HOME > Entrevistas

"Lula marca um golaço em política externa", avalia historiador sobre visita à Rússia

Para Thomas de Toledo, viagem marca rompimento com ambiguidade inicial e reafirma o Brasil como ator central no Sul Global

(Foto: Divulgação | Ricardo Stuckert/PR)
Dafne Ashton avatar
Conteúdo postado por:

247 - Em entrevista ao Boa Noite 247, o historiador Thomas de Toledo analisou a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Rússia, onde participa da celebração dos 80 anos da vitória soviética sobre o nazismo. Segundo ele, o gesto representa um novo marco na política externa brasileira e reafirma o alinhamento com o projeto de mundo multipolar defendido pelo bloco dos Brics.

"Lula marca um golaço em termos de política externa", afirmou Toledo. Para ele, a viagem encerra um período de ambiguidade diplomática que marcou o início do terceiro mandato do presidente, quando o governo brasileiro evitava se posicionar de forma clara em relação ao conflito na Ucrânia. "No começo do mandato, Lula repetiu diversas vezes que não visitaria nem a Rússia nem a Ucrânia enquanto estivessem em guerra", lembrou.

Segundo Toledo, essa postura cautelosa se explicava por compromissos firmados com o Partido Democrata dos Estados Unidos, que teve papel importante no reconhecimento da eleição brasileira diante da ameaça golpista de Jair Bolsonaro. "O alinhamento com o Partido Democrata impediu o Lula de ter um gesto como esse", disse.

Agora, com a mudança no governo dos EUA e a ascensão do presidente Donald Trump a um segundo mandato, o historiador avalia que o cenário geopolítico se reconfigura. "O Trump não tem interesse direto na guerra na Ucrânia, ele quer apenas negociar a partilha da Ucrânia com a Rússia", afirmou. Nesse contexto, a ida de Lula a Moscou simboliza o fortalecimento da soberania diplomática brasileira e o compromisso com um mundo multipolar.

"Lula abandona a ideia de neutralidade ambígua e afirma que o Brasil é Brics", afirmou Toledo. Segundo ele, o gesto também se conecta com uma memória histórica relevante: "Os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial são também 80 anos da derrota do nazifascismo", afirmou, destacando o simbolismo de o Brasil se posicionar nesse momento ao lado da Rússia, enquanto potências ocidentais se ausentam da comemoração.

O historiador também vinculou a política externa de Lula à experiência dos mandatos anteriores. "Se for mesmo um divisor de águas, tomara que Lula retome a ousadia do seu segundo mandato, quando tinha Marco Aurélio Garcia como assessor internacional", disse.

Para Toledo, o gesto de Lula é claro: o Brasil aposta no fortalecimento do Sul Global, ao lado de países como a China e a Rússia. Ele citou, como exemplo, a atuação russa no continente africano. "A Rússia retomou parte da sua política da era soviética, oferecendo apoio militar e político a países africanos que combatem o colonialismo", afirmou.

Nesse contexto, a presença do Brasil na celebração russa reforça um posicionamento estratégico no cenário internacional. "O gesto tem menos a ver com a guerra na Ucrânia e mais com a afirmação de uma política externa soberana, voltada para os Brics e para o mundo multipolar", concluiu. Assista: 

 

❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com redacao@brasil247.com.br.

✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.

Rumo ao tri: Brasil 247 concorre ao Prêmio iBest 2025 e jornalistas da equipe também disputam categorias

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Cortes 247

Relacionados

Carregando anúncios...
Carregando anúncios...