“Valores conservadores serão mais importantes que a economia em 2026”, diz Paulo Guedes
Ex-ministro avalia que segurança pública e agenda conservadora dominarão o debate político
247 - O ex-ministro da Economia Paulo Guedes afirmou que a eleição presidencial de 2026 deverá ser marcada por uma disputa centrada em valores sociais e segurança pública, em detrimento do debate econômico. A declaração foi feita durante palestra no evento Tax Experience, realizado nesta quinta-feira (13) em São Paulo. As informações são do Valor Econômico.
Guedes, que comandou a economia no governo Jair Bolsonaro, avaliou que o cenário internacional favorece o avanço de administrações de centro-direita e conservadoras, tendência que, segundo ele, deve se refletir também no Brasil.
Logo no início de sua fala, o ex-ministro destacou que “os valores conservadores vão ser mais importantes do que a economia”. Ele argumentou que a inflação perdeu peso como tema central do debate público, enquanto a segurança – em suas dimensões interna, externa e jurídica – ocupa hoje o centro das preocupações sociais. Para Guedes, o avanço da criminalidade e a sensação de instabilidade estariam gerando uma “revolta da classe média”, capaz de redefinir os rumos da campanha presidencial.
Ao comentar o resultado da eleição para a prefeitura de Nova York, vencida pelo democrata Zohran Mamdani, Guedes afirmou que a vitória sinaliza mais “uma revolta contra o establishment” do que respaldo às pautas progressistas defendidas pelo crítico do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O ex-ministro também fez críticas indiretas ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele afirmou que medidas consideradas “extraordinárias” podem ser usadas para ampliar vantagens eleitorais, mas acabam deixando “coisas erradas” que precisam depois ser corrigidas. Guedes reforçou ainda alertas sobre os riscos de aumento de gastos públicos, avaliando que isso pode comprometer o crescimento econômico em 2026.
Ao abordar a política institucional, reiterou sua oposição ao mecanismo da reeleição, que, em sua visão, “desvirtua” o processo político. Mesmo assim, defendeu a tentativa de Bolsonaro de buscar um segundo mandato em 2022, alegando que outros presidentes tiveram a mesma oportunidade.
Guedes também comentou o tarifaço imposto por Trump a produtos brasileiros e sugeriu que Lula teria contribuído para o agravamento da situação ao adotar posições no cenário internacional que contrariaram interesses do presidente americano. Para ele, o Brasil deveria evitar confrontos desnecessários para preservar sua diplomacia: o país, afirmou, deveria “ficar quietinho”.
Apesar das críticas, Guedes disse enxergar potencial para que a economia brasileira avance nos próximos anos, citando fatores como energia limpa e barata, além da capacidade de ampliar a oferta global de alimentos. “É a nossa hora. Não brigamos com ninguém, não temos inimigo natural”, afirmou.
Em outro trecho, ele voltou a mencionar Bolsonaro, fazendo alusão ao julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) que condenou o ex-presidente por tentativa de golpe de Estado. “Nunca chegou para mim [e disse] ‘persegue, ataca’. Zero. Só vi atitudes de pensar no país. Se fizeram alguma coisa, foi de noite, três horas da manhã”, declarou.
Guedes deixou o evento sem falar com a imprensa e afirmou que hoje atua apenas como observador da cena política. Segundo ele, sua “cota de contribuição” já foi dada, cumprindo o que definiu como seu “dever cívico” com o Brasil. “Nunca tive partido e jamais terei”, disse, ao lembrar que já recusou convites para disputar cargos eletivos.



