HOME > Entrevistas

Geraldo Carneiro: Clima de violência no Brasil leva poesia a ser panfletária

Poeta foi o entrevistado do “Denise Assis Convida” deste domingo (21). Assista na TV 247

Geraldo Carneiro: Clima de violência no Brasil leva poesia a ser panfletária

Por Denise Assis (247) - Geraldo Eduardo Ribeiro Carneiro nasceu em Belo Horizonte, em 11 de junho de 1952, é poeta, letrista, dramaturgo e roteirista. Ficou conhecido como compositor desde o final da década de 1960, por suas parcerias com o compositor Eduardo Souto Neto, gravadas por diversos intérpretes, dentre as quais a belíssima canção: “Choro de Nada", gravada por Vinicius de Moraes e Toquinho, em 1975, e por Tom Jobim e Miúcha, em 1978.

Por imposição até mesmo do nome, que já veio com rima (Ribeiro Carneiro), foi a poesia, a sua atividade mais reconhecida, que acabou levando-o para a Academia Brasileira de Letras (ABL), onde ocupa a cadeira de número 24 que foi, dentre outros, de Manoel Bandeira. Seus versos são verdadeiros achados, livres de métricas, rigorosos no estilo, mas leves e contendo um cotidiano entre o jovial e o existencial, que acabam desembocando em verdadeiros achados, tais como: “eu que dobrei o Cabo da Esperança/ desinventei o Cabo das Tormentas”. Só um imortal escreve assim.

Geraldo Carneiro foi o entrevistado do “Denise Assis Convida” deste domingo (21/12). Perguntado se o cenário do Brasil mais áspero e rude pós Bolsonaro comporta a poesia, contou que tem se feito a mesma pergunta e, acreditem, o Brasil dos últimos anos mexeu até mesmo com o seu estilo. O remeteu a lugares já não mais frequentados pela sua escrita: “Há cerca de 20 dias eu fui reler um poema em que eu desconstruía o Hino Nacional. Na época, na transição para o governo Fernando Henrique, eu comecei a escrevê-lo, mas vi que era totalmente panfletário, desnecessário para o período.

“Estávamos em plena transição democrática e achei que ele não fazia mais sentido. Ao reler, agora, fiquei assustado, pois vi que ele é de uma atualidade absurda. A realidade me leva novamente a ser panfletário”, resumiu.

“A despeito de termos vivido três governos Lula e tido a oportunidade de mudar algumas coisas, o Brasil piorou muito nos anos recentes e de uma maneira trágica. A ponto desse poema ter sido resgatado por mim. Vou publicá-lo no meu próximo livro com o título: “Danação”. E o poeta – ainda que ficasse explícito todo o sentido do título-, explica: “a palavra nação está aí embutida, porque vivemos também uma verdadeira “danação”, lamentou, para esclarecer, em seguida, o que o incomoda: a violência.

Na década de 1970, quando a violência era de outra natureza, firmou parceria com Egberto Gismonti, Astor Piazzolla, John Neschling, Francis Hime, Wagner Tiso, entre outros. Carneiro, que reside no Rio de Janeiro desde 1955 e se espanta com a crueza da realidade ao redor, com o crime organizado que se esgueira pelos corredores do poder e se instala na política. “E aí a poesia que tende a ser lírica ou épica, quando você manifesta a sua visão de mundo, mais rasteira e superficial - enquanto na poesia lírica você sonha com conexões inesperadas entre palavras, sem nenhum compromisso com didatismo -, a situação do Brasil naqueles tempos retrocedeu de tal forma que a epopeia voltou a ser interessante”, disse. E para melhor ilustrar de que poesia está falando, recorre ao Emicida e à poesia dos rapers. “Eles sabem descrever o que estamos vivendo”.

De sua parte, lembrou que já fez incursões pelo submundo em sua arte, quando adaptou para uma “ópera” o apocalipse de Miguel contra o Satanás, trazendo esses personagens para um morro carioca. Eu acho que a poesia hoje transita entre o rema-rema lírico e o desespero político”. Assista:

Artigos Relacionados