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Lula critica exclusão de catadores e exalta “trabalho nobre” de reciclagem

Presidente anuncia coordenação nacional para catadores e reafirma foco social do governo

19.12.2025 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita estandes durante a ExpoCatadores 2025, em São Paulo (SP) (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

247 - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou duramente políticas públicas que restringem a atuação de catadores de materiais recicláveis e classificou a atividade como um “trabalho nobre”, essencial para a sobrevivência de milhares de famílias e para a sustentabilidade ambiental do país. As declarações foram feitas nesta sexta-feira (19), durante a cerimônia de Natal da ExpoCatadores 2025, em São Paulo, evento que reuniu trabalhadores da reciclagem, movimentos sociais e representantes do governo federal.


Em seu discurso, Lula afirmou que a relação do Estado com os catadores deve ir além de ações pontuais e passar a integrar um novo modelo de governança. Segundo ele, medidas que proíbem ou dificultam a coleta de recicláveis revelam desprezo pela realidade social brasileira. As falas do presidente foram registradas durante pronunciamento público na ExpoCatadores 2025.


Ao comentar decisões recentes em municípios brasileiros, Lula citou o caso de Porto Alegre, onde mudanças na legislação municipal geraram forte reação dos trabalhadores da reciclagem. “Fiquei sabendo há pouco que tem um prefeito numa cidade [Porto Alegre] importante que proibiu as pessoas de passarem com carroça na rua. E mais grave: se o lojista foi distribuir papel para os catadores, será multado”, afirmou. Para o presidente, impedir o exercício da atividade equivale a negar dignidade a quem depende dela para sobreviver. “Proibir que alguém trabalhe para levar seu dinheiro para casa para sustentar sua família, porque está com uma carrocinha, esse cidadão não tem nada de humanismo na cabeça dele”, declarou.


Lula também anunciou mudanças na condução das políticas federais voltadas aos catadores. Segundo ele, as ações deixarão de ser fragmentadas entre ministérios e passarão a ter coordenação centralizada. “Hoje decidi numa reunião com os companheiros que a partir de agora não terá mais política de ministro individual para catadores. Todas as nossas políticas serão coordenadas pelo companheiro [Guilherme] Boulos, ministro da Secretaria-Geral da Presidência”, disse. O presidente destacou que decisões precisam ser executadas com rapidez para não minar a confiança da população. “Quando a gente decide, é para que a política seja colocada em prática imediatamente, se não as pessoas param de acreditar, perdem a esperança. A única coisa que a gente não pode perder é a esperança.”


Ao falar sobre a orientação geral de seu governo, Lula reforçou que a prioridade são as camadas mais vulneráveis da sociedade. “Todo o meu governo é unânime em dizer que a gente deve fazer política para favorecer as pessoas mais necessitadas”, afirmou. Ele também buscou estabelecer uma relação de confiança com os catadores, lembrando o histórico de exclusão enfrentado pela categoria. “Vocês já foram enganados por muito tempo, e não viemos para enganar. Esse respeito que eu tenho por vocês é porque eu sei como vocês vivem, como as pessoas olham para vocês.”


O presidente aproveitou o discurso para fazer um balanço do terceiro ano de mandato, destacando indicadores econômicos e sociais. “Estamos terminando nosso terceiro ano de governo e estou muito feliz. Pegamos esse país destroçado, levamos praticamente dois anos para colocar este país em pé”, afirmou. Segundo Lula, o país encerra o período com “a menor inflação acumulada em quatro anos da história do Brasil, com o menor desemprego da história do Brasil, com a maior massa salarial da história do Brasil” e com “a maior política de inclusão social que esse país já conheceu”.


No encerramento, Lula sinalizou que o governo pretende ampliar os investimentos em áreas como educação e saúde e reagiu a movimentações políticas antecipadas para a disputa eleitoral de 2026. “Tem muita gente já pensando na eleição de 2026. Não posso pensar ainda porque tenho que trabalhar. Mas deixa eles pensarem”, disse, antes de completar: “Quero comparar o que eles fizeram nesse país com o que nós fizemos.”


O discurso ocorre em meio ao debate sobre o novo Código Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre. A Câmara Municipal aprovou o texto após semanas de impasse e protestos de catadores, preocupados com os impactos da proposta sobre a atividade. O projeto original, enviado pelo Executivo, previa multas de R$ 519,39 e a proibição da coleta de recicláveis por pessoas não vinculadas ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), o que foi interpretado como tentativa de criminalizar o trabalho informal.


Após pressão de movimentos sociais e articulação da oposição, emendas retiraram a punição direta aos catadores. A versão final reconhece a categoria como parte do sistema municipal de limpeza e prevê políticas de inclusão socioprodutiva. Ainda assim, entidades da economia popular e parlamentares críticos afirmam que o código mantém brechas para a centralização da coleta e eventual privatização dos serviços, além de apontarem falta de participação efetiva das cooperativas e de mecanismos de controle social sobre as decisões do DMLU.

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