Em recado a chanceler que insultou o Brasil, embaixador da Alemanha anuncia 15 milhões de euros para novo fundo indígena
Anúncio na COP30 inclui elogio a Belém e reforça apoio internacional às políticas indígenas do Brasil
247 - O governo da Alemanha confirmou nesta terça-feira (18) a doação de 15 milhões de euros para o novo fundo brasileiro dedicado ao desenvolvimento de comunidades indígenas e à proteção territorial. O anúncio ocorreu durante a COP30, realizada em Belém (PA).
A contribuição alemã marcou um dos primeiros aportes do mecanismo lançado pelo governo brasileiro na conferência da ONU. Segundo a Folha de S. Paulo, Wolfgang Bindseil, ministro da Embaixada da Alemanha no Brasil, apresentou o anúncio diante do público e destacou sua admiração pela capital paraense, em referência indireta às críticas feitas anteriormente pelo premiê Friedrich Merz sobre sua estadia no evento.
Alemanha faz primeiro grande aporte ao fundo
Ao saudar os anfitriões, Bindseil afirmou que “nesta ocasião especial, eu gostaria de agradecer aos nossos anfitriões por sua hospitalidade e destacar que gosto muito do ambiente da cidade de Belém e desse país maravilhoso”. A fala foi recebida com aplausos.
Em seguida, reforçou o apoio à política indigenista brasileira. “Parabenizamos o governo brasileiro pela sua liderança na promoção dos direitos e do empoderamento dos povos indígenas. Seus esforços para assegurar os direitos territoriais, fortalecer a gestão dos recursos naturais e ampliar o acesso ao financiamento e apoio são exemplares. Os indígenas são fundamentais para a natureza e para o clima”, disse o diplomata.
Elogio a Belém é resposta indireta a Merz
A declaração foi interpretada como uma resposta indireta às críticas do premiê Merz, que viralizou ao reclamar da estrutura e da experiência em Belém durante a COP30. Bindseil, porém, não mencionou o nome do premiê em seu discurso.
Além da Alemanha, outras instituições anunciaram doações: a fundação americana Gordon e Betty Moore destinou US$ 10 milhões, enquanto o Banco Mundial confirmou um aporte de US$ 4 milhões. A meta inicial é alcançar pelo menos US$ 100 milhões de captação.
Recursos priorizam a Amazônia e terras indígenas reconhecidas
O fundo abrangerá os seis biomas brasileiros, mas cerca de 70% dos recursos será voltada à Amazônia, onde se concentram a maioria das terras indígenas reconhecidas. Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, o mecanismo atenderá comunidades com algum nível de reconhecimento territorial do Estado, especialmente aquelas que já receberam portarias do Ministério da Justiça definindo seus limites — etapa que ainda requer a assinatura do presidente da República.
Funbio assume gestão financeira do mecanismo
Responsável pela modelagem e operação financeira, o Funbio (Fundo Brasileiro para a Biodiversidade) usou sua experiência acumulada em iniciativas como o programa Arpa para estimar as necessidades de financiamento para os próximos 15 anos. Na primeira fase, o fundo será alimentado principalmente por fontes bilaterais e filantrópicas, devido à maior rapidez e menor burocracia.
Movimento indígena pede repasses mais diretos
Kleber Karipuna, coordenador da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), defendeu que a maior parte dos recursos chegue diretamente às organizações indígenas, reduzindo a intermediação. “O apoio para o enfrentamento da emergência climática mostra que pouco recurso chegou nos territórios indígenas, menos de 1% de todo repasse da filantropia global e da cooperação. A gente vem fazendo incidência nesses últimos anos para que esse recurso aumente e chegue mais diretamente às organizações indígenas e passe por menos intermediários possíveis”, afirmou.



