"O câmbio é fundamental para resolver vários problemas da economia", diz Mantega
Ex-ministro critica juros altos, política monetária e instabilidade cambial em entrevista ao Boa Noite 247
247 - O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega afirmou que a política monetária do Banco Central e a valorização excessiva do dólar têm sido fatores determinantes para a desaceleração da economia brasileira e a alta da inflação. Em entrevista ao programa Boa Noite 247, Mantega alertou que a elevação da taxa de juros e a restrição do crédito devem impactar negativamente o crescimento em 2025, enquanto a volatilidade cambial segue pressionando os preços no Brasil. O ex-ministro também fez críticas à atuação do ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e destacou os efeitos das políticas do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na economia global.
Juros altos e crédito restrito travam crescimento
Mantega destacou que, apesar do crescimento econômico expressivo em 2024, a economia brasileira começou a desacelerar no último trimestre do ano, registrando um aumento do PIB de apenas 0,2%. Segundo ele, esse movimento já era esperado devido à escalada da taxa de juros.
"Está sendo dado um choque de juros na economia. A Selic já está em 13,25% e há previsão de que suba para 14,25%. Isso é um juro altíssimo, que tende a travar o crescimento", afirmou. Ele alertou que a restrição de crédito deve afetar o consumo e os investimentos em 2025. "O crédito cresceu 11% em 2024, mas os bancos já projetam uma expansão entre 4% e 8% para este ano, o que é muito pouco. Isso significa menos financiamento para empresas e consumidores, dificultando investimentos e a geração de empregos", explicou.
O ex-ministro criticou o Banco Central por manter uma política de juros elevados, que encarece o crédito e desestimula a atividade econômica. "Se o Banco Central insistir em manter os juros altos e não agir para controlar a valorização do dólar, os impactos serão negativos para a economia", disse.
O câmbio como fator de pressão inflacionária
Mantega apontou que a inflação fechou 2024 em 4,83%, dentro de um patamar razoável, mas que há projeções para uma alta em 2025. "O mercado projeta uma inflação de 5,6%, mas eu não acredito que esse número se concretize se houver um controle adequado do câmbio", afirmou.
Ele destacou que o comportamento do dólar tem sido determinante para a estabilidade dos preços no Brasil. "O que mais impacta a inflação no Brasil é a variação do dólar. Quando o real se valoriza, há um efeito deflacionário porque as importações ficam mais baratas e reduzem os custos da economia. O contrário também é verdadeiro: se o dólar sobe, os preços dos produtos e insumos importados aumentam, pressionando a inflação", explicou.
O ex-ministro criticou a atuação do Banco Central em 2024, que, segundo ele, contribuiu para a instabilidade do câmbio. "No ano passado, tivemos um aumento expressivo do dólar a partir de abril e maio, impulsionado por declarações do então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele começou a falar em descontrole fiscal e criou um ambiente de pânico no mercado, o que levou à valorização artificial da moeda americana", criticou.
Mantega argumentou que o governo deve agir para evitar uma valorização exagerada do dólar. "O Banco Central tem mecanismos para conter especulações contra o real e precisa atuar com mais firmeza para evitar distorções no câmbio", afirmou. Ele ressaltou que, nos primeiros meses de 2025, houve uma recuperação do real, mas que turbulências internacionais voltaram a pressionar o dólar para cima. "Nos últimos dias, o dólar voltou a subir por conta das loucuras do presidente Trump, que está promovendo uma desordem econômica mundial. Isso acaba tendo um reflexo direto no Brasil", alertou.
Trump e a desordem econômica global
O ex-ministro destacou que as políticas protecionistas e a postura errática de Trump têm gerado instabilidade nos mercados internacionais. "Nunca se viu um personagem como Trump na economia internacional. Ele está criando uma grande confusão que afeta diretamente os Estados Unidos e gera reflexos globais", afirmou.
Entre as medidas recentes do ex-presidente norte-americano, Mantega citou o aumento das tarifas sobre o aço brasileiro. "Isso já era esperado, mas a questão é se ele ampliará essas restrições para outros setores. Se ele dificultar a exportação de produtos agrícolas dos EUA para a China, o Brasil pode se beneficiar ocupando esse espaço, mas ainda é uma especulação", ponderou.
Ele também alertou para os riscos de uma recessão nos EUA caso Trump leve adiante todas as medidas anunciadas. "Se ele colocar em prática essas políticas protecionistas, a economia americana pode desacelerar e a inflação interna pode subir. Isso geraria uma reação negativa do mercado financeiro, que já registrou perdas expressivas nas últimas semanas", analisou.
O papel do Banco Central e os desafios para 2025
Ao abordar a política econômica interna, Mantega criticou a atuação do Banco Central e acusou a instituição de atuar contra o crescimento do país. "Hoje temos um Banco Central independente, mas que herdou uma política desastrosa do governo anterior. Roberto Campos Neto foi um bolsonarista de carteirinha e adotou medidas que prejudicaram o Brasil", afirmou.
Segundo o ex-ministro, a estratégia do Banco Central nos últimos anos foi elevar os juros de forma excessiva, mesmo quando a economia brasileira mostrava sinais de recuperação. "Eles perceberam que a economia ia bem e que o governo poderia colher os frutos disso. Então, a partir de abril e maio de 2024, começaram a espalhar pânico, criando um consenso de que era necessário subir a taxa de juros", criticou.
Sobre as perspectivas para os próximos meses, Mantega disse que a trajetória da Selic será decisiva para a retomada do crescimento. "Se o Banco Central interromper a alta dos juros e permitir uma queda gradual, poderemos ver uma recuperação mais forte em 2025", explicou.
Por fim, ele reforçou a importância de um controle mais firme do câmbio para evitar novas pressões inflacionárias. "O governo precisa jogar todas as suas fichas na valorização do real para segurar os preços e permitir uma política monetária menos restritiva. Isso ajudaria a reduzir a inflação sem a necessidade de manter os juros em patamares tão altos", concluiu. Assista:
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