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      Militares envolvidos na morte de Rubens Paiva foram promovidos e até elogiados após o crime

      Documentos revelados pela Fiquem Sabendo mostram que cinco oficiais ligados ao assassinato do ex-deputado avançaram na carreira durante a ditadura

      Laís Gouveia avatar
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      247 - Mais de cinco décadas após o assassinato do ex-deputado Rubens Paiva, novos documentos reforçam a impunidade que marcou o caso. Segundo informações obtidas pela agência de dados Fiquem Sabendo, via Lei de Acesso à Informação, cinco militares apontados pela Comissão Nacional da Verdade como envolvidos na morte de Paiva foram promovidos e, em alguns casos, receberam elogios oficiais mesmo após o crime. As informações são do Metrópoles. 

      Rubens Paiva foi preso em 20 de janeiro de 1971 e levado ao Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), no Rio de Janeiro. Dois dias depois, já não havia sinais de vida. Seu corpo nunca foi encontrado. Durante décadas, o Exército sustentou uma versão falsa de que ele teria sido resgatado por militantes armados durante uma transferência, tese desmentida por investigações e pela Comissão Nacional da Verdade.

      Entre os nomes revelados nas fichas funcionais estão Freddie Perdigão Pereira, Rubem Paim Sampaio, Raymundo Ronaldo Campos, Jacy Ochsendorf e Jurandyr Ochsendorf. Eles teriam atuado de formas distintas no caso: enquanto Perdigão e Sampaio participaram diretamente da recepção e interrogatório de Paiva, os outros três estariam envolvidos na ocultação de seu desaparecimento.

      Os registros mostram que:

      •  Freddie Perdigão Pereira foi promovido a major em 1974, três anos após a morte de Rubens Paiva. Encerraria a carreira como tenente-coronel, servindo inclusive como oficial de gabinete da Presidência da República.
      •  Rubem Paim Sampaio ascendeu a tenente-coronel em 1975 e trabalhou como oficial de gabinete do então ministro do Exército antes de ser transferido para a reserva em 1976.
      •  Raymundo Ronaldo Campos tornou-se major em 1973 e chegou à patente de coronel antes de deixar o Exército, em 1984.
      •  Jacy Ochsendorf foi promovido a 2º sargento em 1974 e chegou a capitão antes de se aposentar em 1996, após atuar por mais de 20 anos no gabinete do ministro do Exército.
      •  Jurandyr Ochsendorf virou subtenente em 1976 e alcançou o posto de capitão antes de ir para a reserva em 1994.

      Dos cinco, apenas Jacy Ochsendorf e Rubem Paim Sampaio não receberam elogios formais após 1971. Todos os demais tiveram registros elogiosos em seus históricos funcionais, mesmo após os fatos relacionados ao desaparecimento do ex-deputado.

      Rubens Paiva era um parlamentar cassado pelo regime militar e defensor ativo da democracia. Sua história ganhou projeção nacional e internacional com o livro Ainda estou aqui, escrito por seu filho, o escritor Marcelo Rubens Paiva, e com o filme homônimo estrelado por Fernanda Torres — vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2025.

      A Fiquem Sabendo ainda aguarda acesso às fichas funcionais de dois outros nomes-chave no caso: Antônio Fernando Hughes de Carvalho, acusado de envolvimento direto em torturas, e José Antônio Nogueira Belham, então major e comandante do DOI, considerado responsável pela morte e desaparecimento de Rubens Paiva por ter conhecimento e consentimento das práticas de tortura aplicadas nas dependências do órgão.

      Mais de 50 anos após o crime, o corpo de Rubens Paiva permanece desaparecido e o Estado brasileiro ainda não responsabilizou criminalmente nenhum dos envolvidos. A certidão de óbito, no entanto, foi retificada: consta agora que a morte foi “causada pelo Estado”. O caso será julgado pelo Supremo Tribunal Federal com repercussão geral, o que pode abrir caminho para novas decisões envolvendo crimes cometidos por agentes da ditadura.

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