popular e a criação do programa Agora Tem Especialistas. Ele também destacou a participação inédita de indígenas e quilombolas no Orçamento da União e em políticas públicas, associando esses avanços a um ambiente democrático.

Ao tratar do cenário internacional e doméstico, Lula criticou o avanço de pautas extremistas. “A verdade nua e crua é que a ascensão da extrema-direita ao redor do mundo provocou uma inédita onda de negacionismo dos valores humanistas”, afirmou, apontando que grupos vulneráveis são alvos preferenciais de ataques e discriminação. Nesse contexto, defendeu a política de proteção a defensoras e defensores dos direitos humanos encaminhada ao Congresso Nacional.

O momento mais contundente do discurso foi dedicado à violência contra as mulheres. Lula afirmou que, apesar de políticas já implementadas, “é preciso fazer muito mais”. Citando dados do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública do Ministério da Justiça, ele destacou que, entre janeiro e outubro de 2025, “1.177 mulheres foram assassinadas pelo simples fato de serem mulheres”, o que representa “uma estarrecedora média de quatro mulheres assassinadas por dia”.

O presidente foi enfático ao caracterizar os crimes e responsabilizar os agressores. “Assassinadas pelos maridos, namorados, colegas de trabalho, desconhecidos com quem cruzam na rua. Agredidas, estupradas e assassinadas por homens que se acham donos do mundo e que se julgam proprietários de suas companheiras”, disse, defendendo punição rigorosa e ação conjunta entre os Poderes e a sociedade.

Lula anunciou que a reunião convocada para a próxima semana contará com autoridades do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, do Senado, da Câmara, da Defensoria Pública e da Procuradoria-Geral da República. Segundo ele, é necessário mudar a abordagem do problema. “A violência contra a mulher não é um problema para ser resolvido pelas mulheres. A violência contra a mulher é um problema para ser resolvido pelo caráter dos homens que acham que são donos das mulheres”, afirmou, associando o enfrentamento da violência a um desafio educacional.

Ao final, o presidente assumiu compromisso pessoal com o tema. “Vou assumir a responsabilidade de colocar esse assunto na minha mesa, porque nós temos que virar a cabeça dos homens nesse país”, declarou, reforçando que o combate à violência de gênero exige mudança cultural profunda e mobilização permanente das instituições e da sociedade brasileira.

Artigos Relacionados