Acabou a blindagem a Campos Neto, diz Nassif
Jornalista afirma que sistema financeiro rompeu defesa ao ex-presidente do Banco Central
247 – O jornalista Luis Nassif afirmou que “acabou de vez a blindagem” ao ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em vídeo publicado em seu canal no YouTube. Logo no início do programa, Nassif destacou que seu portal havia revelado, “em primeiríssima mão”, suspeitas sobre o papel de Campos Neto em movimentações bancárias relacionadas à Operação Colossos, que investigou lavagem de dinheiro vinculada ao crime organizado.
Segundo ele, o jornal Estado de S. Paulo divulgou a operação, mas não fez a conexão que seu portal apresentou: na época dos fatos analisados — entre 2016 e 2019 — Campos Neto era diretor do Santander, único grande banco identificado pela operação.
“Explodiu de vez a blindagem”: as principais falas de Nassif
O jornalista afirma que, após dias enfrentando o tema praticamente sozinho, a blindagem ruiu:
“Explodiu de vez a blindagem do Roberto Campos Neto”, disse.
Segundo ele, reuniões da Febraban e de banqueiros passaram a pressionar o atual presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, para que o órgão aplicasse punições ao ex-dirigente.
Nassif afirma que “tudo aquilo que nós levantamos foi assimilado” pelo sistema bancário.
Ele também revelou ter recebido a visita de um oficial de Justiça com uma intimação relacionada a Campos Neto, para audiência de conciliação prevista para 2024.
Resolução de 2022 é apontada como peça-chave das suspeitas
Nassif detalhou que a resolução do Banco Central editada no fim de 2022, durante a gestão Campos Neto, eliminou a exigência de documentos que justificavam medidas regulatórias, reduzindo transparência e impedindo punições da Polícia Federal.
Segundo ele: “Mentira. Ele não apenas não colocou essa obrigatoriedade nessa resolução, como montou um esquema para não ter até 2026 nada nessa linha.”
O jornalista diz que a mudança facilitou golpes, lavagem de dinheiro e favoreceu empresas específicas, especialmente o Nubank, citado várias vezes na análise.
Rotatividade de consultores e “corrida por metas” teriam gerado sistemas de risco
Nassif também descreveu uma distorção generalizada no mercado financeiro, afirmando que consultores independentes passaram a ser remunerados pelo aporte de capital que levavam aos bancos, e não pelo desempenho para seus clientes. Isso teria provocado o que ele chamou de “pirâmide financeira”:
“Você precisava sempre trazer dinheiro novo. Isso aí sabe como é que se chama, pessoal? Pirâmide.”
Segundo ele, quando o sistema já não se sustentava mais pela entrada de novos investidores, o dinheiro do crime organizado passou a ocupar espaço em diversas operações.
Banrisul, Master e outras instituições no radar de desequilíbrios
Sem revelar nomes para evitar pânico no mercado, Nassif afirma que há bancos estruturados em modelos arriscados semelhantes ao do Banco Master — alvo de intervenção recente — e que alguns deles estariam próximos de colapso.
“Tem outros bancos aí que são uma pirâmide prestes a explodir.”
Ele menciona ainda práticas como uso de cédulas rurais sem lastro e trocas de ativos fictícios (“vento com vento”).
O retorno do SISBIN e o enfrentamento ao crime organizado
Nassif destacou a importância histórica do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN), criado por Márcio Thomaz Bastos, que integrava COAF, Polícia Federal, Ministério Público Federal, TCU e demais órgãos em uma mesma sala.
Ele relembrou a época em que Paulo Lacerda dirigia a PF, elogiando sua atuação: “Um baita presidente.”
Segundo Nassif, o desmonte institucional que se seguiu — especialmente após crises políticas como o mensalão e a Lava Jato — enfraqueceu o combate a crimes financeiros sofisticados.
Para Nassif, Banco Central virou “agente do mercado” e se afastou de sua função institucional
Um dos trechos mais contundentes do vídeo é a crítica direta à captura do Banco Central pelo mercado financeiro:
“O Banco Central virou um instrumento de melhoria do ambiente de negócio e não defesa da regulação e defesa do cliente.”
O jornalista afirma que decisões tomadas ao longo dos últimos anos desestruturaram o Estado e facilitaram o encontro entre dinheiro ilícito, sonegação e corrupção dentro do sistema financeiro.
Galípolo tem “um desafio gigantesco”, diz Nassif
Para Nassif, o atual presidente do BC, Gabriel Galípolo, carrega a responsabilidade de reconstruir a instituição e devolver seu caráter público:
“Ele tem nas mãos um desafio do qual depende não só a sua reputação intelectual, [...] mas a própria institucionalidade brasileira.”
O jornalista ressalta que o Banco Central autorizou aumento de capital do Banco Master 30 dias antes da intervenção, criticando a condução do órgão e alertando para riscos iminentes em outras instituições.
Histórico do BC reforça necessidade de retomada institucional
Nassif revisitou episódios históricos em que o Banco Central teve papel crucial para o país, como a atuação de Emílio Garófalo nos anos 1990, administrando o câmbio em momento de escassez de dólares.
Para o jornalista, essa tradição precisa ser recuperada:
“São essas figuras heróicas que fizeram o nome do Banco Central que têm que voltar.”


