Ao taxar filmes estrangeiros, Trump admite que Hollywood está morrendo
Presidente dos Estados Unidos impõe tarifa de 100% sobre produções internacionais e acusa outros países de sabotarem a indústria cinematográfica americana
247 – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou neste domingo (5) a imposição de uma tarifa de 100% sobre todos os filmes produzidos fora do país. A informação foi divulgada pela agência Reuters. Segundo Trump, a indústria cinematográfica norte-americana estaria morrendo “a uma velocidade muito rápida” por causa dos incentivos fiscais oferecidos por governos estrangeiros para atrair produções.
“Isso é um esforço coordenado de outras nações e, portanto, uma ameaça à segurança nacional. É, além de tudo, uma questão de mensagem e propaganda”, afirmou o presidente por meio de sua rede Truth Social. Ele acrescentou em letras maiúsculas: “QUEREMOS FILMES FEITOS NA AMÉRICA, DE NOVO!”
Trump disse que autorizou o Departamento de Comércio e outras agências competentes a iniciarem imediatamente o processo para aplicar as tarifas sobre filmes estrangeiros que forem exibidos nos Estados Unidos. Contudo, nem o presidente nem o secretário de Comércio, Howard Lutnick — que afirmou em publicação na rede X, “estamos trabalhando nisso” — forneceram detalhes sobre a implementação da medida.
Ainda não está claro se a tarifa se aplicará também a filmes exibidos por plataformas de streaming ou apenas a lançamentos em salas de cinema, tampouco se será baseada no custo de produção ou na receita de bilheteria. Executivos de estúdios de Hollywood estariam reunidos desde domingo à noite para tentar entender os impactos da decisão. A Motion Picture Association, entidade que representa os grandes estúdios, não se pronunciou de imediato.
Desindustrialização de Hollywood e concorrência global
A medida surge em um momento crítico para Hollywood. A produção de filmes e séries nos Estados Unidos tem migrado progressivamente para países que oferecem melhores condições tributárias e subsídios diretos, como Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia. Segundo a consultoria Ampere Analysis, cerca de US$ 248 bilhões devem ser investidos globalmente na produção de conteúdo em 2025, e diversos governos estão disputando fatias desse mercado com políticas agressivas de incentivo.
Dados da FilmLA, organização sem fins lucrativos que monitora a produção audiovisual na região de Los Angeles, mostram que a atividade caiu quase 40% na última década. Um levantamento da ProdPro revelou que, em 2023, metade dos investimentos em projetos cinematográficos e televisivos com orçamento superior a US$ 40 milhões foi feita fora dos EUA. O mesmo estudo mostrou que a Califórnia ocupa apenas o sexto lugar na lista de destinos preferidos para filmagens nos próximos dois anos, atrás de Toronto, Reino Unido, Vancouver, Europa Central e Austrália.
Além disso, os incêndios florestais que atingiram a Califórnia em janeiro reforçaram a tendência de fuga de produções, aumentando os temores de êxodo entre trabalhadores da indústria, como operadores de câmera, técnicos de som e figurinistas.
Aliados e reações internacionais
Trump tenta reverter esse quadro. Em janeiro, nomeou veteranos de Hollywood como Jon Voight, Sylvester Stallone e Mel Gibson para liderar uma ofensiva de recuperação da indústria cinematográfica nacional, prometendo torná-la “maior, melhor e mais forte do que nunca”.
A resposta internacional foi imediata. Líderes de Austrália e Nova Zelândia, dois polos emergentes na produção cinematográfica mundial — responsáveis, respectivamente, por abrigar filmagens de franquias como “Thor” e “O Senhor dos Anéis” — prometeram intensificar o apoio aos seus setores audiovisuais, diante da decisão americana.
No entanto, especialistas alertam para as consequências de uma guerra comercial no setor cultural. William Reinsch, ex-funcionário sênior do Departamento de Comércio e atual analista do Center for Strategic and International Studies, avaliou que a retaliação pode ser devastadora para os próprios Estados Unidos: “A retaliação vai matar a nossa indústria. Temos muito mais a perder do que a ganhar”, disse ele à Reuters, acrescentando que será difícil justificar a medida como uma questão de segurança nacional ou emergência.
A nova tarifa de Trump sobre filmes estrangeiros se soma a uma série de confrontos comerciais promovidos por seu governo, reacendendo temores sobre os impactos dessas políticas protecionistas na economia americana e no cenário global. Com Hollywood fragilizada e o mercado audiovisual cada vez mais globalizado, a decisão promete gerar novos embates diplomáticos e econômicos nas próximas semanas.
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