"O Brasil precisa fortalecer a Conab para regular o mercado de alimentos", diz Cloviomar Cararine
Economista do Dieese alerta para o impacto da inflação e a necessidade de políticas públicas estruturais
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, Cloviomar Cararine Pereira, economista e técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) na subseção da Federação Única dos Petroleiros (FUP), abordou a escalada dos preços dos alimentos e os desafios enfrentados pelo governo na contenção da inflação. Segundo ele, a ausência de estoques reguladores e a especulação financeira são fatores determinantes para a alta dos preços, o que reforça a necessidade de uma política pública eficaz para mitigar os impactos da inflação sobre a população.
Inflação dos alimentos e combustíveis
Os dados analisados pelo Dieese confirmam que os alimentos sofreram aumentos expressivos nos últimos meses. "A gente faz a pesquisa da cesta básica em várias capitais do Brasil mensalmente, e ela confirmou um crescimento significativo nos preços de alimentos nos últimos seis meses", destacou Cararine. Entre os produtos que mais encareceram estão o café, que subiu 50% em um ano, o óleo de soja (25%), as carnes bovinas (21%) e o leite (16%). Já os combustíveis também exerceram pressão sobre a inflação, com a gasolina registrando alta de 11% e o etanol, de 20,6%.
Fatores que impulsionam a alta dos preços
De acordo com Cararine, a inflação dos alimentos está diretamente ligada a três fatores principais: condições climáticas extremas, valorização do dólar e a ausência de regulação no mercado interno. "As secas e chuvas extremas afetam diretamente a produção. No ano passado, as chuvas no Rio Grande do Sul prejudicaram a colheita do arroz, o que teve impacto direto nos preços", explicou.
Outro fator é a desvalorização do real em relação ao dólar, impulsionada por movimentos especulativos e instabilidade internacional. "A eleição do Trump, o movimento especulativo no final do ano passado e os conflitos internacionais impactaram a cotação do dólar, afetando diretamente os preços internos", pontuou. Como muitos produtos brasileiros são exportados, a oscilação cambial impacta a disponibilidade de itens como soja, milho e carnes no mercado interno.
A importância da Conab e os estoques reguladores
Cararine destacou que a ausência de estoques reguladores de alimentos agrava a situação, tornando o mercado mais vulnerável às oscilações de oferta e demanda. "O Brasil tinha uma política forte de estoques reguladores. O governo comprava produtos quando o preço estava baixo, armazenava e vendia na alta para equilibrar o mercado. Bolsonaro acabou com isso", denunciou.
Ele defende que a recomposição desses estoques é essencial para estabilizar os preços e garantir segurança alimentar. "O governo precisa decidir onde a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) vai ficar – se no Ministério da Agricultura ou no Desenvolvimento Agrário – e fortalecê-la para que volte a atuar", afirmou.
O papel do Banco Central e da Petrobras
Cararine também criticou a atuação do Banco Central sob o comando de Roberto Campos Neto, destacando sua ineficiência no controle do câmbio. "No final do ano passado, o Banco Central não atuou para conter a valorização do dólar. Isso impacta diretamente os preços e poderia ter sido evitado", disse.
Em relação aos combustíveis, o economista ressaltou a importância da Petrobras na regulação dos preços. "A Petrobras manteve o diesel estável nas refinarias em 2024, o que ajudou a conter a inflação. Mas o problema é que o governo anterior vendeu a BR Distribuidora e a Liquigás, reduzindo o controle sobre os preços finais ao consumidor", criticou.
Alternativas para conter a alta dos alimentos
O economista ressaltou que, apesar do cenário adverso, a produção de alimentos no Brasil deve aumentar este ano, o que pode ajudar a conter a inflação. "Vamos bater recordes de produção de soja, milho e arroz. O problema é garantir que essa produção não seja totalmente exportada e fique disponível para o mercado interno", alertou.
Para isso, defende que o governo atue na regulação das exportações de produtos essenciais. "É necessário estabelecer cotas mínimas de exportação para garantir que parte da produção abasteça o mercado interno", sugeriu.
Por fim, Cararine enfatizou que o governo precisa retomar o papel do Estado na regulação dos preços e na segurança alimentar. "O Brasil precisa fortalecer a Conab, regular o mercado e garantir que as empresas estatais atuem para conter os preços. Somente com uma política pública estruturada conseguiremos reduzir os impactos da inflação sobre a população", concluiu. Assista:
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