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Universitário pagava R$ 10 por questões usadas como pré-teste do Enem 2025

Perguntas do Prêmio Capes eram memorizadas por alunos e repassadas a Edcley, que usava o material para lives e cursos vendidos por mais de R$ 1 mil

Universitário pagava R$ 10 por questões usadas como pré-teste do Enem 2025 (Foto: Reprodução)

247 - Um universitário identificado como Edcley, investigado por antecipar questões semelhantes às do Enem 2025 em vídeos e materiais pagos, utilizava um esquema de compra de perguntas do Prêmio Capes Talento Universitário. A revelação foi publicada pelo g1, que obteve depoimentos, comprovantes de PIX e mensagens de WhatsApp indicando que ele pagava R$ 10 por cada item memorizado pelos participantes do concurso.

Segundo a reportagem, Edcley sabia de uma informação que nunca foi divulgada oficialmente pelo Ministério da Educação (MEC): as perguntas do Talento Universitário, aplicado pela Capes a estudantes do 1º ano do ensino superior, funcionavam como pré-teste do Enem e poderiam aparecer em edições futuras do exame. A partir disso, ele montou uma estrutura para obter e explorar essas questões em seus cursos e transmissões.

Em 11 de novembro, cinco dias antes do segundo dia do Enem 2025, Edcley fez uma live apresentando ao menos cinco questões de matemática e ciências da natureza muito semelhantes às que realmente caíram na prova. No WhatsApp, comemorou: “Acho que vocês ainda não têm dimensão do que significa o Prêmio Capes. É como se encontrassem a prova do Enem jogada no chão na véspera da prova”, afirmou a alunos de sua mentoria.

Um dos estudantes que colaboravam com Edcley disse ao que acreditava estar ajudando o mentor a montar simulados. “Ele pedia para a gente memorizar o maior número de perguntas possível: as imagens, os contextos, os conteúdos abordados. Mandamos tudo para ele. Não tínhamos noção do que estava acontecendo”, contou.

Outro relato reforça a estratégia: “Eis que a monitoria em questão criou o seguinte método: incentivou alunos a fazerem a tal prova do Capes, e assim que saíssem da sala, divulgassem as questões cobradas que estivessem frescas na memória deles. Isso porque a prova é feita em um PC; não se sai de lá com caderno de questões”, disse uma das fontes.

Mensagens obtidas pela reportagem revelam que Edcley pagava R$ 10 por pergunta memorizada. Em novembro do ano passado, ele escreveu a um grupo: “Quanto à recompensa, faço o pagamento no mesmo dia, logo após receber os áudios. Se as respostas forem mais detalhadas, posso até aumentar o valor (...). Capriche nas questões de matemática!”. Em outra mensagem, afirmou: “Isso não é errado nem compromete o propósito do prêmio”.

Com o material obtido, Edcley montou apostilas, criou conteúdos exclusivos e vendeu cursos por R$ 1.320. Na divulgação, prometia: “Novas questões pré-testadas que podem cair no Enem!!”.

A um jovem interessado na mentoria, declarou: “Se confirmado, tenho, junto a 2023, pelo menos mais algumas dezenas de questões difíceis de pré-testes. Tudo isso sem cometer crime nenhum, porque o Inep não pode censurar minha memória️”.

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